A eleição para o orgão máximo da Assembleia de Deus no Brasil é logo, logo. Dezembro está às portas, Janeiro é uma criança, Fevereiro nem se fala. Daí vem Março e o dia 09 de Abril de 2017 chega muito rápido. É uma excelente oportunidade para propostas. Aliás, tenho visto poucas propostas dos candidatos. Esse tipo de comportamento acaba afastando os eleitores. Confesso-me indisposto a gastar R$ 50,00 para ver figurinhas numa tela de votação.
Na ausência das propostas dos candidatos, eis-me aqui relembrando algumas do blog.
1) Aglutinar a denominação. Feliz ou infelizmente, não podemos falar de uma Assembleia de Deus, mas de várias. Seja na liturgia, nos usos e costumes, no formato ou até na doutrina, as diferenças são gritantes. Isso sem contar as ADs não filiadas à CGADB e/ou com os mais diversos apostos, ao bel prazer de seus fundadores. No Brasil basta ter uma ata e um rol de membros e a igreja passa a existir como pessoa jurídica. Muitas nem se registram. Eu conheço um ministério com várias igrejas que não tem CNPJ e se vira há décadas. Como? Não sei. Mas que usa o nome Assembleia de Deus não tenham dúvidas. É o chamado samba do assembleiano doido…!
Então, é preciso unificar a denominação de Norte a Sul. Fácil? Dizer que sim seria ingenuidade. É necessário! Do contrário em mais alguns anos não saberemos em que igreja estamos ao adentrar uma congregação assembleiana, aliás, isso já acontece. É preciso resolver a questão, até mesmo por necessidade de uma depuração. Quem quiser usar o nome vai ter que se filiar, e para tal deverá se enquadrar nas normas da Convenção Geral. Mas, espere? De que Convenção Geral estamos falando? Da CONAMAD ou da CGADB? De quem detém a marca e o direito de usá-la legalmente!
2) Revigorar a Convenção Geral. Pensada como um elemento de coordenação estratégica da AD no Brasil, a Convenção que temos não o faz. A única louvável ressalva é a CPAD. No mais a Convenção não apita em campo, para usar um jargão do futebol. As partidas são jogadas a partir das Convenções, que fazem o que bem querem. A própria Convenção serve apenas aos interesses mais comezinhos dos presidentes de Convenções. Não consegue realizar uma eleição em paz, uma AGO ou AGE, que se veja as últimas, encerradas prematuramente. Precisamos de uma Convenção com propostas nacionais, que efetivamente dê um rumo às igrejas sob sua tutela, que se imponha como porta voz dos anseios da membresia, afinal sem membros não temos igreja! As eleições devem ser fomentadas com o máximo possível de candidatos, com posturas éticas das candidaturas e que vença aquele que alcançar mais votos. E que se pense menos em eleição e mais no Reino de Deus!
3) Acabar com os feudos. De sua fundação aos primeiros anos os pastores assembleianos se deslocavam livremente entre as igrejas, nos diversos Estados do País. Depois de alguns anos houve a criação de verdadeiros feudos nos quais um pastor de outra Convenção ou Estado não é nem apresentado. Na Igreja o Brasil Para Cristo, que saiu de nossa denominação, um pastor com cartão e carta de apresentação da Convenção Estadual, trabalha não apenas em qualquer Estado, mas em qualquer País onde a OBPC atue! Parte do problema está na tibieza institucional da CGADB cuja política é a da boa vizinhança. Se uma Convenção não quiser se filiar e se submeter aos ditames da Convenção Geral, que retire o nome e siga sua estrada!
4) Modernizar a administração, integrando os dados. Hoje a CGADB não sabe quantos são os assembleianos. E muitas convenções também não. Num determinado estado do país, onde atuam duas grandes Convenções, a maior delas divulga que tem um milhão de membros, mas somente três mil templos. Se dividirmos 1.000.000 / 350 (templo médio) = 2.857. Ok? É provável. E os congregados? Para cada membro temos, no mínimo, dois congregados! Deveria ter, então, 8.000 e tantos templos. Não bate. Por que é importante saber esses dados com uma margem menor de erros? Porque poderiam ser feitas ações mais eficientes e organizadas, ora! Em tempos da sociedade da informação não termos um dado desta natureza é o exemplo acabado de nossa incompetência.
