Um capítulo sombrio para as ADs?
Leio na coluna de Mônica Bérgamo (grifo meu):
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) instalará um grupo de trabalho só para investigar a atuação das igrejas católica e evangélica no período da ditadura. Serão apurados não apenas o papel de religiosos na resistência à repressão e proteção a vítimas como também o daqueles que colaboraram com os militares.
Pelas informações que disponho não houve problemas diretos com a Assembleia de Deus enquanto instituição, a não ser a omissão diante do desparecimento de presos políticos. Dada nossa omissão política não é novidade. Claro, que sempre houve um ranço militar, beirando a admiração, além do adesismo sempre em voga entre nós. O que é a existência de tantas bandas (marciais) em nossas igrejas senão um eco do período? Muitos militares evangélicos flertavam com o regime e estavam submissos a ele. Por outro lado, seminaristas adeptos da Teologia da Libertação e outras iniciativas do gênero, não só militaram ao lado dos esquerdistas como simpatizavam com os regimes comunistas. Muitos foram perseguidos, presos e, alguns, mortos. Às igrejas não interessava tal flerte. O que era sensato, visto que os comunistas odiavam as religiões. Só pra esquentar o debate, porém, leiam este pequeno trecho de um artigo escrito por um pastor presbiteriano:
Nenhuma igreja evangélica reclamou, no Brasil, quaisquer dos pastores, seminaristas, presbíteros e membros comuns, que foram perseguidos, presos ou torturados pela ditadura. Exceção para a PCUSA [Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos], sendo Jaime Wright coordenador da Missão Central do Brasil, responsável por dezenas de igrejas presbiterianas. São verdadeiras as referências e muito mais amplas do que se pensa, como no caso do líder da juventude da IPB, membro da ecumênica UCEB – União Cristã de Estudantes do Brasil, Ivan Mota Dias. Ele foi preso e desapareceu em 1971. O reverendo Zwinglio, seu irmão, também preso, torturado e, posteriormente, exilado, lembra de observadores indo à sua igreja para saber do comportamento de outros presbiterianos. Esperavam que ele delatasse alguém, como vários fizeram. O caso que mais chamou a atenção das organizações cristãs protestantes do exterior foi o do presbítero Paulo Stuart Wright, da IPB de Florianópolis, SC, deputado cassado pela ditadura. Phillip Poter, secretário geral do CMI, tomou-o como símbolo entre os mártires protestantes sob as ditaduras militares na América Latina. Havia sido morto antes de 1973, provavelmente, como depôs dom Paulo Evaristo Arns, que ajudara nas buscas: “Sempre havia novas notícias dizendo que ele estava vivo; disseram que ele estava no Chile. Jaime Wright foi infatigável na procura do irmão”. As consequências dessa procura resultaram na maior movimentação em favor dos direitos humanos realizada no Brasil.
Leonildo Silveira Campos, teólogo presbiteriano e sociólogo, era um seminarista na IPI e ficou dez dias preso em 1969. Não se esqueceu de quem “evangelizava” e torturava ao mesmo tempo: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas”, dizia certo pastor batista e capelão do Exército, apontando a pistola debaixo do paletó. O assunto, porém, não se restringe a evangélicos delatores – incontáveis – e torturadores, que ninguém sabe como distinguir de outros que fizeram o mesmo: católicos, espíritas, umbandistas. Na verdade, foi responsável a sociedade repressiva e covarde que acomodou-se à ditadura. Mas é importante revelar o quanto as denominações evangélicas, sem nenhuma distinção, apoiaram e serviram o poder militar naquele momento.
De qualquer forma, anotem aí: as igrejas evangélicas correm o sério risco de saírem manchadas no rescaldo das apurações. Especialmente, porque os esquerdistas sempre nos olharam de maneira enviesada. Com a mídia fazendo as generalizações é uma questão, apenas, de tempo. Além disso, esta comissão não quer apuração, quer projeção. Quem for mais fraco…
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