Prezados leitores, já falamos aqui como, via de regra, a política partidária se assemelha ao modus operandi da liderança assembleiana brasileira: caciquismo, clientelismo, casuísmo, cultura oligárquica, nepotismo, vitimismo, megalomania, perseguição aos desafetos e outros males que nos afligem há décadas, dos quais nos tornamos réus. Há exceções? Há! Porém, de forma generalizada nos condicionamos a eles ao longo dos anos para sobreviver como igreja. O tempo vem mostrando que seus efeitos são piores do que imaginamos. É como o vinho novo em odre velho!
A razão de ser desse post é o COVID-19. É que em muitos lugares, infelizmente, a pandemia vitimou muitos pastores, alguns dos quais presidentes e lideranças. Há presidentes de grandes ministérios e de pequenos também. Como devem saber, pululam pelo País pequenos ministérios de três a dez, vinte congregações, que são presididos por um pastor. É uma realidade brasileira disseminada muito mais no Sul/Sudeste, mas nas últimas décadas tem chegado ao Nordeste.
Por vias tortas (e não há nenhuma celebração nessas colocações) abriu-se a oportunidade de renovação desses quadros com a morte desses pioneiros. Alguns deles estavam à frente desses trabalhos há 10, 20, 30 anos, impondo um ritmo personalista. Em muitos casos ultrapassado. Atenção, não estamos nos referindo a usos e costumes, mas à maneira como muitos desses líderes conduziam os rumos de seus ministérios. Sabemos como as coisas se processam entre nós. A CGADB é o molde para a maioria. Já falamos sobre este assunto.
O vento das mudanças sopra forte…
Ocorre que o tempo tem dado uma surra na denominação (também não há nenhuma celebração aqui, apenas uma dura constatação). As mudanças se impuseram e estão na ordem do dia. São pra ontem, como diz o poeta. A Era da Informação não fez muito bem aos líderes engessados acostumados à acomodação e a pandemia só piorou as coisas. Como diz outro pensador, quando a maré seca é a hora de ver quem está nu!
Muitos ministérios perderam receitas, outros perderam templos e influência. Em boa parte, a audiência física minguou. O que poderia ser compensado com mass media não deu certo. Aliás, nunca deu. Como já falamos, a AD brasileira é um case do que não fazer na moderna comunicação de massa. Há exceções? Com certeza!
O mais incrível é que há excelentes referências da era do rádio. Naquele interim a AD dominava a comunicação, havendo programas com boa audiência em todo o País. Não se pode dizer o mesmo da TV, nunca tivemos uma emissora nacional, digna do tamanho da denominação. E os programas sempre foram fracos em audiência. E até em produção. Já falamos aqui de como nunca conseguiram receita para se manter. E ainda hoje os que há se sustentam à base de dízimos e ofertas, enquanto a receita de emissoras comuns é bilionária.
Com a internet, leia-se: Youtube, Facebook, Instagram e outras mídias e redes sociais de abrangência internacional e custo baixíssimo, era de se esperar que a AD produzisse conteúdo de impacto. Mas alguma coisa deu errado e somos inexpressivos como instituição. É sintomático que denominações que não contam com 10% de nossa membresia tenham vídeos no Youtube com visualização expressiva. Os Mórmons, por exemplo, lançam há anos produções de Natal que alcançam milhões de views, uma após a outra, ano após ano! Até há iniciativas, mas elas malogram. Já falamos sobre isso aqui.
E se focarmos na educação teológica levamos surras homéricas dos presbiterianos, batistas, etc. Mas aqui pode haver alguma explicação por conta da inércia na produção intelectual, coisa que tem mudado, lentamente é verdade, mas há mudanças sensíveis.
E qual o problema, então?
Bom, o problema é que tem me chegado notícias, da rede nacional de contatos, nos vários grupos dos quais participo, de que os sucessores, embora mais jovens do que as antigas lideranças, tem mantido o status quo, ou seja, as coisas como estão. Claro que não é desejável uma mudança abrupta, mas cabe ao líder emitir sinais. E, se os há, até o momento não tem sido percebidos.
É mais ou menos como a política. As siglas se renovam, novas lideranças surgem. Mas o Brasil segue do mesmo jeito. O retrato perfeito é o chamado Centrão: caciquista, clientelista, casuísta, oligárquico, nepotista, megalomaníaco, interesseiro. Totalmente alheio à realidade. Assim como no eleitorado, entre os assembleianos a insatisfação é generalizada. A perda de membros se acentua a cada dia.
Jesus falou dos problemas que causa colocar vinho novo em odre velho. Na Antiguidade as pessoas o faziam por economia. O vinho novo arrebentava o odre. Em outras ocasiões se punha o odre no fogo para que o vinho fermentasse mais rápido. O couro do odre rachava. Cada coisa a seu tempo. E este é um tempo de grandes transformações. Ou se coloca o vinho novo num odre novo ou arrebenta.
Já passou da hora de termos novas lideranças. E não apenas na idade, mas na postura. Nações desenvolvidas da Europa são tocadas por políticos quase idosos! É uma questão de fazer da vanguarda uma característica das ações, deixando as velhas práticas no esquecimento. Não podemos nos acomodar sobre os louros do crescimento. Se tamanho fosse tudo, a Igreja Católica seria a melhor igreja do mundo!
Imagino que a frase que nos será imposta pela realidade é: “vamos fazer tudo diferente!” Ao contrário de: “fiz sempre assim e funcionou!”. Sorry! Não está funcionando. Esse trem está passando muito rápido e fica cada vez menos na mesma estação! Quem viver, verá!