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Sobre navios e naufrágios

Sobre navios e naufrágios

Certo dia saí para pescar, na região de Cuieiras, frente à antiga fábrica da Poty, em Paulista/PE. Dia calmo, maré agitada, grande, como chamam os pescadores. Estávamos em três numa jangada. O menos experiente era eu. O mais experiente começou a se agitar, levantando-se e sentando-se bruscamente num banco de madeira, fincado num dos lados do barquinho. Argumentei que aqueles movimentos eram perigosos.

– Que nada! – retrucou o nobre amigo resmungão, já um idoso de seus sessenta e tantos anos – Jangadas não afundam! Quer ver?

E aí levantou-se e sentou-se mais bruscamente ainda. A jangada balançou e virou. Fomos pra dentro d’água com a maré enchendo rapidamente. Perdemos uma parte do material de pesca, os peixes já pescados, as iscas, a comida que levamos. Por pouco não perdemos a vida. Na região há umas lages de pedra submersas muito perigosas. E, o pior, estragou-se nossa pescaria. Retornamos chateados para casa, pois não havia mais como pescar.

Esse é o problema com a autoconfiança. Balançamos nossas jangadas, supostamente insubmergíveis e não pensamos nas consequências. Às vezes é a experiência que nos trai, o ter passado naquele mar tantas vezes. Heráclito de Éfeso, sabiamente, dizia: “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!”. Numa atitude cheia de si esquecemos um banco de areia, uma pedra, a altura da maré, a chuva, uma circunstância qualquer, e já era.

Noutras vezes é a inexperiência. Não sabemos como fazer, não seguimos os avisos, corremos riscos de mais. Não olhamos para o que outros já fazem, como remam, como aproveitam a correnteza, etc. Resultado: a jangada afunda. São abundantes os casos em que uma simples virada se torna tragédia. A morte se esconde atrás da inconsequência.

Já ouvi e vi acidentes com quem estava prestando atenção de mais no barco dos outros, estava apressado demais para chegar do outro lado, não levou os coletes ou subestimou a força do vento e da água. Tenhamos cuidado do nosso barco e estejamos atentos por onde navegamos. Não poucas vezes Deus apenas permite as desventuras para nos mostrar quanto somos insignificantes e dependentes dele. Não raro nós mesmos nos julgamos insubmergíveis!

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