Que os canais do Youtube estão bombando com as lives não tenham dúvidas. Nunca houve tantas delas ao mesmo tempo. Igrejas estão fazendo lives, pregadores fazendo lives (muitos deles pra não sair de cena, uma vez que os eventos minguaram), blogueiros fazendo lives, todo mundo fazendo lives. É a quarentena das lives! Noites e dias cheios.
Mas há duas coisas preocupando os pastores Brasil afora: 1) A queda gigante nas ofertas e dízimos e 2) A perda de relevância em meio ao cipoal das redes sociais. A primeira, óbvia, é que na mentalidade de muitos membros não estar na Igreja, ou não tendo cultos na mesma, lhes dá o direito de não ofertar. Não é verdade. Os custos fixos se impõem. Por isso que é tão complicado ter grandes templos e prédios que não se pagam. A megalomania tem um preço e ele é altíssimo!
Por outro lado, a estrutura fixa que remunera uma nata de obreiros em muitos ministérios se provou um peso nesses tempos. A oração de onze entre dez líderes é que passe logo essa fase, porque se as coisas se estenderem como estão por mais 3 ou 4 meses aí desgringola tudo de vez. Em diversos lugares os salários foram achatados para se reacomodarem aos novos tempos sem muito dinheiro disponível.
Uma nota à parte vai para aqueles que dependiam diretamente dos eventos. Quem poderia imaginar que cantores estariam sem shows, preletores sem agenda, igrejas sem culto? Assim em poucos dias? É uma realidade à qual poucos conseguiram se acomodar. Alguns estão se virando com as lives. Bem poucos conseguem visualizações que justifiquem serem monetizados. Dado que a concorrência cresceu com a quantidade deles fazendo lives só complica tudo.
O outro problema é mais visceral. No culto e no púlpito o pastor é o ponto central. Ele se encarrega de catalisar a atenção, conduz a liturgia, justifica as oportunidades, enfim, guardadas as proporções: faz acontecer. Omite quem quer, dar relevo a quem quer. O mais evidentemente é dependência de Deus. Quantos crentes, por exemplo, não torcem o nariz quando o pastor não está dirigindo o culto? Conheço deles que até vão embora naquele dia, ou pra casa ou pra outra igreja.
Eis que em tempos de coronavírus esse pastor que era uma estrela solitária, que catalisava a atenção, que determinava com mão de ferro quem fala, quem canta, agora é obrigado a dividir a atenção com uma miríade de opções num espaço resumido e competitivo. E isso tem frustrado muitos deles. Parece que uma coisa não tem a ver com a outra (pontos 1 e 2), mas esses pastores até precisam justificar as gordas prebendas que eventualmente recebem de suas igrejas sendo relevantes. Na ausência de culto e na variedade de cardápios gratuitos as coisas complicam.
Há dois problemas colaterais e igualmente interligados. Sem Youtube os pastores não conseguem acessar seus membros mais idosos, aqueles que não tem uma TV sintonizada na internet ou que não gostam de cultos on-line. Proporcionalmente à quantidade de membros a audiência tem sido pífia em muitos lugares. Basta a qualquer um fazer um levantamento no Youtube dos últimos vídeos de qualquer igreja e dividir pela quantidade de membros que ela alegam ter. Apenas uma fração deles estão de fato participando. E os demais como estão se virando?
A internet ainda traz outro complicador, principalmente, para o público jovem e com mentalidade multitarefa. Eles não conseguem se fixar muito tempo numa atividade apenas, como assistir um culto numa live. As mensagens de outros canais começam a chegar e o imediatismo abre a porta. É preciso ver aquela nova foto do Instagram, a nova frase de efeito no Facebook, os trends topics do Twitter e por aí vai.
Some-se a isso o, por vezes, diversificado ambiente doméstico. No culto, ao menos fisicamente, a audiência se resignava ao mesmo lugar. Mas atenção se perde quando alguém chega na sala com aquela pipoquinha quente recém-saída do forno, quando uma nova mensagem chega no WhatsApp, quando é mais fácil levantar pra tomar água ou beliscar uma sobremesa na geladeira.
Alguns pastores mais criativos estão compensando os problemas com visitas pessoais. Um amigo visita seus membros à distância. Do portão mesmo ele marca presença, acena, ora, deixa um versículo e vai visitar o próximo membro. Outros estão enviando mensagens no WhatsApp. Essa providência é um arremedo. Nem todos leem, as mensagens são repetidas e impessoais. É um paliativo, porém. Outros telefonam. O problema neste último caso é que nem todas as igrejas possuem dados atualizados dos membros e agora não dá mais tempo pra coletar essas informações, até que passe esse momento trágico.
Oremos muitos mais por cada líder. O coronavírus lhes impôs mais estes desafios.
Assista nossa Live sobre este assunto, armazenada em nosso canal do Youtube!