Por que é importante um esboço?
Por que temos tanto medo dos sermões? Por que um esboço é de suma importância para uma boa pregação expositiva? Por que não aproveitamos esta ferramenta maravilhosa? Vem comigo!
Prezados 180 leitores, vamos a um tema caro aos evangélicos. É fora de questão que boa parte da propagação do Evangelho deve-se à pregação e aos pregadores. Praticamente todos os domingos e até mesmo em diversos dias da semana ouvimos ou fazemos pregações. A qualidade pode ser discutível, mas é o que fazemos rotineiramente. É como o feijão, umas donas de casa fazem melhor que outras.
Muitos pregadores, porém, desprezam as anotações e preferem memorizar os tópicos e sub-tópicos de sua prédica. Nada contra se a razão for adequada. Boa memória, memória de cordelista, etc. Tudo contra se a pregação resume-se a um emaranhando de versículos e ideias sem conexão. Muitos de nossos irmãos desprezam o esboço pela dificuldade de articular suas ideias sobre determinado texto e colocá-las num papel, seja escrevendo ou digitando. Já outros torcem o nariz é para o trabalho duro que há em fazer um sermão mesmo.
Não sou dos melhores pregadores. Procuro me esforçar, mas também não sou pedreiro e sei reconhecer uma parede torta ou um almoço mal feito, mesmo não sendo cozinheiro. Antes de prosseguir relembro que a pregação eficiente é aquela que o ouvinte compreende, não aquela em que se afeta poder, se pula de um lado ao outro do púlpito ou se fala línguas estranhas por 15 minutos. Aliás, este é o padrão de Jesus e dos discípulos. Nunca li do Mestre fazendo os salamaleques que vemos por aí afora (Lucas 2:47).
Por que é importante um esboço?
Um esboço é um esqueleto de um texto que será pregado. Há até quem escreva um texto mesmo, nada contra. Quando esboçamos as ideias de forma escrita, enxergamos as lacunas e procuramos preenchê-las da melhor forma possível. Infelizmente, não há esboço perfeito. Mas é o esforço que vai premiar a audiência. Então, a primeira vantagem é enxergar o que vamos falar do início ao fim, mesmo sem tem pregado ainda.
A segunda vantagem de um esboço é escolher o que enfatizar. Falando de cabeça tendemos a perder tempo naquilo que, por vezes, não tem importância ou ela é secundária, paralela, complementar. Escrevendo o pregador escolhe a tônica dos tópicos e o que vai enfatizar.
A terceira vantagem é a conexão. Tente escrever os tópicos de um sermão ruim e isto vai ficar mais evidente para você. Os tópicos, não importa quantos sejam, precisam ser encadeados e seguir uma sequência até seu clímax. Nos últimos dias ouvi boas e más pregações. E tenho certeza que as últimas seriam minoradas se o pregador se ocupasse em escrever os tópicos do que falaria. Presumo que ele sentiria a falta de conexão de suas ideias e cuidaria de solucionar o problema.
Lembrando que a conexão se refere não apenas às ideias, quanto aos versículos e ilustrações. Falar num só sermão de morte e ressurreição e Gênesis, por exemplo, é para poucos. Conheço pastores que já pregaram na genealogia de Jesus. Isso pode ser feito desde que o preletor tenha muito domínio das Escrituras e assuntos correlatos, do contrário é uma tremenda furada.
A quarta vantagem é óbvia. Poder retocar alguma bobagem antes de levá-la a público. É uma desvantagem que a palavra falada tem, uma vez dito aquele versículo com referência errada já era. Um pensamento mal citado, uma confusão entre duas histórias bíblicas, entre dois personagens, reescrever uma ideia de modo mais adequado são possibilidades de um esboço em fase de criação. E não hesite em fazer e refazer tudo do zero. O editor de textos está aí pra isso. Peça sempre orientação divina, que o Senhor guie sua mente e ponha a mão na massa. Preguiça é pecado (Provérbios 6:6).
Outra vantagem do esboço é avaliar, com antecedência, se os tópicos cabem no tempo. E se não cabem, o que pode ser cortado sem prejuízo da compreensão? Um esboço é como um livreto de uma página ou duas. Há parágrafos ali que, se cortados, não prejudicam a compreensão do assunto. Outros são vitais.
Por fim, fuja dos esboços de terceiros. Se for extremamente necessário (por razões de tempo, tema, etc), procure ler com antecedência seu conteúdo, para não se atrapalhar com citações mal copiadas, assuntos irrelevantes, ilustrações que ficariam muito bem apenas ao autor e coisas do gênero. Dia desses assisti um pregador que ia e voltava nos tópicos ou ficava lendo-os diante da Igreja, porque não tinha memorizado o texto. E procure dar o crédito. Se a imitação de outros pregadores já é trágica, a cópia de esboços é patética.
Pra piorar, temos a imitação de Youtube. O cidadão assiste à pregação na rede social, memoriza o conteúdo e joga para a Igreja. Só que há dois problemas: 1) O Youtube está disponível para todos; 2) Fica evidente a ausência de originalidade. Dia desses me enviaram uma mensagem no Facebook, pedindo para que eu intercedesse junto à diretoria de minha Igreja, para ao enviar preletores aos estudos e trabalhos do interior do Estado, lhes avisasse que todo mundo tem internet. É que o cidadão ia pregar por lá e copiava o pregador original em seus mínimos detalhes. Até os cacoetes…
E não se preocupe com críticas a escrever esboços. Muitas pessoas nem toleram que um tema seja repetido ainda que com outra abordagem. Eles só não adotam o mesmo posicionamento diante de um jogral! Vá escrevendo e melhorando, com o tempo você vai notar as vantagens óbvias.
Atenção!: Não deixe para escrever seus sermões na hora do culto. É aético e a Igreja percebe que você está se ultimando. Nossos esboços precisam de conteúdo e qualidade. Coisas que só conseguem com tempo, oração, jejum e esforço intelectual.
Bom seria se nossos pastores tivessem mais preocupação, e levassem a sério, com a exposição bíblica bem fundamentada. Como comecei cedo, aos quatorze anos falava umas coisas que dizia ser pregação, só depois de ter pastoreado por tempo integral que via importância de preparar sermão em mínimos detalhes. Dai que tive o hábito de escrever minunciosamente. É trabalhoso, mas recompensador. Precisamos de mais exposição e de meno arrepios. Abraços.
Muito bem colocado. As coisas para Deus devem ser planejadas, organizadas e com excelência. Deve haver oração, jejum, leitura e estudo aprofundado para melhor absorção e preparação para a ministração. E, sobretudo, que haja a compreensão por parte dos ouvintes e não seja um culto de pura emoção que, infelizmente, é o que ‘enche’ os olhos de tantas pessoas.