Prezados 200 leitores o que previmos aconteceu: o Pr. Samuel Câmara desfiliou-se hoje da CGADB. Cópia da carta com a solicitação foi postada nas redes sociais do pastor paraense. Desde a última sexta tal possibilidade era aventada, junto à desfiliação em massa de pastores de convenções aliadas. Primeiro, veio a notícia sobre o Amazonas, cuja CEADAM é presidida pelo pastor Jônatas Câmara, irmão do Pr. Samuel. Hoje, 06/11, confirmaram a debandada três das quatro convenções estaduais do Amapá. Vamos conferir os próximos lances desse imbróglio.
Com o tempo, aclaradas as direções em que se seguirá a nova Convenção Geral, chamada CADB – Convenção das Assembleias de Deus no Brasil, diversas outras convenções certamente se filiarão, especialmente, aquelas que hoje não estão filiadas à Convenção Geral e há muitas. As que manifestam apoio já contabilizam 25.000 ministros e o número pode crescer rapidamente. É muita gente. Claro que a CGADB ainda comporta a maioria, mas o estrago é inegável.
Nós já havíamos sugerido tal possibilidade neste espaço virtual ao candidato da oposição um vez que jamais seria eleito, dada a ampla rede de apoio que a situação possui. E mesmo se isso acontecesse, pouco ou nada poderia fazer para mudar o status quo da entidade. Hoje a AD é quase como o Brasil, impossível de se administrar e criar padrões que funcionem. Já disse aqui que a CGADB existe apenas para si mesma e para sua oligarquia. Esta se constitui de pequenos e grandes feudos onde a entidade não consegue influir. Há duas medidas para a questão: 1) Se a CGADB deixasse de existir hoje não faria falta absolutamente nenhuma; 2) O pai do atual presidente que geriu a entidade por longos e redondos 30 anos foi o pivô da primeira grande divisão em 1989, agora em 2017, o filho é o gestor que testemunha a largada dos botes da nau capitânia.
Quero relembrar que nas últimas eleições, com 71.854 ministros filiados, não conseguiu inscrever para uma eleição on-line (que obviamente não depende de deslocamento, hospedagem e refeições fora de casa, facilitando tudo o mais) metade desse contingente. Houve 30.648 votantes e destes apenas 23.019 compareceram. Uma abstenção absurda de 7.629 pessoas (25% dos inscritos). Eu atribuo isso à apatia generalizada entre os ministros, lideranças de uma igreja centenária, mas engessada com a concentração de poder nos altos escalões.
Mas por que a saída é ótima? Há várias razões. Algumas são boas às avessas:
1) O Pr. Samuel sempre foi tido como desaglutinador. Era ele, seguido pelo irmão, que sempre buscava uma conotação negativa nas decisões do clã que hoje domina a Convenção Geral. Agora não mais haverão esses pontos fora da curva. Para quem entende de ironia é até provável que muita coisa não acontecia por lá por conta da oposição. Em muitos círculos tê-la só atrapalha, com a corrente seguindo a favor quem sabe as necessidades sejam enfrentadas e os problemas mais urgentes resolvidos!?
2) Confirmada a tendência de crescimento, a nova Convenção tende a se capilarizar. Isto significa mais concorrência onde só havia reserva de mercado. Grandes convenções terão seu poder ameaçado por forças externas de outros Estados sendo imprevisível os efeitos. A esta altura tem gente torcendo para que as adesões minguem, do contrário, o cenário só complica. Num momento de secura nos cofres, com a crise nas arrecadações, tudo fica muito pior. Bom lembrar que a histórica refração à novas denominações caiu a níveis drásticos. Hoje se troca de igreja como se troca de roupa;
3) Claro que a CGADB não vai assistir de camarote, pode ser obrigada a colocar em prática a abertura de novas igrejas nos rincões abrindo o cofre. Promessa de campanha ainda não cumprida pelo novo presidente. O cisma pode ser a deixa para desengavetar os projetos a respeito. A conferir… De todo modo é mais complicado abrir um trabalho do que receber o apoio de um já existente. Descontadas as variáveis negativas, mais templos significam mais crentes e quanto mais ADs melhor. Quem conosco não espalha, ajunta;
4) As próximas eleições da CGADB podem passar a ser meras aclamações. É que o único oponente com coragem de colocar o pé na porta saiu. Quem vai peitar as já famosas indicações de apoio, algumas com anos de antecedência? Há muita gente com vontade de aparecer, mesmerizado pelo poder, que prefere dissimular o desejo a arrumar um problema. Não se admire se vir alguém dizendo que o atual presidente é o nome certo, desde já!, para fazer frente ao crescimento da CADB. Essa é a lógica torta das indicações, que contribuíram para este novo cisma;
5) Com o perfil interiorano do Pr. Samuel Câmara, alcançando ribeirinhos e comunidades esquecidas pelas grandes igrejas, quem sabe agora a evangelização do Sertão saia do papel. Se isso acontecer será ótimo para a pregação do Evangelho;
6) Com a nova Convenção surge a oportunidade de colocar em prática o que ele sempre cobrou dos gestores da CGADB. Rotatividade, transparência, boas práticas de gestão. A conferir… a vantagem está a seu favor, porque há tantas pendências históricas que o pouco que fizer já é muito. Entendem? A miséria institucional da AD brasileira é que se ele nada fizer, o outro lado nada pode cobrar. A que ponto chegamos?
7) Uma dessas propostas que pode se revelar positiva é que com a dinamização das publicações da editora a ser utilizada como oficial pela nova Convenção se imporá o surgimento de novos nomes para a produção literária assembleiana. Como sabem, hoje o cast da CPAD se restringe a poucos nomes brasileiros. Dá pra contar nos dedos. O CPADNews, site noticioso da editora, continua com os seus mesmos 12 colunistas, de que falamos aqui em 20/08/2016!
8) As pequenas convenções algumas das quais ignoradas pela CGADB, seja por conta de brigas regionais ou por outras razões, agora terão para onde migrar. Se isso é bom ou não só o tempo dirá.
Na minha rede de amizades estávamos informados já há alguns dias do surgimento da nova Convenção, só não esperava que o processo se adiantasse. Agora é História. Vamos continuar cobrando de ambos os lados, pois temos amigos nas duas Convenções nacionais, que carregarão seus anseios e necessidades.
Encerro confessando o que queria mesmo… Era que a Assembleia de Deus se congregacionalizasse de vez nos moldes batistas. Não vejo outra saída a longo prazo para a denominação. Do contrário, estaremos sempre às voltas com tais divisões convencionais.
Reflita um pouco mais lendo O que aprendi com as eleições da CGADB