Hoje é o Dia das Crianças. Feriado nacional. É hora de pensar nelas. Pensar no futuro. Uma pergunta, entre tantas outras, se impõe: Sua Igreja, agência de Deus na Terra, cuida bem das crianças? Vamos a algumas questões. Leia, analise e depois tire suas conclusões.
Em primeiro lugar, as crianças nascem. Isto é fato. Aliás, é o argumento principal contra o aborto: quem é a favor já nasceu! Mas há lugares adequados para a amamentação na Igreja? Se queremos as mamães em nossos templos precisamos pensar a respeito. Construímos duas igrejas e reformamos outra, há pouco tempo, numa área em que trabalhávamos. Na fase de projeto nos preocupamos com uma notícia veiculada na mídia a respeito da multa imposta a uma igreja, que não deu a segurança adequada a uma criança no berçário e ela foi raptada[1]. Na ocasião optamos por não construir uma área específica para berçário, mas criamos, dentro de nossas limitações orçamentárias, amplos espaços para tal. De maneira que as mamães pudessem utilizá-los com tranquilidade.
O que dizer da altura do som em sua Igreja? Ela está compatível com o sensível ouvido dos bebês? Ou está adequado para os ouvidos daquele baterista fenomenal, que já destruiu o tímpano? Crianças choram quando o som está alto. Ou quando ele dá microfonia. O sistema de som de sua Igreja tem o mínimo de qualidade para atender a este pré-requisito. A sociedade brasileira fica mais surda a cada dia com o uso de headphones e assemelhados. Não devemos da contribuição alguma a este problema!
Em segundo lugar, as crianças crescem. E vão para os cultos. Há cadeiras de tamanho adequado? Ou se achou que era caro comprá-las e não se encontra uma reles cadeirinha para elas? Às vezes o problema é prioridade. Fiz uma reunião com diversos líderes das três congregações em que trabalhamos. Todos juntos no mesmo dia. Dei a palavra aos participantes… A dirigente do Círculo de Oração Infantil pede: “Precisamos de cadeiras. Por que não há dinheiro para isso?” Fizemos umas contas rápidas. Temos oito orgãos, que aniversariam todo ano. Multiplique por três igrejas. Fazem em média 50 convites ao custo de R$ 2,00, em média. Pensemos: 8 x 3 x 50 x R$ 2,00 = R$ 2.400,00. Para convites que serão rasgados e jogados no lixo, tão logo passe a festividade. Ainda que guardados não teriam utilidade alguma.
Em terceiro lugar, o culto infantil. É uma ferramenta importante para levá-los a cultuar hoje em dia. Exatamente isso. Se só as leva a brincar, culto não é! Outro problema é que as mesmas tias ficam encarregadas delas e não cultuam. Fazíamos por onde, ao menos uma vez no mês, as crianças estarem perto dos pais e cultuar conosco. Os pais precisam ordenar seus filhos no culto e as tias precisam cultuar. E elas aprender como cultuar com os adultos. Normalmente, os pais jogam o fardo sobre elas e querem cultuar em paz. Quem pariu Mateus que cuide dele, diz o ditado popular. Então, os pais não podem fugir à sua responsabilidade.
Somos quatro irmãos lá em casa. Às 18:00h já estávamos a caminho da congregação, lavados, limpos, asseados. O culto era respeitado. Ninguém ia ao banheiro, exceto se doente. Antes de sairmos minha mãe se encarregava de certificar-se que as necessidades haviam sido feitas. Ninguém tomava água. Ela também cuidava disso. Ao chegar, sentávamos dois de um lado, dois do outro. Ninguém ficava correndo pra lá e pra cá, muito menos do lado de fora do templo. Está com sono? Dormíamos escorados até o final do culto. Assim crescemos…
Em quarto lugar, corta para a EBD. Pra começar, temos o problema da falta de departamento, um espaço adequado para as classes. Mas, vamos escolher uma professora para as crianças? Critérios: paciência com pequenos, que fale bem alto para se sobrepor à gritaria, que tenha jeito com elas, que crie brincadeiras, que saibam entretê-las… Mas, espere, em Israel havia o ensino da Torá para os pequenos em idade bem tenra. E quem se encarregava disso era os rabinos! As crianças aprendiam valores! Aprendiam a língua hebraica, os costumes, a liturgia, memorizavam versículos e cânticos! Por que deveríamos colocar alguém sem conhecimento bíblico à frente das classes infantis? Não são as crianças que devem incutir os melhores valores para toda a vida?
