No último trimestre de 2021 estudamos sobre Paulo. Creio que aqueles que se dispuseram a ir à EBD colheram grandes lições do apóstolo dos gentios, nos comentários da lição CPAD, produzida pelo Pr. Elienai Cabral. Veja alguns dos conteúdos que você deve ter aprendido:
- Que Paulo era da tribo Benjamim, filho de fariseu, praticante do Judaísmo, sendo um zeloso servo do Sinédrio. Tal instituição tinha duas configurações, muitas vezes com membros intercalados. A primeira era civil e se compunha predominantemente de saduceus, a elite religiosa, política e econômica da Jerusalém dos dias de Jesus, em número de 23. A segunda era religiosa e compunha-se de 70 a 72 pessoas, em sua maioria fariseus. Este último incluía o chefe (nasí), o sumo-sacerdote (cohen gadhôl) e um ancião experimentado chamado de Av Bêit Dîn. Foi o Sinédrio, através do sumo sacerdote, que deu autorizações em carta a Paulo, para que ele perseguisse os cristãos dentro e fora de Israel;
- Que a visão de mundo do apóstolo Paulo era diferente dos demais apóstolos. Em sua esmagadora maioria haviam nascido e crescido nas cercanias de Jerusalém, portanto, sua cosmovisão estava confinada ao que se cria e fazia no Templo e instituições associadas. É bem verdade que já tínhamos um mundo cosmopolita e globalizado, afinal diversos impérios (Assíria, Egito, Babilônia, Grécia, Pérsia e Roma) tinham impresso seu modo de vida de alguma maneira nas pessoas, mas o fato de nunca sair do lugar onde alguém nascesse era um evidente impedimento para a ampliação de sua visão de mundo. Foi essa versatilidade mental que permitiu a Paulo transitar entre reis e filósofos, mas também entre lavadeiras de roupa e soldados;
- Que o apóstolo falava ao menos quatro idiomas: grego, hebraico, aramaico e latim. O hebraico e o aramaico eram línguas comuns em Israel no tempo de Paulo. Todo menino sabia o hebraico, que era a língua da liturgia, exigida no Bar Mitzvá, uma celebração que ocorria na frase de transição para a adolescência. O grego tinha sido disseminado pelo imperador Alexandre, o Grande, (356 a.C. – 323 a.C.). Este rei conquistou o mundo conhecido de então e fez com que a cultura grega, idioma no pacote, fosse ensinada aos povos conquistados e os moldassem. No tempo de Paulo as pessoas não apenas falavam grego, como língua franca, mas pensavam nos moldes do idioma. Já o latim era fruto do Império Romano. Desde 27 a.C. os romanos haviam dominado o mundo e o latim, seu idioma, fora disseminado entre os povos conquistados, lado a lado com o grego;
- Que Paulo era cidadão de dupla nacionalidade: romana, por ter nascido em Tarso, na Cilícia, e hebraica, por ser filho de um judeu. Não sabemos o nome do pai de Paulo, muito menos de sua mãe. Sabemos, porém, que fora enviado a Jerusalém, como muitos pais faziam, para ser criado aos pés de um dos mestres da Lei: Gamaliel. Este era uma pessoa muito influente e ser seu aluno traduzia um rigoroso aprendizado dos costumes, dos mandamentos e das leis. Bom frisar que os rabinos mantinham várias escolas, mas os estudiosos afirmam que a de Gamaliel era a mais importante de sua época. A Paulo ter uma cidadania romana abria inúmeras portas, inacessíveis aos demais. Evidentemente, Deus sabia disso quando escolheu o apóstolo dos gentios;
- Que Paulo, nome latino, tinha um nome equivalente em grego, Saulo, que, por sua vez, equivale ao hebraico Saul. E que Saulo não foi transformado em Paulo, como a haver alguma similaridade entre ele e Abraão ou Jacó (o primeiro foi mudado de Abrão para Abraão e o segundo de Jacó para Israel). Embora haja até hinos sacros com essa temática, ela não resiste às mais simples regras de interpretação bíblica. Paulo tanto era o mesmo Saulo que quando chamado pelo Espírito em Antioquia, para as missões transnacionais, foi dito: “Apartai-me a Saulo…” (At 13:1). Bom lembrar que nesta ocasião ele já era um homem transformado e regenerado. Provavelmente, um nome latino abria portas a Paulo entre os gentios, foi isso que fez com que o usasse com mais frequência. O nome Saulo ocorre 15 vezes no NT[1], já Paulo ocorre 158 vezes[2];
