Este post talvez seja o último deste ano. Meu tempo anda escasso. Se não está a fim de ler algo longo, desista. Antes vamos a algumas premissas. Eu não sou pessimista. Quem me conhece sabe que sou um otimista de carteirinha. Ver Deus em tudo que existe e acontece jamais me deixaria neste estado de espírito. Também tenho poucas aspirações eclesiásticas, a fama nunca me perseguiu. Não sei cantar, tenho uma voz de taquara rachada. Minha garganta não aguenta tonitruar como os ditos grandes pregadores assembleianos. Minha memória me trai nos versículos mais banais. Paulo ainda era um aborto, eu sou um projeto de filho… Porém, minha mente é arguta. Minha crítica propositiva, por mais que alguns de vocês, dez leitores, não entendam.
Saindo da modéstia, alguns ingredientes me levam a traçar estas linhas. Os posts do blog, a história assembleiana contada pelo Mário Sérgio, a teologia pentecostal do Gutierres, as teses do Gedeon Alencar, as conversas pessoais com alguns líderes brasileiros, alguns dos últimos escândalos, as últimas notícias sobre a AGO, pasmem!, até o perfume com cheiro de Cristo da Sônia Hernandes. É um caldo grosso e entornado.
Toda igreja tende à institucionalização. É um caminho sem retorno. Uns são bem sucedidos, outros não. A seleção natural das instituições não perdoa as barbeiragens. Esta é a razão porque há tão poucas centenárias. Não é porque a história é curta. Estamos por aqui há milênios. A Reforma foi ontem e já tem 495 anos. Via de regra, as igrejas começam de maneira humilde. Poucos irmãos, um grande sonho, muito propósito, recursos escassos. Até que muitas atas, estatutos e decisões depois se sobrepõem e enevoam o panorama. Não foi diferente conosco. À medida que tangenciamos o primeiro centenário afloraram todas as mazelas. Falando sobre o PT, certa vez, Caio Fábio disse que o partido passou 20 anos discutindo ética em assembleias. Quando saiu às ruas e alcançou o poder, se prostituiu. Algo semelhante aconteceu com a AD brasileira. Enquanto crescíamos não conseguimos depurar nossos problemas.
De expulsos de um porão da Igreja Batista, em Belém do Pará, assombramos os estudiosos em todo o mundo. Se a AD fosse um Estado, e o País fosse uma religião, seríamos o segundo maior do Brasil. A pujança, o fervor missionário, suplantou a igreja mãe sueca. Conta-nos o Gedeon que Gunnar Vingren, o magrinho, era pouco afeito à convenções e coisas afins. Preferia o trabalho duro diário. Em 1930 veio o golpe. Talvez não seja o termo mais adequado, mas a tomada de controle pelos líderes nordestinos tinha ares de guerra surda, tramada e travada em braile. Tateando cada ponto os pioneiros sentiram o cheiro de queimado. E recuaram. Cantam as loas de um acordo tácito, mas não foi bem assim. Como os historiadores independentes já demonstraram muito bem, não havia alternativas. O resto, ou parte dele, está nos livros das histórias assembleianas. Há vários, inclusive, cada Convenção tem um para chamar de seu, omitindo ou evidenciando o que lhe interessa. A Geral tem vários e a cada dia se lança algo novo no assunto. Alguém lembrou de um detalhe? Lança um livro!
Nesta hora de análise sobra orgulho e vergonha. Orgulho do patrimônio espiritual que foi construído à custa de suor e lágrimas de homens e mulheres Brasil afora. Hoje mesmo li a história da diaconisa Élida, uma grande mulher relegada ao esquecimento por puro diletantismo organizacional. É assim quando nosso establishment quer apagar a biografia de alguém… Creio que na eternidade o trabalho de inúmeros anônimos se sobreporá ao de muitos grandes luminares. E há a vergonha. Os inúmeros ministérios e convenções. A falta de coesão doutrinária, a ausência de comando único e o prenúncio da derrocada. Não precisava ser assim. Pensar que há inúmeros ministérios nos quais suas lideranças vivem como nababos enquanto sugam dízimos e ofertas de pobres irmãos deveria nos causar asco. Mas qual? Tome-se, por exemplo, o mercado dos congressos e eventos. Pregadores caros, agendas cheias, obviedades, salamaleques, excentricidades, saldo espiritual próximo do zero! Mas as programações já estão a pleno vapor para 2013.