5) Modernizar a gestão financeira. Salários, prebendas, impostos, etc. Nada é o que parece Brasil afora. Temos obreiros que ganham milhões e outros que nada ganham. Temos pastores obrigados a suar a camisa trabalhando em dois ou três empregos e outros vivendo nababescamente. É um disparate. Dentro das Convenções prevalece o seguinte padrão: não há padrão! Rsrsrs! Um obreiro aproximado do presidente ganha, digamos, R$ 15.000,00, outro, que faz o mesmíssimo trabalho, mas está no baixo clero, ganha R$ 2.000,00. Isso dentro da mesma Convenção. Recebo relatos de pastores amigos Brasil afora que me dizem o seguinte: O pastor presidente chama o cidadão, conversa com ele e decide quanto vai lhe pagar. Chama outro, conversa com ele e paga outro valor totalmente diferente. Dentre várias outras questões é exigida fidelidade canina. Ai do obreiro que comentar um desvio, ainda que fundado, porque vai perder seu salário!
Quantas Convenções do Brasil pagam IR sobre as prebendas dos pastores? E INSS? É lei! Diversas igrejas mantém funcionários sem registro. Não possuem registros fiscais e nem financeiros. Compram rádios, TVs, terrenos, apartamentos, em nome de terceiros. Muitas vezes em nome do próprio pastor presidente e/ou familiares. Custeiam despesas pessoais além da prebenda. Ao bel prazer. Tudo sem conhecimento da Convenção Geral. Quando, porém, explode uma bomba, quem é chamado para representar?
As Testemunhas de Jeová, os Mormóns, os Adventistas possuem registros financeiros detalhados. Mostrando que é possível quando se quer. Quando não se quer, é a casa de Mãe Joana. Detalhe: No primeiro e segundo caso são registros mundiais!
6) Usos e costumes. Numa igreja é permitido o uso da barba. Está aí o Feliciano, cujo ministério é filiado à CGADB. Noutra, barba dá degredo. Numa tem grupos de dança, noutra nem em sonho. Numa se pode usar brincos e colares. Noutra de jeito nenhum. É uma salada. A membresia vive em polvorosa. Numa mesma Convenção igrejas do interior tem seus usos e costumes que é diferente das igrejas urbanas. Durma com uma bronca dessas!
6) Eventos exóticos. Inventou-se o eventismo do oitavo dia. Evento que se preze dura uma semana e que os outros cultos se virem. Em tempos de programas na TV, no qual é necessário produzir conteúdo para encher a programação, os eventos se multiplicam. É Congresso de Homens, de Mulheres, de Jovens, de Adolescentes, dos Homens de Negócio, das Mulheres que Oram, dos Solteiros, dos Casais. Seminários, fóruns, vigilhões. Agora temos uma igreja que vai comemorar seu Centenário com uma corrida. Nada contra o exercício pessoal, mas impensável tempos atrás (por falar em usos e costumes, e se a vencedora for uma irmã de jogging?). Enfim, a turma é criativa nesse quesito. Ouso dizer que a AD hoje vive de eventos, os cultos normais perderam a graça. Isso é grave porque eu aprendi que quando não se tem um evento, uma parte da igreja não comunga.
O que dizer do Gideões Missionários da Última Hora? Todo ano o evento despertar amor e ódio na mesma proporção. São confissões de pregadores bêbados, bizarrices ditas pentecostais e tudo o mais.
Temos que priorizar o culto. Hoje tudo o atrapalha. Hinos cuja temática está fora de sua natureza. Pregação aos domingos, com hino de Círculo de Oração, por exemplo. Aí vem o jogo de egos dos dirigentes de orgãos de música, querem porque querem cantar três ou quatro hinos. A programação de outros orgãos, a quantidade deles. O coitado do dirigente fica equilibrando 500 bolas como o palhaço no circo. E ainda sai gente com a cara feia. É imperativo voltar à simplicidade!
7) Liturgia, louvor e adoração. Por falar em culto, temos que investir nos próximos anos em louvor de qualidade. Temos produzido poucos talentos, talvez por falta de ambiente adequado ao seu desenvolvimento, talvez por falta de investimento. A música sacra sempre teve papel preponderante entre nós, muito mais por iniciativa pessoal do que pastoral. A liturgia tem que priorizar a pregação da Palavra. Por vezes, os hinos se sucedem e sobram 15 ou 20 minutos para a prédica. Em muitos lugares os cantores tomam o lugar do pregador. Não raro o repertório é sofrível e mal ensaiado.
