Qual o limite entre sinceridade e sincericídio na Igreja?
Qual o limite da sinceridade nas palavras proferidas na igreja? Nossas opiniões devem ter um limite responsável? Quando a sinceridade se torna sincericídio?
A sinceridade, todos sabem, é o dever de expressar uma opinião ou um fato de modo claro e honesto, sem omitir detalhes, visando que se estabeleça a verdade. Segundo algumas versões a palavra é conhecida dos tempos de Roma. Diz-se que ali se fabricavam vasos de uma cera tão bem polida que um objeto dentro dela era percebido por quem olhasse de fora. Daí se dizia: está quase sine cera.
Versões mais sinceras dão conta de que sincerus, o verbete do qual vem a palavra sincero, resulta da junção de duas palavras: sim (um só) com cerus (que cresce, que se desenvolve), dando a ideia de algo uniforme, sem impurezas, sem reviravoltas, retilíneo. Um depoimento que não muda de versão, é uma peça sincera!
De todo modo, a sinceridade é uma qualidade a ser cultivada e até exigida dos amigos mais leais. Infelizmente, a sinceridade é festejada, como diz o ditado, até encontrar alguém que a pratique. Imagine a amiga virar-se para a outra e perguntar: “Estou bem vestida?”, e a interlocutora, responder, sinceramente: “Não!”? Pense naquele pregador fanfarrão que chega do seu lado e tasca: “E aí? Preguei bem?”. Você fica numa saia justa se tiver uma conclusão que não agrade.
Em algumas situações a sinceridade encontra-se em choque ético. O marido traído, o idoso que não tem estrutura emocional para receber uma notícia ruim, o paciente que precisa ter o anúncio de um diagnóstico adiado, o empregado que vai ser demitido na próxima reunião e por aí vai.
Na igreja a sinceridade gera problemas. Quem decidir ser sincero terá postos negados, espaços cerceados e perderá amizades. Não deveria ser assim. O próprio Jesus colocou as coisas da seguinte forma: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna (Mt 5:37)”. Note, não é apenas que a dissimulação (o contrário de sinceridade) é algo errado, é maligno!
O verdadeiro líder deve valorizar pessoas sinceras. Elas norteiam decisões mais sensatas, não escamoteiam intenções obscuras e buscam o melhor. Ainda que naquele momento não esteja muito claro. Um valor adicional da sinceridade na Igreja é que, via de regra, quem a exerce não está buscando se preservar. A autopreservação é o refúgio canalha dos bajuladores e mal intencionados.
PORÉM, há uma modalidade, digamos, da sinceridade que é perigosa: o sincericídio. Mas o que é sincericídio? É a sinceridade fora de hora. É quando não medimos ocasião e oportunidade para dizer o que pensamos ou achamos de determinado assunto. A Bíblia fala de sincericídio (obviamente, não com esse nome) em diversos textos, mas um dos mais definidores é Provérbios 25:11: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo!”.
O efeito do sincericídio é a ofensa. A própria origem do neologismo define-o de forma contundente: sinceridade + suicídio = sincericídio. O sincero busca ajudar o amigo, a organização, a ver que algo está errado. O sincericida busca chocar o objeto a que dirige seu comentário, não se importando com os desdobramentos de suas atitudes. Quem pratica o sincericídio não está preocupado com o outro, mas em impor sua opinião. Não raro de forma vazia e sem foco.
Note que há uma linha tênue entre a sinceridade e o sincericídio. O argumentador deve ter cuidado para não cruzar essa linha. Inclusive, há líderes que vêem ameaça a seu status numa atitude sincera e a tratam como sincericídio. Oremos para que Deus nos ajude a sermos sinceros com nossos irmãos, com nossos líderes e até com nós mesmos e que possamos evitar o sincericídio!
“A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis” – Marquês de Maricá!
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