Três sintomas de crise na liderança eclesiástica!
Há três sintomas de crise na liderança eclesiástica: má comunicação, asfixia da criatividade e má gestão dos recursos humanos e financeiros. Pensemos sobre isso!
Minha área de formação é Administração. Somos apresentados a manuais extensos, processos, procedimentos, métodos os mais variados. A intenção do curso é formar bons administradores, que saibam superar as crises de suas organizações, traçando as melhores estratégias e montando um curso de ação eficiente. Há algumas linhas mestras que perpassam todo o arsenal contido nos bons livros da área e defendido pela maioria dos teóricos. Ir contra elas é suicídio certeiro para as pequenas e as grandes organizações. Evidentemente, outros fariam uma lista diferente. Quem sabe até eu mesmo a faça com outros itens…
Má comunicação
Estas duas palavras resumem uma enorme quantidade de conceitos. Desde o entendimento do papel organizacional das igrejas (frequentemente, nos informam que denominações não acabam e a História está cheia de exemplos contrários a esta ideia) até dificuldades em transmitir planos para os subordinados. Quando os membros não sabem distinguir a igreja espiritual da organizacional podemos acusar sem temor a liderança. Ou é intencional ou estão despreparados.
A boa comunicação simplesmente comunica! Sejam os objetivos organizacionais, os planos estratégicos, portanto, de longo prazo, ou a mensagem cotidiana que o líder deseja transmitir. Tudo tem de fluir de forma transparente, direta e objetiva para todos, ainda que nem todos possam saber de tudo. Do contrário há gargalos e ruídos.
Note que muitas vezes as coisas não são nem chamadas pelo nome. Em pequenas igrejas e ministérios nem sempre há capital intelectual para conceituar corretamente, não há um computador ou softwares para fazer um projeto, mas a coisa flui tão acertadamente que todos se entendem. Como a própria Bíblia assemelha a igreja a uma esposa e seu relacionamento com Cristo ao casamento, não por acaso famílias são destruídas quando falta… comunicação! Quando marido e esposa não se entendem o diálogo acaba e o casamento caminha para o naufrágio.
Até mesmo questões tão díspares como autoridade e poder, ficam à mercê da boa comunicação organizacional. Sem saber quem é quem, se segue a todos e a ninguém, é o que dizem. Até mesmo funções básicas da Administração como planejamento, organização, direção e controle, são reféns da comunicação.
Então, os planos precisam ser claros, as ordens emanadas não podem ser dúbias, a hierarquia conhecida, as ordens seguidas, os procedimentos manualizados, as checagens periódicas, o aperfeiçoamento incansável, os erros admitidos, os problemas enfrentados, as dificuldades contornadas. A alternativa é gastar o dobro ou triplo de energia e tempo para alcançar, se alcançar!, o mesmo resultado.
A opinião respeitosa e bem colocada não pode ser tolhida sob hipótese alguma. Só lembrando que opinião é alguém tentar me convencer que o mesmo gato que observamos não é tão preto quanto afirmo. Já me convencer que é um pato, e não um gato, é burrice! Precisamos distinguir as duas coisas, mantendo o foco em ouvir a todos. Ninguém é tão sem importância que não possa contribuir para os rumos da Igreja enquanto instituição e/ou organização.
Asfixia da criatividade
Todas as organizações precisam de criatividade. Um fator envolvido em muitos aspectos da vida humana. A maioria esmagadora de nós odeia a rotina, as coisas repetidas, amamos a praticidade, mesmo que ela tenha um custo. Odiamos o desperdício e a falta de iniciativa. São regrinhas para uma igreja ou grandes ministérios com milhares de templos. Hoje quem não cria ou recria é atropelado.
Quem não lembra da galinha de granja (não sei como chamam Brasil afora)? Era vendida viva, comprada pelo olhar do cliente em gaiolas e assemelhados. Hoje só morta, inteira ou em pedaços a gosto do freguês. Até o nome mudou. Há alguns anos ninguém comprava ou vendia frango por aqui. Era galinha mesmo. E o coco seco (também não sei como chamam por aí) usado em muitos pratos por aqui? Só vende bem se ralado na hora para o cliente! Vai lá agora todos os pequenos barraqueiros nas feirinhas, etc, comprando seus equipamentos e atendendo ao gosto prático dos clientes. De delivery de gás de cozinha a comida, de polpa de frutas a livros digitais, há inúmeros exemplos de como as coisas mudaram rapidamente.
