Prezados 300 leitores, reportagem do portal UOL relata que jovens de 15 a 29 anos estão se matando cada vez mais. O assunto é delicado e exige uma postura firme da Igreja. Vamos pinçar algumas colocações da reportagem, ipsi literis, e fazer os contrapontos e links com a nossa realidade.
Segundo o Mapa da Violência divulgado em abril, entre 1980 e 2014, houve um aumento de 27,2% no número de suicídios dessa faixa etária. E chegando ao final de 2017, ano em que passamos pela Baleia Azul e séries como “13 Reasons To Why”, que trouxeram à tona o tema na esfera adolescente, a questão que fica é: por que pessoas que estão começando a vida querem acabar com ela?
Como o assunto é vergonhoso para a família e sempre sobram mais perguntas do que respostas, muitos casos são subnotificados. Obviamente, os especialistas estão atônitos e preocupados, tentando compreender o que acontece. A reportagem aponta a tecnologia e as relações familiares frágeis, como causa principal. É consenso entre os especialistas. O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Baumer, que faleceu em janeiro deste ano, já anunciava: “vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”.
A terapeuta ocupacional e pós-doutora em saúde coletiva Fernanda Marquetti acredita que o suicídio é um produto do que acontece socialmente dentro de uma cultura. Se estamos tão tecnológicos, pode estar aí a resposta das mortes. “Claro que esses jovens não estão se matando porque todos começaram a ter transtornos psiquiátricos. O mundo caminha para um esvaziamento cada vez mais profundo das relações, os adolescentes não conseguem se relacionar fora do mundo digital. As tentativas e os suicídios aparecem como expressões máximas dessa dificuldade”, fala a professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A Bíblia reafirma ao longo de suas páginas a família como esteio da sociedade. Mas o que acontece hoje? Desrespeito aos pais, filhos independentes, distrofia funcional, ausência de referenciais e de laços afetivos. O resultado não é outro, senão o completo desnorteamento dos nossos jovens, numa fase de definições e indefinições. A TV passou anos mercadejando uma família totalmente diferente da tradicional e agora é preciso lidar com o resultado desse comportamento. Novelas, por exemplo, buscavam e buscam moldar o pensamento coletivo, elevando traços negativos do caráter de seus atores e, infelizmente, a vida imitou a arte da pior maneira possível.
Se essa geração nasceu com a tecnologia e o contato é inevitável, precisamos de educação para lidar da melhor forma com ela. “Estudos mostram que a busca pelo like é tão viciante como droga, principalmente para o cérebro em formação, como é o caso do jovem até os 21 anos. E eles são menos capazes de racionalizar. Não é que todos sejam inconsequentes, mas há uma impulsividade maior”, afirma psicoterapeuta Karen Scavancini, autora do livro “E Agora? Um Livro para Crianças Lidando com o Luto por Suicídio” (AllPrint Editora).
Outros fatores apontados pela reportagem é o sentimento de pertencimento e o cyberbulling. O primeiro exige que o adolescente esteja antenado com as redes sociais e a tecnologia em geral. O segundo amplia humilhações que antes se restringiam ao pequeno ambiente escolar. Agora não há limites para a amplitude de um apelido ou situação vexatória.
A tendência entre jovens americanos de postar e compartilhar nas redes sociais mensagens abusivas sobre si mesmo de forma anônima já é preocupação para os especialistas no Brasil. Em um estudo recente com mais de 5 mil estudantes nos Estados Unidos, com idades de 12 a 17 anos, um em cada 20 revelou ter praticado a automutilação digital.
“Eles não encontram o próprio lugar, precisam lidar com pressões sociais, rankings escolares….. E o jovem não questiona o que vê nas redes sociais. Quanto mais horas ele passa ali, vendo vidas perfeitas, maior o a chance de depressão e suicídio. Fora a falta de interação, exercício físico, programas em família”, fala Karen.
O apego às redes sociais traz outro problema: a ausência de diálogo entre as famílias. Já não se conversa à mesa, por exemplo. Estamos imersos na navegação e verificação de mensagens, muitas das quais dispensáveis. Em muitas igrejas seus jovens, apesar de imersos nas tecnologias disponíveis, jamais foram ensinados sobre seus riscos.
Uma nota paralela vai aqui para o neoconversos à tecnologia. Aquela geração que por décadas esteve excluída, seja pela dificuldade de aquisição tecnológica ou por endossar outros valores. Não é incomum, agora, perfis sociais de quarentões. Alguns dos quais, pasmem!, estão em busca de relacionamentos nas grandes redes sociais do segmento. Ela também corre grandes riscos.
A liderança eclesiástica pode pensar que é algo casual, mas eu lembraria que o Facebook foi lançado em 2003! E desse então só cresce. Possui neste dezembro de 2017, nada menos que 102 milhões de usuários. Noventa e três milhões deles acessam a rede social por algum dispositivo móvel. O Instagram tem seus 50 milhões. Então, a tendência são as redes se adensarem entre nossos membros. O que certamente haverá é a maneira cada vez mais imersiva com que iremos interagir com ela.
Precisamos discutir o tema, aliás, os temas, são tantos não é? Não nos assustemos, fomos chamados para ser sal e luz, mas o mestre não disse em que contexto. São duas coisas tão imperceptíveis e disseminadas que não há como limitar seu espectro. Só não podemos fazer essa discussão sob certos vieses que por vezes mais atrapalham do que ajudam. Ainda é recorrente a resistência em convidar especialistas no assunto para exposições nas igrejas, por exemplo. Via de regra, um pastor mais interessado pesquisa e expõe para a plateia, quando o ideal seria ouvir um especialista em saúde (e os há em nossas igrejas, basta procurar) e fazer os links com a Palavra de Deus.
Segundo a OMS 90% dos casos de suicídio seriam evitáveis. Como? Através do diálogo, da compreensão de que somos fracos. A Bíblia nunca omitiu que o poderoso Elias desejou morrer, por exemplo, mas se o profeta fosse um pastor que confessasse à sua congregação não ter aguentado a pressão do chamado, seria abandonado!
Por fim, a reportagem dá uma notícia alvissareira e que merece nossos aplausos, especialmente, por ser encabeçada por um evangélico, o senador Magno Malta. Creio que igrejas sérias deveriam se envolver na distribuição de tais livretos:
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Maus-Tratos em Crianças e Adolescentes do Senado apresentou na última quarta-feira (13), três cartilhas de prevenção contra o suicídio, a automutilação, o bullying e o cyberbullying. O objetivo é orientar pais, responsáveis e professores. As cartilhas serão distribuídas nacionalmente e estarão disponíveis online.
O senador Magno Malta (PR-ES), presidente da comissão, disse que a estrutura do projeto foi pensada para ser clara e acessível e, por isso, está apresentada no formato de perguntas e respostas. “O suicídio é a terceira maior causa de mortes entre crianças e adolescentes no país”, disse Malta.
Um outro papel fundamental da Igreja é apoiar os familiares do suicida. Mormente as pessoas se afastam da família ou a criticam tentando identificar as causas entre seus membros. Foi falta de atenção da mãe? Foi o pai violento? Enfim, são testadas várias hipóteses enquanto as famílias sofrem. Não podemos colocar mais uma carga além da perda de um ente querido, sobre eles.
Reportagem do UOL aqui