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Oito mentiras que contam nas igrejas sobre política e eleições

Eleições e evangélicos na política

Eleições e evangélicos na política

As eleições estão chegando. Todo ano eleitoral é a mesma coisa. Inúmeros aproveitadores e interessados falam as mais absurdas coisas sobre política na Igreja. E os irmãos são obrigados a ouvir as lorotas. Muitos ouvem por concordar mesmo, outros por não querer atrito. Não temos tempo para analisar toda a baboseira que se ouve, mas pinçamos oito delas para pensar a respeito com nossos leitores. Vamos lá!?

1) Que precisamos de representação política

Desde os anos 1980 ganhou espaço uma tese influente na Igreja de que precisávamos de representação política partidária. Em 1986 a Assembleia de Deus, que antes tinha um deputado federal, elegeu treze! Osiel Lourenço de Carvalho[1] conta que, em 1985, houve várias reuniões políticas promovidas pela CGADB, visando a apresentação de candidatos. Eles seguiam um padrão: pregador itinerante, cantor gospel, apresentador de televisão, parente ou apadrinhado de presidente de Convenção! Aliás, um parâmetro que não mudou desde então.

O mantra era que a Igreja poderia ser perseguida e precisava atuar no cenário político para impedir projetos nesta tendência. O detalhe é que tal representação seria feita por pessoas ou famosas e que dispensavam apresentação ou apadrinhadas eclesiasticamente. Pouco ou nada foi exigido além de fidelidade pastoral. Até hoje os projetos dos representantes evangélicos se limitam a temas sobre a família e ações populistas pontuais. Desconheço, por exemplo, qualquer projeto de um deputado evangélico em favor da população acuada pela imensa carga tributária. Não há deputado evangélico acompanhando ações do Executivo em educação, saúde, segurança e diversas outras áreas que são de sua alçada.

Registra Osiel, citando Paul Freston: “Na mudança da AD em 1986, teve repercussão o livro Irmão Vota em Irmão, escrito por um líder assembleiano e assessor do Senado, Josué Sylvestre. O livro usa fortes recursos retóricos para convencer evangélicos a votarem em candidatos evangélicos. Textos bíblicos como “quem sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” e “amai-vos uns aos outros” são interpretados em apoio à sua tese. Já que o voto é secreto, estas são as armas mais fortes dos líderes para arregimentar eleitoralmente seus membros.”

Percebe-se que a preocupação não é programática, mas feudal. Manter o status quo, não mudar a práxis. Não admira que predomine entre nós o famoso jeitinho brasileiro. Uma maneira de burlar o que é ético-legal no dia-a-dia. Donde concluímos: A igreja como entidade espiritual NÃO precisa de representação política. Precisa de santidade, ser sal e luz, ser ética e fazer a obra de Deus no mundo. A Igreja não ganha respeito quando se institucionaliza, assume papel de ator político, mas quando faz a diferença e a vontade de Deus! É notável a quantidade de energia que uma campanha política dispersa dos objetivos do Reino!

Ressalte-se o uso indiscriminado do versículo : “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor”, enquanto se omite sorrateiramente a continuação “e o povo ao qual escolheu para sua herança.” (Salmos 33:12). O que obviamente não se refere a nenhuma nação do mundo a não ser Israel! A exegese e a hermenêutica que se danem!

Resumindo o ponto: a representação que muitos, líderes, inclusive, alegam não se refere à Igreja, mas a seus próprios interesses. Eles almejam essa representação porque isso vai lhes trazer mais status, poder e dinheiro. Nessa ordem. Não há a mínima preocupação com a Igreja ou com membresia.

2) Que NÃO precisamos de representação política

A igreja institucional precisa de representação. O problema é como se dá a escolha. O apadrinhamento gera políticos fiéis às causas eclesiásticas, às indicações pastorais, mas a Igreja vive no mundo real. Educação, segurança, saúde, juros, tributos, mobilidade, emprego, só para resumir afetam a todos.

De fato, leis e projetos há em abundância, muitos deles propostos pela chamada esquerda progressista, que visam deter a influência da Igreja. Os legisladores evangélicos devem atuar contra tais projetos, se posicionando biblicamente. É até natural que dada a quantidade de adeptos que tenhamos hoje, haja representantes em número proporcional.

A nota dissonante é a imensa quantidade de crimes cometidos pelos políticos evangélicos. Fartamente documentados pela mídia secular. E que os desabilita para esta lide como pessoas honestas, cristãs e santas, portanto, com diferente do que vemos nos políticos seculares. Sem contar a falta de preparo de boa parte deles. Via de regra são incapazes de discussões qualitativas.

Então, a questão fundamental não é se precisamos ter políticos evangélicos, mas de que políticos evangélicos precisamos!? Bem poucos dos que temos se enquadram nos requisitos. Que se ressalvem as exceções!