Fazemos (ou dizemos que fazemos) o melhor para Deus. Por que devemos ficar pra trás? Dias desses fui procurado por um irmão escandalizado. Certa igreja estava permitindo o depósito de ofertas e dízimos, outra cogitava disponibilizar uma máquina para debitar on-line. Fiz uma ginástica para demonstrar a praticidade na qual estamos inseridos e que não faria a menor diferença sacar, depositar ou debitar no cartão. O mais importante seria a gestão financeira adequada dos valores. Como chegaram às contas da igreja é um mero detalhe.
Má gestão dos recursos humanos e financeiros
Já falamos aqui sobre capital intelectual. Precisamos investir pesado nisso, seja gerindo, cultivando, incentivando ou retendo. Não se ganha massa crítica neste quesito do dia pra noite. Os judeus descobriram bem cedo que era fácil roubar-lhes o patrimônio. Isso aconteceu inúmeras vezes na História. Mas ninguém lhes podia roubar o saber, a educação.
Mas a gestão dos recursos humanos vai além. É preciso ouvir e estar rodeado das pessoas mais capazes, dando-lhes espaços efetivos na administração. Mormente alguns líderes fazem esta concessão, abrem este espaço, com medo, muito medo. Medo de serem ultrapassados ou eclipsados. Há líderes medíocres nas igrejas que ao menor sinal de que algum subordinado está tendo uma atenção maior da audiência já entram em parafuso e começam a buscar defeitos.
Anos atrás o board da CNN, então capitaneada por Ted Turner, votou por sua ausência do comando da empresa, permaneceria apenas como presidente do conselho de administração. Ele relutou, pensou estar sendo traído, mas, num rasgo de luz, acatou a recomendação. Um ano depois sua empresa havia dobrado de tamanho! O que contribuiu para sua decisão? O fato de que aquelas mentes brilhantes haviam todas sido recrutadas nas melhores universidades por ele!
Ainda falando de recursos humanos, nas igrejas, é urgente um tratamento adequado com o pecado. No momento em que escrevo leio notícias sobre a prisão de Carlos Ghosn, o presidente do conselho da Nissan, acusado de sonegação e fraude fiscal. No Japão não há concessões é o preço da profilaxia. Ou aprendemos com Jesus e condenamos energicamente o pecado ou perdemos as melhores vozes que não toleram tais pendores.
Em termos de recursos financeiros é inevitável pensar na transparência. Quanto mais quero esconder as transações da Igreja, mais suspeitas há, minando a confiança. Devemos ter total responsabilidade e não ter medo de provar nossa idoneidade, através de demonstrativos e documentos. Ainda mais quando se gere dinheiro alheio.
Gosto de colocar as coisas em termos simples: conhece aquele marido que esconde as senhas do celular de sua esposa? É o mais vulnerável ou já sucumbiu. Quem não deve, não teme, diz o adágio popular. Quanto mais transparência, mais o erro será inibido.
Não podemos, por outro lado, esquecer o equilíbrio entre receitas e despesas. É saudável e indispensável para a boa gestão. Claro que em tempos de crise a tendência é o desequilíbrio, mas o bom gestor não pode esquecer os bons princípios. Desequilíbrios constantes levam qualquer organização à bancarrota.
Reflita sobre estas poucas linhas!
Leia aqui sobre a Gestão do capital intelectual nas igrejas
Muito oportuno,este texto. Quem dera que os nosso lideres acordassem e colocassem em prática os ensinos contidos no mesmo! Chega de viver um faz de contas… faz de contas que existe transparência financeira.. e a caixa preta continua preta! Muitos lideres ficam arretados,quando um membro exige transparência nesta área, e são logos tachados de opositor da obra!