SUICÍDIO PASTORAL
Um artigo que eu gostaria de ter escrito…
Por Izadil Tavares
Chega-nos notícia triste e preocupante: num període 30 dias, três pastores evangélicos suicidaram-se nos Estados Unidos. Como sobre qualquer fato trazido à tona, chovem comentários de toda espécie; uns, que merecem reflexão, e outros completamente dispensáveis.
Creio que o primeiro ponto a lamentar não é a condição, digamos, profissional daquelas pessoas, mas o fato de serem nossos semelhantes, seres humanos, homens. Claro que a atividade que exerciam leva-nos a um segundo ponto a lamentar, uma vez que tinham a tarefa de conduzir almas.
Se levarmos em conta a questão de sua humanidade, a explicação daquelas ocorrências tornar-se, de certo modo, compreensível: a causa foi doença. Doença do equilíbrio emocional, que, talvez, a Psiquiatria e a Psicologia possam ajudar a esclarecer. Quem se suicida não está sadio; não está no domínio adequado à normalidade da existência. Logo, os três pastores foram, no mínimo, vítimas do desequilíbrio emocional. Como não sou experto nas matérias que se aplicam a determinar causas psiquiátricas, nem psicológicas, calo-me, entristecido pela perda de semelhantes.
Agora, um ponto crucial: os suicidas eram pastores evangélicos. Sabe-se que o exercício da função pastoral impõe a condição de guia, de condutor de almas nos caminhos do evangelho. O pastor é, ao mesmo tempo, “guia” de almas, “enfermeiro” de corações, “professor” de incautos, “pai” de aflitos, “amigo” de “isolados”. O pastor tem de ser o “profissional da inclusão”. Como entender que abandone suas ovelhas e pratique ato tão devastador?
Imaginemos o peso das responsabilidades que coloquei sobre os ombros de um verdadeiro pastor. Aqui não faço qualquer referência aos milhares de mercenários que há por aí. Trata-se de uma carga pesadíssima para qualquer ser humano. Isso justifica que se desequilibrem ao ponto do suicídio? Claro que não.
Vivemos uma época em que as pessoas são excessivamente cobradas quanto àquilo que fazem. Com a atividade pastoral a pressão não é menor. O pastor está constantemente sob os olhares das ovelhas (que não são tão ovelhas assim). Em muitas igrejas modernas o pastor não passa de um funcionário pago para “exercer bem” o seu papel. O pastor saiu da condição de líder em sua comunidade para a condição de liderado por uma administração eclesiástica, pronta para substituí-lo, se “necessário”.
Por outro lado, há sistemas em que os pastores passaram a ser executivos; espécie de empresários voltados para o crescimento de seus “ministérios”. Por isso, não repartem responsabilidades, acumuilam funções, resolvem todas as questões relativas às “suas” igrejas. Esses tais, por força do rumo de suas atividades, paulatinamente se desviaram de serem “enfermeiros” de corações, “professores” de incautos, “pais de aflitos”, “amigos” de isolados”, para serem “diretores” de um sistema que, sem dúvida, lhes afogará a condição de seres humanos e, principalmente a condição de “servos de Deus”. Assim, já não têm tempo para uma “igreja”, para seus membros, pois estão envolvidos com a avidez de “ampliarem suas estacas”.
Que trajeto fazem esses homens? O mesmo trajeto de grande parte dos executivos mundanos, cujo coração não suporta a pressão dos negócios e sucumbem aos infartos, aos AVCs, aos cânceres, quando são felizes. Os infelizes metem uma bala na cabeça, infelizmente.
Não me ponho a julgar aqueles três pastores americanos; não conheço a história deles, mas não posso deixar de trazer essas observações. Como já manifestei, as causas dos suicídios podem ser explicadas pela Medicina, assim,esses atos podem ser causados pore enfermidades mentais ou não.
Todavia, não seria bom se nossos pastores meditassem nisso? Não seria bom se dividissem um pouco suas cargas administrativas, fazendo o que fizeram os discípulos que deram início ao trabalho eclesiástico? Aqueles pastores tiveram bom senso: reunidos concluíram pela necessidade do diaconato (At 6. 1-7).
Também a igreja moderna poderia se voltar para o modelo primitivo: “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (At 4.32).
Não se trata, necessariamente da distribuição absoluta dos bens materiais; mas, trata-se da necessidade de repartir e de assumir responsabilidades que não pesem demasiado sobre os ombros deu um ou de dois.
Vamos rever nossos caminhos, antes que ocorram infortúnios irreparáveis para pessoas e para a Igreja!
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