3) Que devemos votar apenas em políticos evangélicos

Essa é outra balela. Devemos priorizar irmãos que, de fato, nos representem e que tenham projetos. E não votar apenas porque irmão ou porque tem uma credencial eclesiástica. Por desonestidade intelectual alguns líderes pegam textos como:  “Porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos “ (Deuteronômio 17:15). Porém, omitem, de forma conveniente e desonesta, que estas instruções se referiam à teocracia judaica. Já não temos reis, sequer Israel os tem, mas governantes eleitos democraticamente.

Por que ninguém usa o texto de Êxodo 18:13a: ”E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que odeiem a avareza”!? Conclui-se que, claramente, a intenção é manietar a consciência dos membros.

Pra ter alguma clareza, basta pensar que o político que será eleito é como um funcionário seu. Se você fosse empresário iria contratar um funcionário SOMENTE porque evangélico? Principalmente, numa vaga cara e com tantos requisitos elevados? Certamente, não! Você contrataria o melhor, o mais honesto, o mais preparado. E cobraria os melhores resultados, no melhor sentido do termo!

4) Que os indicados pela liderança são sempre os melhores candidatos

Infelizmente, hoje temos os mais variados interesses, de maneira que já não há como confiar na isenção de muitos líderes para guiar o povo até as pessoas mais adequadas. Tantas escolhas erradas foram feitas ao longo do tempo, baseadas em critérios questionáveis, que as lideranças maiores se tornaram contraditórias e descredenciadas neste particular. Salvo raríssimas exceções, são políticos que adulteram, que usam corrupção, que transgridem leis, que depois de eleitos se afastam da Igreja e do povo. E ainda se acham acima da Lei e da Bíblia, pois que ungidos pelas lideranças eclesiásticas.

Aqui em Pernambuco temos um prefeito evangélico que dizia que se a congregação um dia o visse político é porque estaria desviado. Outro se diz defensor da família, …no terceiro casamento! Outro ainda falava cobras e lagartos da política e depois foi indicado como candidato oficial de determinado ministério. E coagiu pastores companheiros a apoiá-lo! Um deputado foi apoiado por toda igreja e depois denunciado na Lava Jato. Outro foi eleito com o voto de sua igreja e depois saiu do ministério. Outro notabilizou-se como um dos mais faltosos deputados. Vivia em congressos, reuniões da Igreja, etc. Outros foram eleitos por partidos esquerdistas, que apoiam o socialismo, o comunismo, a ideologia de gênero, a descriminalização das drogas e o aborto. São histórias que se repetem abundantemente Brasil afora. Neste contexto, como confiar em tais indicações? Como atribuir caráter divino com tantas e grosseiras falhas?

Vários pastores confiaram e indicaram Lula e Dilma, entre outros governadores corruptos. Tudo isso enquanto tais pessoas surrupiavam o suado dinheiro dos brasileiros. Se quem indica tivesse o mínimo de visão espiritual certamente não cairia em tais ciladas. Detalhe: A igreja também é prejudicada com a corrupção. Aqui em Pernambuco tivemos, anos atrás, o reflexo de um dos maiores esquemas de corrupção do Brasil, que levou à bancarrota inúmeras empresas, desempregando os dizimistas. E aí? Cadê a visão?

Outro problema é o voto de cabresto, proibido pela legislação brasileira. A Lei 9.504/97 proíbe a propaganda em templos e afins, compreendendo todos os lugares onde se reúnam os irmãos. É a chamada isonomia que se perde no meio de reuniões tendenciosas e que se utiliza de termos grosseiros para induzir o voto em alguém. Então, que possamos escolher e votar de modo consciente. Individualmente!

Por minha experiência pessoal posso afirmar: não confie em indicações pastorais! Prefira analisar o candidato por outros critérios.

5) Que fazer concentrações evangelísticas e assemelhados é trabalho de candidato evangélico

Perguntei a uma universitária por que ia votar em Fulano? Ela respondeu que ninguém trazia mais cantores ao Estado do que ele! Outro deputado se elegeu em cima de uma plataforma de ação social. Isso é importante, mas deputado não executa, legisla.

Fazer concentração é trabalho de Igreja, não de vereador, prefeito, deputado ou senador. Infelizmente, o trabalho social é para muitos políticos uma camuflagem para suas jogadas políticas inescrupulosas. Por um lado posam de bons samaritanos, por outro agem como Judas fazendo acordos escusos com os vendilhões de facilidades.

Não é trabalho de político doar terrenos para igrejas. Doar fardas, flâmulas, brindes ou que quer que seja. Ele pode até fazer isso por afinidade, não porque é um bom político!