- Que Roma estava em evidência (27 a.C. – 476 d.C.). A partir do noroeste do Mediterrâneo suplantou a Grécia (1.100 a.C. – 146 a.C.) e cresceu assustadoramente, graças a um exército bem treinado e valente. Roma, entretanto, não impedia a religião dos conquistados, por isso os judeus cultuavam livremente. Outras duas características eram o predomínio das leis e o investimento na infraestrutura. A lição nos informa que havia uma malha viária de cerca de 300 mil km, dos quais 90 mil apresentavam excelentes condições para viajar a pé ou a cavalo. Isso significa que no tempo de Paulo era muito mais seguro e fácil de viajar do que em qualquer momento anterior. Além disso, eram estradas seguras, guarnecidas em muitos pontos pelo próprio exército romano, que delas se beneficiava para o deslocamento. Por outro lado, a navegação ao longo da costa do Mediterrâneo estava bem desenvolvida e havia navios para todos os principais portos do mundo de então;
- Que inicialmente o Evangelho não foi contestado pelo império. Eles encaravam os cristãos como mais um partido dentro do emaranhado de seitas judaicas (saduceus, fariseus, zelotes, essênios, herodianos, publicanos, sicários, etc). Somente quando o Cristianismo cresceu e passou a ser perseguido pelo Judaísmo e, em consequência, se expandiu (At 8:4), tornando-se uma religião supranacional é que houve retaliações por parte de Roma. Bom lembrar que milhares de cristãos foram mortos em Roma entre o grande incêndio de 64 d.C. e o Édito de Milão em 313 d.C.. No período os servos do Senhor foram espoliados, presos, entregues a feras e gladiadores nas arenas. A situação só começou a mudar quando em 312 d.C. Diocleciano, imperador romano, se converteu ao Cristianismo e criou decretos que toleravam os cristãos;
- Que o Sinédrio tinha poderes de jurisdição sobre cidadãos judeus fora de Israel. Foi essa autoridade que encarregou Saulo de ir até Damasco, distante cerca de 340km de Jerusalém, para prender e trazer cristãos até a capital de Israel. Não sabemos como funcionava essa delegação por parte do império romano, provavelmente, uma alegação religiosa. Enviado pelo Sinédrio no intento de perseguir os cristãos em Damasco, Paulo acabou ficando cego por uma luz do céu, sendo amparado e curado por Jesus, através de seu servo Ananias, que morava naquela cidade. A princípio Ananias resistiu à ordem do Senhor Jesus para que o encontrasse, pois sabia de seu procedimento contra os irmãos, mas foi dissuadido e realizou o primeiro encontro com o futuro apóstolo dos gentios. Lá Saulo iniciou a saga que o tornou pouco a pouco um pregador do Evangelho;
- Que Paulo se destacou na pregação do Evangelho aos gentios, uma vez que a maioria dos demais apóstolos cuidou de evangelizar os próprios judeus. Para isso ele foi chamado, inicialmente, com Barnabé, em Antioquia e levou o Evangelho para o mundo conhecido de então (Atos 13:1). Um aspecto pouco observado é que Paulo se engajou na necessidade de sistematizar a doutrina eclesiástica dos primeiros dias. Ele fez isto através de cartas, as quais eram lidas em todas as igrejas onde fosse possível que chegassem. As cartas eram lidas em voz alta e se tornavam normativas da conduta do povo de Deus. Ao menos uma dessas cartas pode ter se perdido (Aos Laodicenses – Cl 4:16). Esta iniciativa de Paulo foi fundamental para harmonizar a doutrina naqueles primevos dias e serviu também para combater algumas heresias já surgidas durante o primeiro século.
[1] https://biblehub.com/greek/4569.htm
[2] https://biblehub.com/greek/3972.htm
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