A próxima AGO em Brasília/DF se realizará sob os auspícios de várias mentiras e disparates. Tempos atrás ouvi dizer que a última eleição, também seria a última na qual o Pr. José Wellington seria candidato. Agora mudou de opinião. O Pr. Samuel Câmara, velho conhecido dos posts do blog, só pensa em ganhar a eleição, isto desde há muitos anos. Estamos debaixo de uma polarização absurda. Nas palavras do Pr. Jesiel Padilha faltariam homens com estatura para fazer frente ao Pr. Samuel Câmara. Só pode ser achincalhe! Pensar que o Brasil tenha 20 ou 25 milhões de assembleianos e não haja senão dois contendores!? A precariedade do atual estatuto, por outro lado, inibe o lançamento de candidaturas alternativas. Quem teria 10 ou 15 milhões de reais para bancar uma candidatura deste porte?
Há mais de vinte anos que o Pr. José Wellington detém o poder nas ADs. Ou melhor detém o título, porque não tem poder nenhum de interferir nas Convenções, a não ser naquela que preside. Elas são feudos impenetráveis, encobertas pelo manto da vitaliciedade. Que seria um mal menor não houvesse o nepotismo e uma salada de pendores. Do enriquecimento ilícito de alguns pastores à briga e desunião nos Estados, do apoio político ilegal às práticas mais descabidas possíveis como o personalismo. Aliás, como ele não interfere, praticamente a maioria dos presidentes o ama e vota em sua reeleição! É mais ou menos como a coalizão que governa o Brasil. Desde que Dilma não meta o bico nos Estados ou nos nacos dos partidos… Na conta entram descontrole, favorecimento, leniência, omissão, corrupção, adiamento de soluções com todos seus efeitos nefastos conhecidos.
Porém, pensando como igreja o que de novo houve em 2012 e que o se pode esperar para 2013? Vamos por partes que o trem é lento. Já reclamei aqui que precisamos nos mexer no item que mais nos é caro. Não nos notabilizamos por produção intelectual, pelo ineditismo dos hinos, pela qualidade arquitetônica (embora hajam exemplos notáveis), a parcela mais vultosa de nosso capital intelectual vem da evangelização. Houve, é verdade a Década da Colheita, mas isso foi há vinte anos. Minhas filhas nunca ouviram falar no assunto!? O que há de plano evangelístico nacional hoje? Praticamente, nada. A não ser as louváveis iniciativas isoladas das Convenções estaduais, a CGADB não move uma palha. Citamos o caso aqui da UMADENE, que deveria fazer frente ao desafio das 182 cidades do sertão nordestino com menos de 1% de evangélicos, mas suas receitas estão ocupadas pelas prebendas. São, igualmente, omissas. Para 2013 esperaria uma chuva de esperança no sertão nordestino. Há inúmeros pastores orando por isso.
Nos próximos quatro meses só se fala de eleição. Não há espaço para a agenda do Reino, somente os projetos pessoais terão relevância. Se o Pr. Samuel Câmara ganhar, promove uma caça às bruxas e planeja como implantar as inovações. Se o Pr. José Wellington for o vencedor, vai ficar tudo na mesma. Em ambos os desfechos corremos o risco de uma nova Madureira. A famosa história da cruz e a espada. É muito triste chegar aos cem anos curvados a tais idiossincrasias. E pensar que o comando foi dos suecos aos brasileiros pensando em dinamismo!? Abraão de Almeida lançou um livro sobre lições da história que não devemos esquecer, mas nossa AD anda esquecendo muitas passagens dele. Nos EUA a AD está às voltas com a diminuição de membros, na Europa beira à calamidade. Enquanto debatemos a quadratura do círculo.
Sinto-me exausto. Tudo aquilo contra o que falamos aqui no blog permanece acontecendo. E da minha janela imaginária o cenário enuviado prenuncia dificuldades. Em qualquer das hipóteses, 2013, ao menos no plano nacional, será um ano sem planos, sem projetos, sem nenhum movimento de nível estratégico. E isto é muito ruim em termos do Evangelho. Ainda bem que Deus tem planos, sim, para o próximo ano. E os que não se curvam hão de esforçar mais uma vez e buscarão se inserir nele.