E aí, 100 leitores? Vamos a um embate entre a casa grande e a senzala? Convido-os a pensar comigo sobre um importante assunto que foi alardeado por toda a mídia. Vamos lá?
A estudante Bruna Sena virou manchete, ontem, 07/02/2017, nas páginas principais dos grandes jornais e portais brasileiros em três notícias. Na primeira notícia ela que é negra, pobre e estudou em escola pública foi aprovada, em primeiro lugar, no curso mais concorrido da USP de Ribeirão Preto e na vaga mais concorrida do Fuvest. Não é pouco para uma filha de caixa de supermercado, cujo pai a abandonou nas fraldas.
Na segunda notícia, mais estridente, ela teria afirmado em sua página numa rede social: “A casa grande surta quando a senzala vira médica”. Um eco de outro episódio envolvendo uma outra aluna, Suzane da Silva, que, em abril de 2016, também foi aprovada em curso semelhante, sendo levada ao Palácio do Planalto para cantar as virtudes da Pátria educadora da então presidente Dilma Roussef.
Segundo consta na reportagem da Folha (link abaixo), Bruna é militante dos movimentos negros, feminismo e igualdade de gênero. Instada pelos repórteres, sobre o provável racismo na faculdade dominada por brancos e ricos, deu um depoimento: “Claro que a ascensão social do negro incomoda, assim como incomoda quando o filho da empregada melhora de vida, passa na Fuvest. Não posso dizer que já sofri racismo, até porque não tinha maturidade e conhecimento para reconhecer atitudes racistas”.
E a terceira, menos estridente, é que a aluna fora beneficiada por um cursinho da própria faculdade pública que agora a receberá, a USP. Não sem antes ser beneficiária de um Kumon. É um método japonês de “reforço” escolar em português, matemática, inglês e japonês. Amigos e parentes financiavam o último curso para Bruna, que só teve condições de cursar matemática.
Não pretendo desmerecer a caloura. Pelo contrário, parabéns, muitos parabéns. O que ela fez não é pouco. Nossa pretensão é analisar o viés esquerdista da conquista. Vocês sabem (ou não?) como a esquerdopatia veio delineando seus espaços na mídia, na política, na academia e até, pasmem!, na Igreja. Notem, à estudante poderia ser creditada uma inteligência acima da média, sempre tirava notas altas, uma persistência draconiana em meio a tantas dificuldades: nasceu prematura, foi abandonada pelo pai, que mal conhece, estudou em escola pública. Ela mesma afirma que a escola pública é de má qualidade: “Minha escola era boa, mas, infelizmente, tinha todas as dificuldades da educação pública, que não prepara o aluno para o vestibular. Falta conteúdo, preparo de alguns professores. Sem o cursinho, não iria conseguir.”
Mas o mérito, cantado em verso e prosa, é que sendo pobre, negra, da periferia e estudando em escola pública tenha passado no concorrido vestibular. Adicione-se a isso que é militante dos movimentos engajados e pronto: temos uma heroína! Pouco ou nada sobre a inteligência acima da média, noites mal dormidas com os livros, dedicação, esforço, etc. Tudo isso é menor se serve à causa.
Volto à casa grande. Esta semana o Pr. Ricardo Gondim, escreveu em seu twitter (não sou obrigado a concordar com tudo que ele escreve):
Este é o cerne da questão. Não era a consciência de sua cor, sua escravidão, sua condição, que elevava o negro. Mas a educação. Bruna não venceu esta etapa (muitas outras virão, afinal medicina não é um curso muito dado a idealismos) por ser negra, militante, pobre, mas porque estudou! Percebe a questão? O mérito está nas entrelinhas da reportagem. É preciso dar escola de qualidade para nossos alunos! E também é preciso que o aluno aproveite isso.
Sem contar que a mãe de Bruna também é uma vencedora, não porque pobre, mas porque soube dar a prioridade correta: Educação! De novo! Conheço pessoas pobres que entre pagar por um curso profissionalizante e um celular de última geração, ficariam com o último.
Vamos colocar de outro modo: Por que há esta grande concorrência nas faculdades públicas? Justo porque faltam vagas. E por que faltam vagas? Porque o ente (casa grande?) que arrecada os impostos não consegue empregá-los corretamente na expansão e melhoria da educação superior. Como a demanda é mil vezes maior que a oferta, temos que os melhores educados passam nos melhores cursos e predominam nas classes. Claro que a peneira acaba melhorando a qualidade de nossas universidades públicas, que estão entre as melhores do mundo. Mas não é o sistema ideal.
Há outras considerações a fazer. Vou poupá-los para não ficar cansativo. O que a esquerdopatia tem a dizer, por exemplo, sobre os médicos cubanos? Recebendo uma ninharia para que a casa grande dos ditadores daquele país fiquem com a maior parte do dinheiro pago a eles pelo Mais Médicos? Sobre a falta de educação básica para a maioria dos alunos? Sobre os parcos resultados brasileiros nos exames internacionais, como o Pisa?
A realidade é que quem venceu a guerra da casa grande contra a senzala foi a educação! O resto é conversa para boi dormir, como se diz por aqui no Nordeste. Sugiro à Bruna e tantos outros jovens universitários, especialmente aos jovens evangélicos, que foquem nos estudos e destaquem-se em sala, não para realçar sua condição, mas para dignificar sua vocação.
Reportagem da Folha sobre o assunto
PS: Ontem, minha filha 2 contou que voltava da faculdade (pública) e alguns estudantes pularam a catraca. O cobrador pediu ao motorista que parasse o ônibus até que os espertinhos pagassem a passagem (na verdade uma passagem subsidiada). Estes argumentaram: “Meu irmão, tu estás do lado do patrão ou do empregado?”. Casa grande ou senzala? Ele respondeu: “Estou do lado do meu emprego. Até que vocês paguem não saímos daqui. Vocês irão prejudicar quem paga a passagem de vocês, todos os demais passageiros!”. Depois de muita relutância e cansaço dos demais, todos pagaram e o ônibus seguiu adiante. Não existe almoço grátis… Só na cabeça perturbada pela esquerdopatia.