Os hinos antropocêntricos se disseminaram entre nós. Muitos pastores esquecem que a maioria dos membros só tem o domingo para ir à Igreja. Então, aquele culto tem que ser o abastecimento semanal. Com tudo que uma alma faminta por Deus tem direito. Onde está, por exemplo, o verdadeiro Pentecostes em nossos cultos?
8) Missões. Por falar em GMUH o tema é trampolim para muitas coisas distorcidas hoje. Temos o missionário que não evangeliza, a não ser que e somente se em terras distantes! Temos os preletores de Evangelismo Pessoal que não pescam, só teorizam! Missões é, por vezes, um chamariz para dízimos e ofertas. O tema é tocante. Uma irmã ficou com raiva de mim porque pediu uma oferta para a África, exibindo magros garotos. Eu lhe disse que tais garotos tínhamos aqui. Se minha oferta vai resolver o problema lá, por que não aqui?
No sertão brasileiro temos 182 cidades com menos de 1% de evangélicos. Boa parte delas sem templos. Os missionários do semiárido sofrem sem ajuda. Mas dizemos que Missões é prioridade. Não há um plano da CGADB para o Sertão, com metas, investimento e acompanhamento! Enquanto isso jorram os missionários no Exterior, especialmente em lugares aprazíveis.
9) Política secular. Inicialmente a AD era apolítica. Não há registros de apoio político nos primórdios da denominação. Embora tivéssemos políticos entre nossos membros, eram tempos difíceis nos quais a religião católica se impunha a ferro e fogo. Com o passar do tempo eles tomaram nossos púlpitos. Isso! É pouco estarem em nossos templos, temos que colocá-los em nossos púlpitos e ainda lhes facultar oportunidades para dizer as maiores mentiras, especialmente em aniversários pastorais e em grandes eventos. Político secular não gosta da Igreja. É padrão isso. A não ser os irmãos políticos e olhe lá, porque o que tem de interesseiro…
Ao arrepio da Lei 9.504/97 se dá apoio a políticos os mais diversos, evangélicos ou não. Os apresentam e ainda fazem campanha para eles, angariando votos e prometendo apoios, em troca de terrenos, concessões de TV e rádio, material de construção, empregos para parentes de pastores ou para os próprios. Enfim, usando a Igreja como base de apoio para projetos pessoais.
Dias desses conversava com um amigo jornalista que me informa o seguinte: Deputado federal XYZ tem 45 cargos à disposição do gabinete em Brasília. Quem indica os nomes é o presidente da Convenção. Como assim!? Nada de qualificação técnica, etc. O mesmo para o deputado estadual e para o vereador. Eles só usufruem do cargo e a igreja do resto. Quem entende essa loucura?
10) Investimento teológico. As faculdades assembleianas não produzem teologia, só consomem. A CPAD prioriza o autor americano e europeu. Qualquer propaganda de lição da EBD denuncia isto. Não temos uma revista de estudos teológicos, ao menos digital, que agrupasse o pensamento de teólogos comuns.
Por que não um ENEM teológico? Veríamos onde estão as carências e investiríamos lá! Parece que há em nosso meio aversão à averiguação, ao teste. Mas é a estatística que norteia as decisões estratégicas, do contrário seguimos jogando dinheiro ao vento.
11) Revigorar a Escola Dominical. A EBD é um culto especial, no qual está presente para o aprendizado toda a família. É preciso um investimento descentralizado e generalizado. Ainda que não devamos reclamar da qualidade da nossa lição, pois atingiu um bom patamar, por que não adensar os assuntos? Por vezes, o professor sente a lacuna.
Precisamos deslocar a EBD para onde está o aluno. Muitas igrejas tem feito isto com sucesso. Seja mudando o dia, seja deslocando o aprendizado para fora das quatro paredes. Mas temos apenas engatinhado no assunto. Há muitas oportunidades perdidas com professores desqualificados e desinteressados, pouco investimento em infraestrutura das classes e recursos audiovisuais.
Sem falsa modéstia já é um bom começo… Que acham?