Meus nobres 150 leitores, o púlpito sempre foi lugar de destaque numa igreja, desde quando apareceram seus primeiros modelos. Seja aquela catedral na esquina da grande avenida ou a congregação pequena do subúrbio. Anos atrás a Assembleia de Deus tinha por praxe não subir mulheres neles. Quem não lembra de um tempo em que elas recebiam o microfone embaixo do chamado “altar”.
Aqui está a primeira controvérsia. O púlpito não é altar. Não no sentido do Velho Testamento. Expressões como “o fogo sai do altar” apesar de soarem bem, não guardam biblicamente nenhuma relação com o púlpito. Contraditoriamente, a primeira vez que o fogo a que alguns se referem hoje como proveniente do altar queimou foi num recinto que não o possuía: o Cenáculo! E o altar do Velho Testamento servia não à pregação do Evangelho ou ao ensino, mas ao sacrifício e à manifestação de Deus.
Aliás, o púlpito é uma invenção católica. O prelado fazia a pregação de um lugar elevado, de onde pudesse enxergar todos os presentes (veja na galeria abaixo). Era de lá que ele conseguia computar os ausentes. Detalhe: ele ficava ao lado da nave, na lateral do público. Isso não quer dizer que devamos destruir todos os púlpitos. Quer dizer apenas que devemos corrigir nossa percepção errada dos elementos do templo! Aliás, se formos extirpar tudo aquilo que veio para nós da Igreja Católica e impregnou nossa liturgia vai sobrar pouca coisa.
E por que Deus não resolve o problema? Porque na sua vontade há coisas com as quais ele trata pessoalmente [vontade diretiva], noutras dá de ombros [vontade permissiva]. Preferência por paletó para oportunidade, cadeiras maiores e menores, cores, formatos e materiais usados em púlpitos, formatos de templos, logomarcas, hinários, horários, escalas e dias de cultos são coisas que Deus entrega ao domínio humano. O perigo que ronda as igrejas é espiritualizar estas coisas. Não duvido que em algum lugar do mundo alguém esteja endeusando a cor de sua igreja, o formato de seus púlpitos, liturgias e etc. Esta postura não tem base bíblica. No máximo serve à organização institucional e, no limite, ao ego de sua liderança. Há muito pouco de Deus nestes detalhes…
Resta apenas a percepção de que o púlpito é um lugar solene, de onde emana a pregação e o ensino da Palavra de Deus. Por que então muitas vezes ele tem sido utilizado, até em igrejas sérias e ortodoxas, para a diversão dos membros ou para bizarrices antibíblicas?
A primeira razão é que os líderes estão mais preocupados em atrair pessoas. Há um exagero nas igrejas por eventos, por exemplo, que se sobrepõem aos cultos ordinários. Daí que há muitos visitantes e templos cheios, mas muitas pessoas estão alheias á essência dos trabalhos. Com o apelo midiático dos cultos online e transmissões televisivas a coisa ganha ares alarmantes. Qualquer um através de um Facebook Live da vida transmite um culto!
Outro perigo adicional é pensar que a Igreja está crescendo, em função de tais eventos, quando pode estar apenas inchando. Em algum momento as doenças deste inchaço vão se manifestar. Via de regra, quando cessam os eventos o público esmorece.
A segunda é que há um falta generalizada de conteúdo nos púlpitos. Então é preciso criar atrativos para mimetizar quão ocas estão muitas pregações e louvores. A diversão não é o aperitivo perfeito apenas para incautos e descompromissados, mas para pastores despreparados ou relaxados. Se sobram ofertas, melhor ainda!
Infelizmente, o resultado de tal pragmatismo são igrejas sem vida, ovelhas sem alimento. O púlpito, concebido não pela Igreja Primitiva, mas pela Igreja Católica, era lugar de reflexão e aprendizado da Palavra, ainda que predominasse a cosmovisão da Igreja. Hoje nem isso muitas vezes é possível. O domingo, salvo raras exceções, tem sido de dor e sofrimento para quem trabalha uma semana exaustiva e só tem aquele dia para receber alguma coisa da Palavra de Deus.
Finalizo me socorrendo de uma imagem que sintetiza a pobreza de muitos pregadores, que se utilizando do púlpito querem empurrar um feno seco e sem nutrientes para seus ouvintes (clique para ampliar). Como se vê o problema é antigo!
Oremos para que isto mude. É possível. É necessário. É urgente!