Tempos trabalhosos
Prezados dez leitores, diz 23/01, publicamos aqui um post sobre a declaração da ministra Luiza Bairros, ecoando o Notícias Cristãs e outros portais evangélicos. Ela disse o seguinte, na ocasião, jogando para uma platéia amestrada:
Alguns setores, especialmente evangélicos pentecostais, gostariam que essas manifestações africanas desaparecessem totalmente da sociedade brasileira, o que certamente não ocorrerá. Nós queremos fazer com que essas comunidades também sejam beneficiadas pelas políticas públicas.
A reportagem prossegue, e eu repliquei no blog, evidenciando o nível terrorista das colocações da ministra:
A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, disse nesta segunda-feira que os ataques às religiões de matriz africana chegaram a um nível insuportável. ‘O pior não é apenas o grande número, mas a gravidade dos casos que têm acontecido. São agressões físicas, ameaças de depredação de casas e comunidades. Nós consideramos que isso chegou em um ponto insuportável e que não se trata apenas de uma disputa religiosa, mas, evidentemente, uma disputa por valores civilizatórios’, disse ao chegar ao ato lembrando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo
Não fora a indigência em que se encontra a igreja evangélica brasileira, especialmente a Assembleia de Deus, por ser a maior denominação, que a esta altura só pensa na eleição em abril, tal declaração seria alvo de repúdio imediato e incisivo. Evocando a Lei 12.527/2011, solicitei informações (texto abaixo) à Secretaria sobre aonde estariam acontecendo os tais ataques. Continue lendo:
Prezados Senhores,
Li no noticiário que a ministra Luíza Barros, participando em ato na cidade de São Paulo, no dia de ontem, 22/01/2013, mencionou que as denúncias de agressão religiosa estão crescendo. Segundo ela “são agressões físicas, ameaças de depredação de casas e comunidades”.
Como líder religioso gostaria de ter acesso às denúncias recebidas por esta Secretaria. Quantas foram? Originadas aonde? Em que circunstâncias? Quem foi agredido? Em quais localidades? Em que cidades estão se dando as ameaças de depredação de casas e comunidades?
Agradecemos a presteza e o atendimento à Lei 12.527/2011
Àquela altura do campeonato, eu já imaginava uma das supostas ações do celerados evangélicos, altamente letais contra terreiros de umbanda. Pimba! Vocês devem saber o que está no relatório que me enviaram como resposta: a invasão do terreiro em Olinda!
Para os que chegaram agora, um resumo:
1) A Assembléia de Deus em Olinda promoveu um desfile evangelístico, em cujo roteiro estava um centro de umbanda (assim como um centro de umbanda promovesse um desfile fatalmente passaria em frente à uma AD, a rua é par ao uso comum, ok? o que não se admitiria seria a igreja incitar um confronto em frente);
2) O evento foi um desdobramento de um projeto proposto para os jovens, chamado ProjeFérias, promovido pela CONADEPE;
3) Durante o evento, que acontece nas férias de junho, há estudos bíblicos, gincanas, vigílias e cultos diversos, entre eles um desfile;
4) Os irmãos tiveram a sorte de passar na frente do terreiro, justo no horário em que havia uma cerimônia ritual do candomblé, que havia iniciado bem cedo;
5) À tarde alguém da comunidade tinha feito uma denúncia de magia negra à Polícia, que foi até o local e investigou o ocorrido, mas não encontrou nada que configurasse a denúncia;
6) Não houve agressão, nem violência, nem batida em portão. Nem qualquer ataque verbal, a não ser que o babalorixá tenha compreendido desta forma ao ouvir os hinos, perturbando sua paz;
7) Ele, o babalorixá. fez um barulho na imprensa, no MP, etc. Sabem como estas coisas encontram eco em nossos tempos…. E a denúncia chegou à SEPPIR, que não se incomodou em procurar saber o que está, de fato, acontecendo. Eles querem apenas um emblema, não é?
Clicando aqui você encontra um vídeo do acontecimento. E das agressões sofridas (note que ele está com a camisa rasgada, todo ensanguentado. Ah! Como eles queriam que fosse assim…).
Outro caso, aqui de Pernambuco, aconteceu na cidade de Brejo da Madre de Deus na mesma semana. Um grupo de pessoas, adeptos de religiões afro, sequestrou, estuprou, matou e esquartejou uma criança, em um ritual de magia negra. A população depredou o centro aonde se reuniam e destruiu suas casas. Nada a ver com igrejas e evangélicos, muito menos com perseguição religiosa. Mas, incrivelmente, a SEPPIR registrou o caso como intolerância! Lembram como já lhes falei da fabricação de estatísticas para o lobby homofóbico? Algo semelhante ocorreu, denunciando um método de trabalho.
Em reposta à minha solicitação, eles me enviaram um relatório absurdamente vago sobre as supostas agressões. Lá tem de tudo. Invasão de terra quilombola? Agressão à religião deles! O que é que tem a ver? A SEPIR acha que tem e põe no relatório. Despejo de casa de umbanda por inadimplência? Agressão à religião! Invasão de território indígena por peruanos, perturbação do sossego por terreiro, inadequação física de templos, desvio de cestas básicas, tudo é perseguição religiosa.
A cereja é que na reportagem que cobriu o evento da fala da ministra, ela deu conta do aumento em 700% das denúncias, mas no relatório que me foi enviado, que tem, portanto, peso legal, há 24 denúncias em 2011 e 23 em 2012.
Se nossa igreja tivesse uma representação digna do nome, esta ministra e o Governo que ela representa seria interpelada nas instâncias adequadas. Além dos veículos de reportagem que deram curso às informações sem uma checagem correta e sem apresentar o outro lado da questão. Mas, como diz o Reinaldo Azevedo, o jornalismo anda em crise moral, não devemos esperar muita coisa. O que diremos da igreja?
Por oportuno, tentarei enviar as informações do relatório com os meus questionamentos para a CGADB, para a CONADEPE, para a COMADALPE e para os deputados federais e senadores que se dizem representantes evangélicos. Vou ver se consigo ânimo para isto…
Vamos ver… o relatório-resposta da SEPPIR está aqui.
Caro Daladier:
Conte com o meu apoio.
Lamento profundamente que nossas convenções não sejam proativas em situações assim. Moro em Teresópolis há loooongos anos e não me lembro de nenhuma agressão contra os adeptos dos cultos afro-brasileiros! Pode haver casos isolados e espaçados, no Brasil, mas não são a regra.
Há, sim, evangelização e mediante o direito constitucional de ir e vir, a liberdade de expressão e a liberdade de culto, todos os que forem tocados pelo evangelho têm o livre direito de escolherem a fé cristã sem nenhuma restrição legal. Isso jamais pode ser tolhido.
Mas o que se observa é uma ação orquestrada, com a devida anuência do governo, para inibir a voz cristã e ter também o controle sobre as religiões. Só não enxerga quem não quer.
Exemplo disso é o da psicóloga Marisa Lobo, que está sendo pressionada pelo Conselho Federal de Psicologia a retirar de seus perfis nas redes sociais qualquer alusão a sua fé cristã, enquanto o presidente do mesmo Conselho professa o Candomblé e explicita isso com a maior desenvoltura nas mesmas redes sociais.
No que puder ajudar, conte comigo.
Abraços