Prezados 180 leitores, há cerca de dois anos, por opção pessoal, em virtude da dificuldade de conciliar o cuidado pastoral com minhas necessidades financeiras e de subsistência, estou ausente de uma congregação específica. Auxilio, dentro de minhas possibilidades, junto a outros pastores, a Sede de nosso ministério assembleiano em Abreu e Lima/PE, sendo escalado para diversas de nossas congregações, em trabalhos pontuais.
Reconheço-me devedor ao trabalho do Senhor não por omissão, mas por obrigação dos afazeres diários. Gostaria de disponibilizar mais tempo na Obra, mas tenho uma família para cuidar, além do meu próprio sustento. Isto não me impede de ser sensível a problemas dos quais tomo conhecimento.
Não são casos novos, nem esparsos. Já falei aqui que estou nas redes sociais desde 1992 e aprendi a distinguir uma crítica gratuita de outra sincera e substancial. Iniciei um MBA em Mídia e Comunicação para, entre outras coisas, aprimorar meu faro no quesito. Portanto, não conheci as redes sociais como mero brinquedo, apesar de confessar me divertir bastante com a interação possível. Sou parte ativa da revolução proporcionada pela blogosfera evangélica, este espaço existe há dez anos, vai aniversariar novamente em junho. Repilo, portanto, qualquer insinuação de que esteja surfando em alguma onda passageira.
As mídias sociais vieram para ficar e se transformam com o tempo e estão transformando o modus vivendi do século XXI, inclusive na Igreja. Só isso. Para o bem ou para o mal. Antes era o rádio, depois a TV, a web, as redes e depois virá algo parecido, com o intuito de ampliar a voz das pessoas e onde transitam. Não há alternativa a não ser se adequar. E pelo que tenho pesquisado e lido a transformação está só começando…
Com esse imbróglio da CGADB o blog e o perfil do Facebook foram inundados com interações de outros lugares do Brasil. Num curto espaço de tempo conheci e conversei virtualmente com centenas de pastores, membros e congregados de todo o País, aos quais não teria acesso de outro modo.
Aumentaram exponencialmente as histórias em off no Facebook, WhatsApp, etc. Nos casos genuínos procuro aconselhar quando possível e noutros guardo no meu acervo de memórias. Tem crescido, porém, os relatos de abandono e falta de cuidado pastoral. Desde aqueles casos generalizados de líderes que não nutrem suas ovelhas, senão com um feno seco sem sabor, até a falta direta de atenção.
São pessoas que somem da igreja e não são procuradas por seus pastores. Famílias que perdem entes queridos e ninguém assiste. Centenas que se desviam e os perdemos todos os dias para o mundo e pouco ou nada se faz a respeito. Crescem os casos de lideranças que dão mais espaço e atenção à demandas alheias à igreja local e/ou ao reino de Deus. E até relatos de pastores que precisam do cuidado de pastores, mas não tem!
Para mim é preocupante que isto ocorra numa era de grandes recursos comunicativos. Esperar que Paulo contactasse rapidamente os membros de suas igrejas sem um telefone, um e-mail, é algo impensável. Mas hoje temos tudo isto e muito mais à disposição. Que diremos (falo para aqueles que estão afeitos às congregações diretamente) ao Justo Juiz? De que modo a parábola dos talentos não se aplica a tal desleixo? Como aquele que cuidava relaxadamente de valores financeiros para seu senhor foi tratado, senão jogado em trevas? E o que Ele fará com os que cuidam desleixadamente de seus valores humanos, muito mais valiosos?
Todos os pastores querem ver suas igrejas crescer. Todas querem ostentar grandes templos e grandes roles de membros. Não há ilicitude direta nisso, a não ser quando o tamanho ofusca o cuidado. Quando as pessoas se perdem numa multidão de ofertantes e transeuntes em templos. Quando o que dão se torna mais importante que o que são. Quando ignoramos o calor de uma visita, um estender de mãos, um abraço, um gesto carinhoso. Quando projetos pessoais tomam o lugar do reino de Deus.
Conheço várias histórias de grandes pastores, que poderiam estar em megatemplos, recebendo salamaleques em grandes eventos, mas preferem o bucolismo de olhar nos olhos de cada uma de suas ovelhas com todo o cuidado e respeito que merecem, sabendo que cuidam não pra si, mas para o Rei! Aliás, o eventismo a que estamos submetidos tem embotado as necessidades comezinhas das ovelhas, passando a impressão que está tudo sob controle, quando não está!
É justo que me perguntes o que tenho feito a respeito. Posso assegurar que é muito pouco, dado que, como já disse, não estou à frente de uma congregação. Também já disse que tenho aconselhado no melhor sentido. Nada disso me exime, dado o cargo que ocupo, mas eu entreguei algumas congregações sobre as quais tinha responsabilidade, por não poder assistir como deveria. Já é um bom começo abrir o espaço para que alguém com mais tempo e dedicação, possa suprir nossas lacunas. Mormente, mantemos o timão em nossas mãos quando não estamos levando o navio a lugar nenhum.
Aquele que vive eternamente, a seu tempo, cobrará muito mais caro daqueles pastores que insistem em ostentar um título, sem dar conta da responsabilidade, do que de mim!