O saco de gatos de Rob Bell
A entrevista dada à VEJA duas semanas atrás já é conhecida de vocês, meus dez leitores. Prometi a mim mesmo dizer algo a respeito, já que vocês não precisam ler aqui sobre isto. Rob Bell é um personagem da cena evangélica americana, pastor, escritor, famoso, carismático, enche uma igreja com oito mil pessoas, aos domingos. É o queridinho da igreja light. Não fala sobre Céu e Inferno em seus cultos, não ao menos na perspectiva mais comum entre nós. Acredita no universalismo, doutrina na qual ao final todos se salvam. Apóia o casamento homossexual e vende livros como água.
O que há errado com ele? Comecemos pelo fim. Indagado sobre o universalismo mostrou-se inquieto com um Deus que condena. Segundo ele, Jesus pregou um Deus de amor. Seria difícil imaginar um lugar de sofrimento eterno, especialmente se criado por Deus. O repórter fazendo o papel de burra de Balaão, atirou: E quem não quiser ir? Não parece errado que alguém deva ser salvo por um Deus no qual não crê? E se alguém não quisesse ir para o Paraíso? Deus salvaria Hitler? Rob é moderno, mas não bobo, saiu pela tangente.
Além de um caso clássico para a apologia (deixo a tarefa para eles, os apologetas, eu sou um vendedor de cocadas…), não passou despercebido um certo nível decantado de outras investidas e invencionices desta natureza. Houve outros Bells ao longo da história evangélica mundial, mas hoje esta cristalizada uma certa tendência. Com a sucessão de teóricos deste esquema nefasto alguns passaram a acreditar nele. Este, aliás, é um dos pontos nos quais tenho me aplicado há algum tempo. Não é difícil perceber o desencanto com o dogma. Não aquele conjunto infundado de normas da Igreja Católica, mas tudo aquilo que representa hierarquia, ordem, organização e recato. A igreja self-service se consolidou, embora o próprio Rob tenha reconhecido que não são clientes os membros. Esses teóricos são assim mesmo, ortodoxos segundo sua conveniência.
Não sou saudosista, mas já cultuei em cima de um banco que nem aonde encostar tinha. Hoje as pessoas exigem climatização, cadeiras acolchoadas estacionamento com diáconos como seguranças. Do contrário ameaçam dizimar em outros redis, ou nem dizimar!? Acreditem, o dízimo virou uma arma! Mas o ponto crítico ainda não é esse. É a palavra e a autoridade pastoral que está sendo cada vez mais criticada. As advertências estão sendo encaradas como invencionice. A seu modo Rob toca nesse ponto. Prega uma igreja flexível, aonde os pontos de vista particulares tenham peso de doutrina, apenas se partindo do público para o púlpito. Eu tinha aprendido que o fogo sai do altar, mas agora o contrário acontece. A submissão se tornou pecado. O questionamento, obrigação. Não é desejável a robotização da plateia, mas o exagero a cada dia fica mais evidente. Rob afirma que a liderança não entende os anseios da plateia. Nunca os pastores estarão a par destas demandas. É por isso que dependemos cada vez mais de Deus, para enxergar os contornos de uma decisão menos aceita, de uma crítica fora de contexto, das implicações, enfim, do dia-a-dia eclesiástico e, sobretudo, de distinguir o supérfluo do necessário.
Rob Bell defende o engajamento social à moda do MEP de Robinson Canvalcanti e de Ariovaldo Ramos. Segundo ele, nossa missão principal não é chegar no Céu, mas trabalhar para fazer do mundo um lugar melhor. Aprendemos com Jesus que um mundo melhor começa não com nossas atitudes, mas como nosso arrependimento. O mais é consequência. É um evangelho para deixar-nos em paz com as demandas de nosso tempo. Nesse contexto o pecado não é o mal a ser vencido e contra o qual a igreja se insurge. Mas é um conceito moldado a partir da crença de cada um. Se você não acredita que algo é pecado… Além de nossa bondade neutralizar seus eventuais efeitos colaterais. É um conceito charmoso para as pessoas de bem. Por isso o pecado não encontra espaço em suas pregações. O Céu não é o destino de sua mensagem. É uma reencarnação em vida. Ainda bem que Cristo veio para os perdidos!
Não ficaria surpreso se Rob atacasse o evangelismo pessoal (quem quiser vem à Igreja, como pregam alguns calvinistas), a santidade como prerrogativa para ver a Deus e a própria Igreja como entidade fundada por Cristo. Em maior ou menor grau esse sumo decantado dos livros de auto-ajuda disfarçado de moderno (ou pós, segundo o discurso) se disseminou bem mais do que possamos imaginar. Alie-se a isto o comodismo típico de nossos dias e teremos um caldo fervente prestes a redefinir o mundo eclesiástico. Rob não faria muito estrago sozinho, senão aos seus. O problema é que uma mentira dita tantas vezes passou a ser acreditada. E defendida academicamente. Ganhou a mídia, os festivais evangélicos, os blogs liberais, o culto e as denominações. Bem mais do que somos capazes de perceber.
Eu conheço o final desse filme. Como disse um dos críticos da entrevista, na revista na semana seguinte: O discurso de Rob parece mais com goma de mascar. Quando o açúcar for embora e só restar a borracha…
Saudações em Cristo!, gostei do tema do post ” O saco de gatos de Rod Bell” rsrsrsrsrsrsrsrsr, esse aí é mais um dos fanfarrões da teologia da prosperidade.
Abraços no amor de Cristo – Pb. João Eduardo Silva – AD Min. Belém – SP.
Meu caro Daladier,
O nome do cara é Rob e não Rod. O comentário do “Anônimo” é próprio do simplismo de quem não acha nada: “esse aí é mais um dos fanfarrões da teologia da prosperidade”. Como assim?
Há quatro anos eu lí o livro dele, em português pela ed VIDA, “REPINTANDO A IGREJA” e achei muito bom a partir da ótica do “ponde a prova todas as coisas e fique com o que é bom”.
O problema é que nós do fundamentalismo cristão temos um bocado de respostas prontas que respondem a perguntas que o homem do século 21 já não anda mais fazendo. Rob Bell arrasta multidões porque parece ter pistas para respostas, ainda que intuitivas, às muitas perguntas que inquietam o coração do Cristão moderno.
Um abraço,
Paulo Silvano
Prezado Pau Silvano, o nome foi alterado, obrigado pelo alerta. Mas lançar um livro moderninho não quer dizer que as ideias do autor sejam bíblicas. Lembra da gravidez de Paul Young Cho?
Abraços!