Todas as atividades lúdicas são boas, mas devem remeter à Palavra de Deus. Uma classe de EBD não pode ser o ilariê da Xuxa. Devemos imprimir na mente da criança o desejo pela oração, pelo aprendizado da Palavra de Deus, a reverência no culto, a adoração e tudo o mais que verdadeiro, justo e bom.
Em quinto lugar, temos as músicas na Igreja. E aí acontecem alguns problemas com a criançada. Pra começar temos a questão da tessitura. Crianças são vozes em formação, deveríamos evitar hinos muito altos, que estraguem suas cordas vocais. Em seguida, a qualidade das músicas que nossas crianças estão cantando. Alguns artistas evangélicos estão se aventurando no filão e temos visto cada coisa que só Jesus ajuda. Boa parte do repertório está apenas fazendo nossas crianças sacolejar.
Lembro que nos idos de 1990 um professor de música do seminário em que estudava teve que nos deixar, em Recife/PE. Ele havia sido contratado por uma igreja de João Pessoa/PB, com um bom salário, exclusivamente para cuidar da área musical infantil. O pastor daquela igreja raciocinava que ia precisar de bons cantores e músicos. E para isso precisava pensar no longo prazo.
Em sexto lugar, a excessiva pressão pelos cantores e pregadores mirins. Meninos e meninas são utilizados por pais inescrupulosos ou inocentes úteis para que impostem a voz, façam rejeitos em púlpitos, entreguem profetadas e coisas do gênero. É um espetáculo grotesco. Precisamos aprender que cada criança tem seu ritmo, nenhuma é igual à outra. E precisam viver cada fase de sua vida. Sob pena de atrapalhar o desenvolvimento de sua saúde, mental, física ou espiritual. Crianças precisam brincar, descobrir, ler, passear. Tudo isso dentro da realidade familiar, com a ajuda da Igreja. Querer fazê-las de adultas antes da hora só trará problemas ao seu desenvolvimento.
Em sétimo lugar, muitas vezes a criança só tem a Igreja como único refúgio de um lar violento. Precisamos orar pelas crianças. Precisamos levá-las à oração. Seja pelo pai bêbado ou pela mãe drogada, uma realidade cada vez mais presente, ou por aprovação nas provas, por cura. Precisamos dar-lhes carinho na medida certa. Para eles, também, a Igreja deve ser um porto. A Igreja deve estar atenta à violência que se processa no lar e criar os canais adequados para ouvir as crianças. A EBD, por exemplo, deve estar atenta à sua ausência e visitá-las tão logo quanto possível quando faltarem sem motivo. Se as crianças se perderem na infância será mais difícil resgatá-las quando adultas.
Em oitavo lugar, a Igreja deve ser um lugar inclusivo. Não a inclusão besta esquerdopata, mas aquela que se processa fechando os olhos para a condição social, para eventuais deficiências físicas, cor, raça, língua ou nação. Estamos recebendo cada vez mais imigrantes. Segundo levantamentos oficiais o Brasil tem hoje pessoas de mais de 100 nacionalidades[2]. Como viverão as crianças oriundas destes países? Em guetos? Não! Precisamos integrá-las através da Igreja.
Embora tenhamos progredido ainda há muito a ser feito. Que acham?
[1] Link da notícia sobre o rapto da criança no berçário
[2] IBGE 2012: 268.201 imigrantes no Brasil.