Pastores devem proibir membros de ler certos livros?
Chegou ao meu conhecimento uma postagem nas redes sociais, do dia 09/10/2016, onde o autor denuncia que um grande ministério assembleiano teria proibido seus membros de ler determinados livros. A intenção é impedir o acesso aos livros de linha reformada, especialmente, aqueles que defendem o Calvinismo. Há duas considerações a fazer.
A primeira é que confirmado este procedimento ele é reprovável. É uma tentativa que não vai dar resultado a longo prazo. Para conter o avanço protestante, a partir de 1559, a Igreja Católica editou o Index Librorum Prohibitorum, em tradução livre Índice dos Livros Proibidos, que era uma lista de publicações literárias proibidas. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559, a última em 1948 e o Index só foi abolido pela Igreja Católica em 1966 pelo Papa Paulo VI. Hoje em dia os católicos leem todo tipo de livro, evangélicos, inclusos.
Então, não vai funcionar. Um ou outro compra às escondidas ou lê online. A internet vai se encarregar de dar conta da proibição.
A outra questão é o que fazer para elucidar a questão. Já falamos aqui que Calvino e os reformados encontram muito espaço na AD pela omissão da liderança. Hoje na Assembleia de Deus se fala de tudo, menos teologia nas doutrinas. Os pregadores fogem dos temas, há pouco espaço para a Palavra de Deus (em alguns lugares muito espaço para usos e costumes), muitos professores estão desqualificados pedagogicamente para a EBD e por aí vai. Um prato cheio para a atração por certas auras. Entre elas a ideia de que os reformados estudam e leem mais a Bíblia. É mais fácil tentar proibir. Mas é inócuo!
Falta-nos massa crítica para nos contrapor ao Calvinismo, especialmente, a vertente mais vistosa nas vitrines evangélicas e propalada nas grandes redes. Como, aliás, falta para muitos debates cabeça que são indispensáveis. Como as lideranças andam muito ocupadas com poder…
Nossos jovens estão estudando, alguns deles possuem bibliotecas maiores do que muitos ministros e não estão brincando de aprender. Do púlpito muitas vezes sai tudo: bajulação, desabafo, carapuça, abobrinha, esperteza, domesticação, bravata, menos uma exposição de qualidade da Palavra de Deus. Há as exceções, mas não deveriam ser a regra? Comezinhas são as ilhas de excelência no meio de um mar turvo e sem rumo.
Leia mais aqui Por que Calvino encontra tanto espaço na AD? e aqui Por que pastores produzem intelectualmente tão pouco?
Nobre Discípulo de Cristo! Eu particularmente leio de tudo um pouco e mais algumas coisas. Continuarei lendo tudo aquilo que ajude-me na ampliação do conhecimento e para construção da interpretação dos fatos e para ver de forma profunda e análise crítica os fatos que nos cerca! Essó é ignorância e falta de compreensão, pois, a igreja precisa enfrentar os seus desafios e dificuldades com inteligência e sabedoria! Não adianta correr dos grandes dilemas que cerca a igreja!
Num período de 1 e 6 meses estudei bacharelado em teologia na IBADETRIM ( Instituto Bíblico Das Assembleias De Deus No Triângulo Mineiro) -Uberlândia. Fomos a 1° turma em 2002. Por razões diversas não concluí. Entre tantas razões contrárias, a homogênea doutrinação Assembleiana. Nada do conteúdo reformado e tudo de pentecostalismo A.D. Tornou um fardo insustentável e tudo lançado sobre outras plataformas do pensamento não assembleiano era reprovado. Moral dos fatos: Sair e servir-se como autoditada. O conhecimento não pode ser algo imposto ou de estar confinado no quintal denominacional.
Mesmo por muito tempo nos arraiais da AD, quando nem se ouvia falar sobre Calvino, comecei a estudar as doutrinas da Graça e me deparei com as doutrinas da Soberania e da Graça de Deus. Mesmo assim continuei durante mais de 25 na AD. Não me arrependo do tempo que passei lá. Adquiri o hábito da leitura e estudo bíblico. Cresci no ministério da Oração. Até o tempo em que deixei de ver a preocupação de pastores assembleianos com suas ovelhas. Muitos veem seus membros apenas como isso: membros contribuintes e “dizimistas”.
Não foi por isto que saí da AD. Aqui não é espaço para esta explicação. Mas não tenha dúvida que quem lê a Palavra de Deus e estuda e compreende principalmente sobre a Soberania de Deus, frusta-se com o “tira-e-bota” de nome no livro da Vida (que afinal, não é assim que funciona).
Oxalá, que se despertem nos irmãos o desejo de ler cada vez mais e se encher de sabedoria para romper os limites de seu entendimento, pensando um pouco “fora da caixa”, principalmente os pastores, muitos limitados em seus estudos e não desejosos de aprender. (Estão desobedecendo à Palavra – sem servirem de exemplo aos fiéis – 1 Tm 4.12; 1 Tm 5; 2 Tm 2.10-26).
Deixa o povo lê e ensina a Verdade e tudo será esclarecido. Proibição de leitura é inquisição. Ditadura dos fracos.
Acredito eu que quaisquer reflexões sobre a Igreja hodierna perpassam pelos conceitos de Instituição X Igreja. Este tipo inaceitável de coerção ou mesmo de abuso de poder, evidencia o quanto as instituições ditas religiosas diferenciam-se por demais do Corpo de Cristo. Certos “líderes” coisificam os seres humanos tornando-os um espécie de propriedade que tentam a todo custo manipular. Partindo da premissa que “dogma” é um conceito que não se questiona, há uma clara “dogmatização” das “Ordens” ou “ensinos”, de muitos líderes que assim moldam a instituição ao seu modo, e o pior de tudo: Atingindo decisivamente o corpo de Cristo na terra.
Penso que não deva proibir, e sim orientar. Mas as vezes é mais fácil impor do que orientar porq talvez em alguns casos não saberem orientar pela própria Bíblia.
Proibir não é uma atitude sábia e moderada, mas cabe ao pastor ou líder cristão orientar, explicar e mostrar como ler. Toda leitura é proveitosa, mas cabe ao leitor aproveitar o que é bom para sua edificação pessoal e conhecimento. Particularmente, eu leio muito conteúdo de escritores calvinistas e simpatizantes do cessacionismo, mas um novo convertido precisa de uma orientação nesse ponto espinhoso que é a teologia calvinista nas alas assembleianas.
Deus te abençoe amigo e forte abraço!