Por José Gonçalves*
Há alguns dias encontrava-me em uma livraria evangélica na cidade de Teresina, Piauí quando uma das funcionárias se aproximou e perguntou-me se eu iria participar de uma palestra sobre Suicídio que seria proferida pelo reverendo Hernandes Dias Lopes. Informei que não, mas que já conhecia o pensamento do palestrante sobre o assunto porque já havia lido seu livro: Suicídio – causas, mitos e prevenção.
A jovem ficou interessada no que eu pensava a respeito e eu informei-lhe que achei o livro muito prático em determinados aspectos, mas imprecisos em outros. Falei-lhe que a questão da responsabilidade moral era um dos aspectos, que a meu ver, não casava com o pensamento bíblico. Em outras palavras, um suicida é ou não culpado por dar cabo à própria vida?
Os argumentos de Lopes podem ser conhecidos nas suas respostas as duas perguntas especificas que ele dá sobre o assunto.
Na primeira pergunta: Um suicida pode ir para o céu?
Lopes responde: “Suicídio e salvação não são realidade mutuamente exclusivas. Não afirmamos que todo suicida está salvo. Isso é puro engano. A salvação não é recebida pela prática das boas obras nem pela ausência deste ou daquele pecado. A salvação nos é dada pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo. O que afirmamos é que uma pessoa salva pode chegar a tal estado de enfermidade mental, a tal grau de depressão, a tal pressão psicológica a ponto de desesperar-se da própria vida e suicidar-se”. Cita como exemplo o texto bíblico que diz “que nem os loucos errarão o caminho (Is 35.8) e Romanos 8.38 que diz que “nem a morte pode nos separar do amor de Deus” (pp 195, 196).
Primeiramente deve ser dito que um louco não está na mesma categoria de um suicida. Um louco não quebra nenhum mandamento por ser louco, mas o suicida, sim, quebra o sexto mandamento (Ex 20.13). Por outro lado, dizer que Romanos 8.38 se aplica em relação ao suicídio é forçar o texto a dizer o que ele não diz. Esse é um fato confirmado quando ficamos sabendo que o apóstolo Paulo, autor de Romanos, considerava o suicídio um mal e não um bem: “O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia SUICIDAR-SE, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo bradou em alta voz não te faças nenhum MAL, que todos aqui estamos” (At 16. 27,28).
Na segunda pergunta: Como fica o caso de uma pessoa que se diz salva, mas, em estado de depressão, tira a sua vida, quebrando, assim o sexto mandamento da lei de Deus, que diz: “Não Matarás”?
Lopes responde: “Uma pessoa salva, por causa de uma depressão, chegue a ponto de ceifar a sua vida, transgredindo o sexto mandamento, isso não anula a perfeita e eficaz obra de Cristo realizada na cruz a seu favor” (pp 196, 197).
Antes de chegar a essa conclusão, Lopes reconheceu a sua dificuldade em responder a essa pergunta: “Essa não é uma questão simples. Temos que ter a humildade para saber nossa limitação. Há verdades claras nas Escrituras para as quais podemos ter posicionamentos seguros. Todavia, há questões difíceis de discernir”. Essa dificuldade de Lopes, a meu ver, se deve não a falta de fundamentação bíblica sobre o assunto, mas à sua crença na doutrina calvinista da segurança do crente. Ainda no início da sua resposta a essa pergunta ele assume que uma: “Verdade incontestável ensinada na Bíblia é que a salvação não se perde. Uma vez salvo, sempre salvo” (pp196). A conclusão parece lógica: Se alguém é crente, portanto, como afirma a doutrina calvinista, está para sempre salvo, então ele não pode perder a sua salvação, mesmo que ele quebre o sexto mandamento, vindo a suicidar. Talvez essa conclusão seja psicologicamente correta, mas teologicamente ela está equivocada. Está errada pelo simples fato das Escrituras Sagradas afirmarem que um salvo pode sim se desviar e consequentemente perder a sua salvação (Hb 2.1; 6.4-6).
Por isso pense bem antes de tentar fazer alguma besteira!
* José Gonçalves, é pastor, escritor, bacharel em Teologia pelo Seminário Batista de Teresina e graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí.