Você anda pregando a Bíblia para sua Igreja?
O que me motiva escrever estas linhas são fatos que ocorrem aqui e ali, uns chegam diretamente ao meu conhecimento, outros são dedutíveis. Os assuntos aqui são os mais diversos. Todos visam o bom andamento da Igreja e refletem meu compromisso com a verdade. Se bem que hoje em dia está complicado ser sincero. Vamos falar de um assunto sensível, para dizer o mínimo: a exposição da Palavra de Deus nas igrejas.
Eu não sou pregador, nem preletor. Talvez não seja a melhor pessoa a traçar estas linhas. Mas na ausência dos que deveriam fazê-lo assumo o risco de ao menos alertar. Também não sou pedreiro, mas reconheço uma parede torta só de olhar. É que algumas coisas se cristalizaram em nosso imaginário e não se sustentam a luz da Bíblia e da lógica.
O primeiro problema diz respeito ao objetivo de cada culto. Círculo de oração difere radicalmente de doutrina. Na ausência de estudo bíblico, muitos expositores apelam para o movimento, muitas vezes com pouco de divino. Creio que Deus trabalha como quer, mas não se pode tomar a exceção como regra. É obrigação do escalado ao menos pensar no que falar. Rezam as boas práticas de homilética, que o preletor esquematize sua prédica através de pontos conexos e suaves, sem fugir do assunto, fornecendo conhecimento e doutrina para seus ouvintes. Ocasionalmente, faltou tempo ao pregador ou outras circunstâncias ocuparam sua mente. Não podemos, porém, confundir a misericórdia de Deus com leniência. Um dia a justiça divina se manifesta e você pode acabar exposto pelo seu desleixo com a Palavra de Deus, lendo-a somente ao sentar na cadeira do púlpito.
Outro ponto crítico é tomar a extensa citação de versículos como exposição de qualidade. Há bons preletores que se perdem citando um versículo por frase. Pior, há aqueles que sequer os explicam. Tudo de mais passa da conta, diz o ditado popular, que é plenamente aplicável à situação. Ainda há aqueles que citam versículos totalmente desconexos do tema proposto. Ao separar um texto, pince as palavras chave e faça sua pesquisa baseado nelas, é o mínimo que se exige. Selecione poucos versículos, especialmente, quando o tempo disponível for curto e extraia dos mesmos o que for mais relevante. Escolha passagens pequenas, a não ser que sinta dirigido a levar o auditório à leitura da Palavra ou se o culto é de doutrina. Em suma, portanto, o mais importante não é citar versículos, mas deixar uma mensagem.
Se o culto é de pregação, não esqueça que uma boa prática é transcrever os versículos para citá-los rapidamente. Isso evita traduções ininteligíveis e perda de tempo, quando não se lê uma passagem no lugar de outra. Se você tem um computador com impressora, faça uma lista dos versículos e vá citando de acordo com o desenrolar da pregação. Se tem uma memória boa, revise para evitar surpresas.
Eu estava na cidade de Itapissuma/PE, quando o Pr. Elis, que ali trabalhava, deu oportunidade a um pastor de Osasco. Não lembro o nome dele e deduzo que sequer era o pregador da noite. Por 45 minutos aquele homem pregou sobre a unção de Deus na vida de Davi. Não contei, mas acho que tenha citado mais de 50 versículos decorados, alguns dos quais salteados dentro de um mesmo capítulo, seguindo com perfeição as regras da homilética. Confesso que me senti movido a conferir as referências de tão surpreso que fiquei. Foi uma noite singular. Quando ele encerrou a pregação a congregação estava suspensa.
O que dizer da confusão em torno de exposição da Palavra com o exagero sobre usos e costumes? Há quem se preocupe em repassar à Igreja apenas e somente uma lista de costumes ou faz uma ginástica para adequar determinado texto ao que quer realmente dizer, o famoso pretexto. O pregador até pode expressar seu ponto de vista sobre algum assunto, só não pode distorcer a Bíblia para apoiá-lo. A esse comportamento se dá o nome de desonestidade intelectual. Há quem faça pior, canse o auditório com a lenga-lenga! Ouvi um grande mestre das Escrituras, Pr. Eliezer Lira, dizer que por vezes estamos tão ocupados em dizer o que as pessoas não deveriam fazer, que esquecemos de dizer o que deveriam. E assim estariam tão ocupadas em fazer o que deveriam, que faltaria tempo para fazer o que não deveriam. Entenderam?
Longe de mim afirmar que os usos e costumes de determinada Igreja não são importantes. A questão é querer dizer-se Igreja bíblica sem Bíblia, somente com cosmovisão. Quantas vezes seu pastor trouxe uma série sobre as doutrinas bíblicas? Teologia, Soteriologia, Cristologia, Pneumatologia, Angelologia, Família, Bibliologia são assuntos necessários a qualquer Igreja visando seu bom crescimento na graça e no conhecimento. Infelizmente, são matérias menosprezadas em muitas igrejas, em detrimento do tamanho da saia, da barba, do cabelo…
Alguns pregadores fazem questão de expressar sua ojeriza com a teologia. Ridicularizam um irmão que fala corretamente ou outro que é educado ao microfone. Deus usa o linguajar coloquial das pessoas, mas também usa o douto. O homem simples pode ser um excelente vaso nas mãos do Senhor, isso não prescinde da observação, da leitura bíblica e do estudo sistemático das Escrituras. Há tanta pretensão em ser brejeiro para ganhar o público, como em esbanjar conhecimento de maneira gratuita. Tive um pastor que fazia questão de me criticar após minhas pregações. O problema é que eu tenho o hábito de fazer um esboço. Quando eu sentava ele começava: Aqui é pão quente descendo agora, não é comida enlatada. Além de outras coisas é a mesma história de se ouvir um hino várias vezes, com a mesma letra e adorar do mesmo jeito.
Um último problema, que meu tempo não permite me alongar, é a questão da imitação. Quando Napoleão e Hidekazu Takayama ainda pregavam, após suas prédicas todos queriam imitar seus trejeitos. Há quem ouça ou assista às pregações com o único intuito de memorizar expressões e manias de alguns pregadores. É uma prática reprovável. Lembro de uma história, mais ou menos assim. Paul Young Cho pediu a Deus para ser como um dos grandes homens da Bíblia, citando nomes. Deus lhe respondeu: Eu já tive Abraão, Isaque, Daniel, só não tive ainda Paul. Seja você mesmo, eu vou te usar como és!
Essa de ” Aqui é pão quente descendo agora, não é comida enlatada” … rsrsrsrsrs.
É cada uma que se ouve kkkkkk.
Gostei do relato sobre Paul: Seja vc mesmo e te usarei como vc é.
Será que esta faltando isso em nós e no nosso meio???
Excelente texto.