Há alguns anos venho ecoando uma preocupação com a mídia evangélica. Impressa, radiofônica, televisiva. Alguns dos meus dez leitores entendem esta preocupação, outros tratam como bairrismo. Não sou jornalista, editor, radialista. Não tenho jornal, nem editora. O que há errado? Vamos por partes.
Leio, hoje, no Blog do Clóvis Rossi, jornalista da Folha de São Paulo, um post interessante dando conta que o Financial Times decidiu apressar seus passos em direção à edição digital. Tempos atrás o jornal apostou suas fichas na versão on-line agora anuncia a demissão de 35 funcionários da editora convencional, enquanto contrata 10 para a edição digital. Os processos de produção jornalística estão sendo revistos. Não apenas a mídia como meio de levar a mensagem está mudando, como a capacidade de produzir informação relevante e de qualidade.
Os jornais costumam catalizar grandes mudanças. São precursores delas na TV, no rádio, na internet e nas editoras. Ou alguém tem dúvidas que o modo mais, digamos, atualizado de ler na web se assemelha ao papel, copiando um formato, um modo de encarar a notícia? Colunas? Fotos com legendas? A própria foto colorida como chamariz para uma matéria à moda CNN teve seu início no jornal. Uma fonte, a Times New Roman, que corre o mundo nasceu no prelo. Portanto, é bom ficar atento. Configura-se uma tendência!
Por outro lado, leio que o, auto-proclamado, apóstolo Valdomiro Santiago está choramingando por 21 milhões para pagar seu aluguel no Canal 21, da Bandeirantes. Ora, ora. O Clóvis Rossi deu um detalhe importante para compreender a mudança nas editorias. É uma fórmula, mais ou menos assim:
A mesma que sustenta toda a mídia! Então, não há milagre. Ou se tem audiência ou não há como a engrenagem se sustentar. Infelizmente, não há audiência evangélica que sustente uma emissora denominacional. O que sustenta a mídia evangélica hoje são dízimos e ofertas. É um modelo crítico a longo prazo. Tem funcionado até hoje – e Valdomiro pode estar blefando – mas, pensando economicamente, não terá vida longa. Não se enganem com os escândalos de desvios de verbas para compra de patrimônio, já vi esse filme muitas vezes no mundo empresarial. Olhando para as aquisições até se pensa que está tudo bem. Aliás, até com igrejas funciona assim. Quantas não estão superdimensionadas para sua, digamos, clientela? Parece um modo pragmático de enxergar as coisas e é. Mas não existe almoço grátis!
Programas de TV são caros, em rádios, idem. Ter uma editora para dar aos leitores um cheirinho saudosista de páginas amareladas não é barato. Especialmente, se a prioridade for para o modelo convencional. De onde sai o dinheiro para bancar o investimento? É justo contrário de ter uma igreja que cresça e cujos membros contribuam. Quem não lembra do paradigma Renascer? Nasceu, cresceu, ganhou a mídia, depois murchou e se tornou irrelevante.
Outro aspecto crítico, que já repisei várias vezes, é que o público está migrando em massa para a web. Aliás, já migrou. Agora trata-se de arrumar meios de atrair a audiência. Um mecânico decidiu publicar os vídeos do conserto dos carros de seus clientes. Resultado: dois milhões de acessos mensais, 112 mil assinantes, incremento no faturamento e no número de clientes e o Google, controlador do Youtube, ainda lhe paga US$ 2.800 pela divulgação!
As igrejas nunca foram muito boas em captar anúncios em seus programas. Anunciantes até existem, mas parecem preferir investir numa mídia que dê mais retorno. Nenhum programa televisivo se paga com anúncios, nem mesmo o de Silas Malafaia, é preciso sempre recorrer à velha tática das ofertas. Parece oportunismo mas a saída seriam os portais, mas poucas igrejas possuem um à altura do nome. É um investimento pequeno, mas precisa de conteúdo e atualização constante para atrair audiência. Com tantas igrejas na web , produzindo vídeos, por exemplo, o Google não quer pagar a nenhuma por sua audiência!?
Por último, a coisa se complica num quesito essencial: velocidade da informação x preço. Esta semana um call center da IstoÉ me liga oferecendo a assinatura da revista. Retruquei que não queria. Primeiro, era mais caro do que manter a banda larga. Segundo, a informação que chega na revista estava atrasada em cinco dias. A não ser pelas colunas assinadas e uma ou outra reportagem, a notícia já estava velha. Se levarmos em conta a portabilidade e a acessibilidade de um livro digital ou da edição impressa de uma revista…
A velocidade da informação traz também um adensamento de opiniões e o espaço para elas. Tomemos o exemplo de nossa amada EBD. Amanhã, quando o aluno chegar em sala, ele já deve ter visitado uns dez sites sobre a lição. Pessoas que não teriam nenhum espaço numa editora denominacional dão sua opinião num blog ou home page. Pior (ou melhor!), com muito mais qualidade e profundidade que alguns comentaristas. Quase a custo zero! O engessado mundo das editoras evangélicas com seu já institucionalizado QI (quem indica?) está perdendo espaço para a criatividade e a dinâmica que, feliz ou infelizmente, o papel não pode reproduzir. E quando o faz o custo se impõe!
Blog do Clóvis Rossi aqui. Notícia sobre o apóstolo Valdomiro, aqui. Leia a notícia do mecânico aqui.