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Tópicos relevantes sobre o suicídio

Suicídio

Os últimos dias ficaram marcados pelo debate sobre o suicídio. Nas redes sociais a celeuma ganhou corpo com a divulgação de um vídeo do Pr. Augustus Nicodemus, calvinista, presbiteriano, defendendo que aqueles que uma vez salvos jamais poderiam perder a salvação, mesmo que num momento de desvario atentassem contra sua própria vida. A isto se juntaram outros posicionamentos de expoentes calvinistas.

Anos atrás compartilhei em minhas redes sociais uma carta do Pr. Caio Fábio, publicada em Ultimato, para a missionária Bráulia Ribeiro trazendo um breve tópico sobre o assunto. É que a Bráulia sentia-se culpada por não ter dado a atenção devida a um jovem se tratando do vício em drogas. Num momento de pressa ele se suicidou. Caio Fábio então escreveu para dizer o seguinte:

O Alexandre, sim, o do salmo, o que buscava consolação onde há consolação, era apenas um jovem em estado de perturbação adquirida pelo vício. Não era filho do inferno.

Nenhum diabo teve o poder de tirar o Alexandre das mãos do Senhor Jesus! Assim como nenhum diabo tentará (e vencerá) vocês com a culpa de que poderiam ser os salvadores do Alexandre e não o foram.

Na minha parca visão o assunto não está tendo a discussão mais adequada. Os arminianos se ocuparam, via de regra, em condenar peremptoriamente os suicidas, com base na história de Judas, Êxodo 20:13 (Não matarás), I Coríntios 3:17 (Aquele que destruir o templo de Deus, Deus o destruirá) e por aí vai. Penso que o radicalismo entre as duas vertentes embota a verdadeira discussão a ser feita.

Onde está o desfoque?

Primeiro, em não compreender que o suicídio é muito mais complexo do que parece. Não se trata apenas de efeito, mas de causa. Os dados indicam que a idade crítica vai dos 17 aos 30 anos, foco na classe jovem, mas há muitos adultos que já tentaram por um fim à vida. Seja por desilusão amorosa (tendência principal do público feminino), pressão familiar (no caso dos gays que saem do armário, por exemplo), dívidas, desemprego, ansiedade, depressão, doenças crônicas, incuráveis e/ou terminais, indução religiosa e um sem número de fatores.

Em segundo lugar, vivemos numa sociedade que busca responsabilizar os outros. Aliás, essa tendência vem do Éden. Quando Deus enquadrou Adão, ele disse: “Foi a mulher que tu me deste!” Esta por sua vez: “Foi a serpente!”. Vivemos e respiramos transferência de culpa. Muitos suicidas culpariam pais, mães, irmãos, namorados, etc. Bem poucos assumiram sua própria parte no problema.

Recentemente, uma série do Netflix explorou essa vertente. 13 Reasons Why busca identificar os culpados pelo suicídio de uma bela garota. Seja ignorando seus sinais ou concorrendo diretamente para o desfecho maligno.

13 Reasons Why

Apesar do excelente alerta a série se limitou a colocar seus telespectadores como cúmplices do clamor de alguém que estava sucumbindo. Outras produções estão até glamorizando a morte imposta a si mesmo. Até poucos dias o jogo Baleia Azul arregimentava seguidores, especialmente, jovens e adolescentes e, através de manipulação cibernética, induzia os incautos a tirar sua própria vida.

Em terceiro lugar, muitos tem ressaltado a culpa da Igreja. Pastores estariam ignorando os sinais de tendência suicida, etc. É verdade que as igrejas em geral estão totalmente despreparadas para enfrentar o problema. Apesar de ser um problema espiritual, suas nuances são muito mais complexas.

Entendo que o Diabo se encarrega se potencializar os problemas nas pessoas que tem tendência a tirar sua própria vida. Daí a responsabilizar o pastor, descontados os desleixos típicos de nossos dias, não passa de transferência de culpa. Esse problema, aliás, se manifesta em outras áreas. Hoje até se um menino é mal educado, se joga a responsabilidade na Igreja.

Evidentemente, se cremos que o problema é basicamente espiritual a Igreja deve orar e apoiar pessoas em situação de risco. Aquelas que, eventualmente, estiverem preparadas com um corpo de psicólogos e psiquiatras devem oferecer ajuda maciça. Mas isso não exime os demais atores.

Em quarto lugar, vivemos num mundo onde cresce o número de pessoas desajustadas, mal amadas, sem referência familiar, totalmente desestruturadas. As pressões sociais se potencializam. E acabam concorrendo para um alto número de suicídios. Basta olhar para o Japão, uma sociedade rica e desenvolvida, mas que detém recordes alarmantes. Segundo a BBC, em 2014 foram 25.000 suicídios, a maioria homens.

Em quinto lugar, não podemos esquecer que quem dá a vida é Deus. Ele detém o poder de tomá-la. Não delegou isso a ninguém. O próprio Jesus afirmou: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10:28). Absolutamente ninguém pode colocar um fim à sua vida sob qualquer pretexto.

Discordo radicalmente, portanto, do argumento calvinista radical, aquele que prega que uma vez salvo, mesmo que suicidando-se não se perde. Aliás, discordo que uma vez salvo, salvo para sempre. Penso que a Bíblia é muito clara em Daniel 12:13, por exemplo. Porém, faço duas ressalvas: a) Se o suicida teve tempo para arrepender-se de seu ato tresloucado, com consciência, pediu perdão, poderá ser salvo; b) No caso do suicídio decorrente da esquizofrenia e doenças mentais afins devemos analisar aqueles em que o paciente não tem consciência de seus atos.

Conclusão

Estamos apenas arranhando no verdadeiro debate que é salvar as pessoas com tendências suicidas, ensinando-as a se responsabilizar por seus atos. Ainda está em vigência o versículo que diz: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7).


Falamos aqui e aqui do jogo Baleia Azul

Para ler a carta do Pr. Caio Fábio à missionária Bráulia clique aqui

BBC

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