Neste ponto outra consideração importante é a grande quantidade de formadores de opinião que almejam um cargo político. Está no rádio ou na TV para ser uma benção? Por que abre mão de tudo para o exercício político? É um caso a se pensar! Não se engane com o apelo midiático de radialistas, jornalistas, comunicadores, youtubers e demais produtores de conteúdo. A prática política não é brincadeira, nem somente conversa mole!

6) Que ninguém está tendo vantagem pessoal alguma pelas indicações e apoios

Infelizmente, 99% das indicações e apoios trazem alguma vantagem em troca. É um cargo comissionado para um filho, outro para a filha. Bens em troca do apoio. Achaques em nome da liderança maior. Descontadas as exceções, o mais bobo nesse jogo conserta um relógio no escuro, dentro de uma piscina olímpica, com uma luva de boxe na mão! Rsrsrs!

Ouço falar até de carros e imóveis em troca do apoio desta ou daquela igreja. Já ouvi informes de nomes de obreiros em massa em listas de cargos comissionados em prefeituras de aliados. Pasmem os senhores e senhoras, isso é feito enquanto a mensagem passada nos microfones e pronunciamentos é de isenção.

Mas, não há isenção nessas barganhas. Encachole de uma vez por todas: o jogo de interesses é o que move essas indicações! Na melhor das hipóteses a simbiose vai obrigar a Igreja a votar indefinidamente no político indicado, tornando-nos indefinidamente reféns de um projeto político pessoal. É preciso ser muito ingênuo para pensar o contrário. Mantenha os olhos abertos!

7) Que os políticos evangélicos têm atuado adequadamente no exercício do mandato

Os políticos evangélicos, salvo exceções, são conhecidos por seu histrionismo, sua apatia para temas coletivos e seu pragmatismo. Comecemos pela quantidade de vezes em que trocam de partidos. Avancemos pelo noticiário negativo. Mesmo descontando a má vontade da mídia em geral com os evangélicos, ainda sobra muitas acusações bem fundadas contra nossos representantes.

Políticos evangélicos precisam ser bons políticos só isso. Se bom deputado, atuar na proposição de leis que protejam e façam justiça a todos. Se prefeito ou governador, ser ético com a aplicação de recursos sob sua responsabilidade, coibindo energicamente a corrupção e trabalhando para o bem de todos. E por aí vai…

A prefeitura ou Câmara não pode ser um puxadinho da Igreja! Chegou ao meu conhecimento um caso incrível de um pastor que assinou um ofício solicitando cargos a determinado prefeito. Outro pastor nomeia todos os ocupantes de um gabinete de deputado. Todos! Uma loucura sob qualquer ângulo de análise.

8) É assim mesmo, Jesus está voltando

Alguns dão de ombros ante o descalabro de nosso noticiário político. Dizem que é o fim dos tempos, que Jesus está voltando, que é assim em todo lugar. É uma meia verdade. Jesus, de fato, está voltando. Mas aliar a isso essa sem-vergonhice generalizada é ignorar o que se passa em outros países. Ou Jesus só está voltando para o Brasil?

Na Inglaterra o primeiro ministro renuncia e ele mesmo carrega os móveis de sua mudança, aqui contrata uma empresa beneficiada para fazê-lo. Em Londres o prefeito vai trabalhar de bicicleta, aqui com carro oficial e batedor.

David Cameron carrega sua própria mudança

Prefeito de Londres vai trabalhar de bicicleta

Jesus está voltando, mas não por nossos desvios. É falta de vergonha na cara mesmo! E quando essa postura reprovável é chancelada por homens de Deus se torna absurdo!

Conclusão

Política partidária é um jogo pesado. Basta ver como hoje um partido é aliado do outro e na próxima eleição o espinafra. Um político elogia o outro hoje, amanhã o esculhamba. Fala cobras e lagartos num dia, no outro está almoçando calmamente.  Ao contrário disto, a Bíblia afirma que a Palavra do cristão é sim, sim, não, não!

A Igreja neste jogo é somente um gandula pra levar bolada na cara ou botar bola pra outros fazerem gols! No mínimo, pra favorecer algum interessado. Assim como no jogo dos oito erros nem sempre é muito fácil perceber as artimanhas. É preciso algum treino.

[1] http://www.ceeduc.edu.br/azusa/petencostalismo_esfera_publica_carvalho.pdf acessado em 29/09/2016

Você pode se interessar por esta notícia: Mais da metade dos deputados da bancada evangélica enfrenta processos na Justiça.

P.S.: Gostaria de deixar claro que concordo com os irmãos na política, exercendo seu papel como cidadãos e desempenhando as tarefas do cargo para o qual se elegeu, de maneira ética, honrada e honrosa para o povo de Deus. Na verdade são poucos os que podem se inserir neste adendo, mas existem. O que não concordo é com a barganha eclesiástica e o uso das ovelhas como massa de manobra/trampolim para projetos escusos e particulares de quem quer que seja.

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