As notícias sobre mega templos pululam nas redes sociais. Aqui e acolá um projeto, uma construção em andamento, uma inauguração prevista, recebe atenção da mídia. Quem os tem, os quer maior ainda. Quem não tem, trata dos preparativos. Como minha função é destoar, chamo a atenção de meus dez leitores para alguns detalhes.
Primeiro, invariavelmente, os grandes projetos carregam boa dose de megalomania. Alguns são escancarados como o grande templo de Salomão da IURD. Outros mais disfarçados. Mas a premissa é aparecer, ganhar visibilidade e esmagar a concorrência. Ao contrário de pensar na glória de Deus, o mantra é: Se eles podem, yes, we can!
Segundo, desejamos analisar as grandes construções sob a ótica pastoral. O Instituto Lima, concluiu que não se consegue enxergar mais que 500 membros, isto se o pastor tiver dedicação exclusiva e com parâmetros razoáveis. Se for atender todos os eventos familiares, não tem jeito. Conheço pastores que tomam conta de cinco pequenas e médias igrejas ao mesmo tempo, e que, pasmem!, não consegue visitá-las além da Ceia do Senhor mensal! Com dez se vai a uma Ceia sim, outra não. O resultado: ovelhas desassistidas. Uns ingênuos dizem que bem assessorados (com um staff numeroso) podem assistir milhares. Não é bem assim. Nunca o cuidado pastoral pode ser substituído. É como dizer que se assiste 5000 amigos no Facebook!
Terceiro, a partir da constatação anterior, não há pastoreio em igrejas acima de 500 membros. Há embromação e terceirização dos problemas. O tradicional empurrar com a barriga. Ainda que o pastor deva mesmo ser auxiliado por presbíteros, diáconos e outras lideranças, em agrupamentos grandes as zonas de sombra[1] tenderão a ganhar volume. O resultado é que, mesmo informatizando, o pastor não conhece os membros, não os discipula, nem consegue acompanhá-los adequadamente.
Quarto, outro grande problema dos grandes agrupamentos é que o número dos que apenas seguem a noiva tende a crescer. Incluem-se aí os que não querem compromisso com nenhum ministério na congregação, os que vão à igreja somente para preencher uma agenda e os que fogem das pequenas igrejas, aonde seus pecados e problemas teriam visibilidade. O que dizer daqueles que só vão à igreja quando um cantor ou pregador famoso está presente? Nos grandes templos eles se contam aos montes.
Quinto, tais grandes templos não enchem. Incham nos eventos, aonde muitas vezes os membros vão pressionados em escalas, e depois são elefantes brancos, consumindo recursos da igreja. Aliás, encher igrejas grandes com caravanas vindas das congregações é dar tiro com a pólvora dos outros. No bom e no mau sentido. Com toda boa intenção possível. O ideal seria uma quadra coberta, uma mini-arena aonde fosse possível, sem a ostentação de igreja, para os grandes eventos, e templos de, no máximo, 800 pessoas para a congregação em seu dia-a-dia.
Sexto, por falar nos grandes eventos, como os grandes templos ficariam vazios, aí se põem a criar efemérides para satisfazer à necessidade de enchê-los. É uma pena porque aí se potencializam alguns outros problemas. Não sobra, por exemplo, tempo para um culto rotineiro. O negócio é oba oba! Eu sei que dói, mas é a verdade. Duvido que um grande templo, com os membros e lideranças diretamente afeitos à ele, reúna mais de dez por cento num culto de oração ou cinquenta por cento num culto de doutrina! Aí vem o Eventismo Dominical a criar eventos e registrá-los para exibição da pujança denominacional.
Sétimo, se grandes templos fossem sinal de bom pastoreio e espiritualidade a Europa estaria fervilhando! Ao contrário, seus lindos e primorosos templos estão sendo vendidos paulatinamente.
[1] Zonas de sombra são áreas escondidas em meio a grandes aglomerações