Povos indígenas no Brasil: uma tarefa inacabada
A população indígena no Brasil tem crescido e alcançou um milhão de habitantes, distribuídos com os seguintes percentuais: 37% na Região Norte; 26% no Nordeste; 16% no Centro-Oeste; 12% no Sudeste e 9% no Sul. São mais de 300 povos, falando mais de 180 línguas diferentes. Um contexto transcultural muito vasto que temos dentro das nossas fronteiras.
Cinquenta por cento da população indígena encontra-se nos grandes centros, resultando em um grande impacto social, tanto para a população indígena quanto para a não indígena. Como inseri-los nas escolas, universidades e no mercado de trabalho não indígena? E como podemos, de alguma forma, ser instrumento para auxiliar estes nossos queridos indígenas? Faz-se necessário informar, capacitar e orientar os cristãos a serem um instrumento abençoador a este povo que sonha ter os mesmos direitos e deveres como brasileiros que são.
A Juventude indígena tem buscado ocupar seu espaço no cenário nacional, como professores nas escolas indígenas, ingressando nas universidades com determinação e concluindo seus cursos, mesmo tendo que lidar com os diversos conteúdos programáticos oferecidos nas Universidades mais direcionados aos não indígenas.
O líder Eli Ticuna está concluindo o seu curso em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas, no município de Benjamin Constant e já planeja seu futuro no mestrado em Sociedade e Culturas Amazônicas. A sua esposa Anita Ticuna concluiu o Mestrado em Linguística na UNBD e atua como professora na rede de ensino com o seu povo Ticuna. Ambos trabalham em Missões Nacionais e tem contribuído para o avanço dos projetos na região do Alto Solimões, AM. Este fato, é um crescimento educacional e social expressivo para líderes indígenas jovens, dentro da sua comunidade, que almejam ser instrumentos para orientar e capacitar o seu povo a enfrentar as diversas realidades sociais, educacionais e financeiras do mundo atual.
A pedido de líderes indígenas do Alto Solimões, temos realizado o trabalho de alfabetização e reforço escolar a adolescentes e jovens, sempre de acordo com as normas das Secretarias de Educação Municipal e Estadual, sendo capacitados e autorizados a ministrarem aulas nas aldeias. Essa abertura tem sido fundamental no preparo desses futuros líderes indígenas. Ainda no campo da educação, o ‘Dicionário Xerente-Português’ está passando por uma revisão. Ele tem sido utilizado há décadas nas Escolas Indígenas Xerente, no Tocantins e reconhecido pela Secretaria Estadual de Educação como grande contribuição educacional ao povo indígena Xerente. Além do Novo Testamento já traduzido na língua Xerente e publicado no ano de 2006 pelo casal Guenther Carlos Krieger e Wanda Krieger, após 30 anos de muito estudo e vivência entre o povo, continuamos trabalhando no desenvolvimento do Antigo Testamento. A geração que acompanhou esse processo já tem se beneficiado dessa riqueza e, por certo, muitas outras também serão atendidas com a literatura sagrada na própria língua do povo. Este patrimônio entregue ao povo Xerente tem orientado as famílias na preservação educacional, cultural e social. A alegria dos líderes indígenas que estão liderando esse trabalho de tradução tem sido marcante e motivadora para todos os envolvidos.
Missões Nacionais tem desenvolvido diversas publicações em línguas indígenas, como é o caso do povo Yanomami, Guajajara e Nyengatu. Elas têm sido elaboradas na própria língua, atendendo a pedidos de líderes indígenas para orientar suas comunidades no campo da educação e cultura, para atender uma nova geração que não utiliza habitualmente a comunicação oral, preservando sempre o contexto cultural de cada povo.
Há grandes necessidades de jovens tradutores para materiais didáticos, como cartilhas educacionais, artes e livros bíblicos para as etnias que ainda não têm estes recursos em sua própria língua. Queremos sempre fortalecer a língua materna e a cultura do povo indígena em nosso Brasil.
A música entre os povos indígenas tem sido uma forma de comunicar a sua arte e cultura de geração em geração. O canto é uma marca que caracteriza a maioria dos povos indígenas do Brasil. Os Xerente, no Tocantins, têm formado grupos musicais com o objetivo de visitar as aldeias, inclusive de outros povos, com a visão de realizarem celebrações e compartilharem dos avanços que estão alcançando nas últimas décadas nas áreas sociais e do próprio fortalecimento da cultura. Missões Nacionais tem orgulho de ser participante dessa obra. Esta ação musical e cultural tem produzido um impacto salutar motivando a etnia a expressar a sua riqueza musical. Recentemente, um quarteto jovem Xerente lançou um CD com músicas na sua própria língua, que ajuda significantemente na preservação da língua e cultura do povo. Para que isto acontecesse um líder não indígena investiu neles musicalmente, culturalmente e linguisticamente.
O artesanato indígena é outro fator muito importante para os povos indígenas brasileiros. A venda desses artefatos gera renda para muitas famílias e contribui também para a afirmação cultural de cada povo. Desde 2015, Missões Nacionais tem realizado pesquisas sobre as diferentes manifestações culturais de alguns povos, para que possamos auxiliá-los no desenvolvimento de trabalhos autossustentáveis, que proporcionem segurança para os artesãos indígenas e garanta a continuidade dessas manifestações tão valiosas, como é o caso do capim dourado para o povo Xerente, o Tururi (fibra da casca da árvore) para o povo Ticuna e outras fibras naturais utilizadas no norte do país.
Os desafios são imensos dentro da realidade indígena em nosso Brasil. Há necessidade de nos unirmos em prol das realidades indígenas. Juntos podemos realizar grandes coisas na orientação e dependência do nosso Deus!
Nota: Artigo publicado originalmente na Revista “A Pátria para Cristo”, edição 273.
Valdir Soares da Silva é coordenador Nacional de Projetos Indígenas no Brasil, da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira.
É importantíssimo ensinar os índios a crerem na ressurreição pela fé no segundo adão, pois o que tenho visto é a tentativa de usá-los como componentes da beligerante ideologia esquerda direita.