A eleição tem o poder de nos hipnotizar. José Neumanne, em excelente artigo para o Estadão*, afirmou que os políticos (Dilma, Lula, Eduardo Campos, Serra & Cia) já estão em campanha para não ter que trabalhar. O que é verdade, ao menos em termos gerais. Os postulantes lançam seus balões de ensaio, os simpatizantes digladiam entre si, mas, enfim, a campanha chega ao final. Infelizmente, não houve nem um mês após as eleições da CGADB e já tem gente dizendo que não quer ser candidato. Quando se bota muito defeito no cavalo… Entenderam?
Passadas as eleições, digo, as nossas eleições assembleianas, é hora de arregaçar as mangas e fazer o que está previsto. Eu não vi em lugar algum as propostas da chapa Amigos do Presidente, mas supondo que há algo a fazer, que tenha havido algum compromisso, ao menos, informal, sugiro (quem sou eu, não é?) algumas ações. Uns tomarão por petulância, outros darão de ombros. É assim que as coisas funcionam hoje. Quando alguém sugere, é metido, quando não, é fleumático. Quando faz, exibido, quando não, omisso. Acontece…
Parto do pressuposto de que a CGADB é o CNJ das Assembleias de Deus no Brasil, inclusive as representa em eventos internacionais. Além disso está no topo da estratégia eclesiástica. Temos, então, alguns desafios. Creio que o nobre presidente terá a autoridade dada pela maioria dos votos em sua eleição, a garra e a disposição, pois postulou o posto e o apoio dos vários presidentes de Convenção Estadual que, em quase unanimidade, o apoiaram e à sua chapa. Notem, porém, que os desafios não estão postos para me agradar, ao contrário, são todos urgentes e necessários. Aliás, alguns deles são tão urgentes que já passaram do ponto!
1) Estruturar uma rede nacional de informações. A Convenção Geral não tem informações
confiáveis da quantidade de membros em nossas igrejas. Aliás, as Convenções também não, espelhadas, talvez, numa indolência generalizada. É a hora de se fazer um levantamento nacional e coletar estas informações junto às igrejas, fazendo a cobrança adequada por dados com qualidade e eficiência. Como desdobramento desta ação podemos delinear aonde investiremos tempo e recursos na evangelização e em outros esforços de cunho estratégico. Há alguns anos li, na Ultimato, que no sertão nordestino há 182 cidades com menos de 1% de evangélicos. Desconfio que os percentuais não sejam muito animadores em algumas cidades do Agreste também. Claro, claro, há o problema da desconfiança de compartilhar tais informações, mas a CGADB, amparada por seu estatuto, poderia superar tal obstáculo;
2) Estruturar um plano nacional de evangelismo. O último foi a Década da Colheita, há mais de vinte anos, em 1990. Há uma comissão da CGADB que utiliza dados ultrapassados de 1993. É preciso atualizar os dados, por isso o item anterior, mas também criar os eventos de forma a cobrir todo o Brasil. Porém, não basta dar relevo apenas a cantores e pregadores apadrinhados. É preciso algo maior. Que tal se espelhar no antigo Ministério Bernard Jonhson? Preparação dos envolvidos, evangelização, cruzadas com prioridade no louvor local e tempo de pregação, depois discipulado de qualidade. Imagino que os remanescentes daquele ministério não hesitariam em ajudar uma iniciativa nacional. O planejamento logístico e financeiro, que é fundamental, seria compartilhado entre a CGADB e as Convenções. Pra que tantas comissões, se não se pode fazer algo desse porte?
3) Atuar na qualidade teológica de nossas igrejas. Que tal um ENEM para os teólogos assembleianos? Um exame de proficiência teológica? Que tal estabelecer um nível mínimo de aprendizado nacional? Teriam os teólogos formados nos seminários assembleianos condições intelectuais de serem aprovados num exame sobre a teologia corriqueira dos seminários? Via de regra, há seminários cuja grade curricular é fraca e as aulas, propriamente ditas, uma negação. Mas são aprovados pelos conselhos educativos, sem que haja uma avaliação adequada de instalações, currículos e conteúdos.
De quebra, inibiríamos eventos ditos pentecostais cuja efusão conhecida é de arrogância e meninice espiritual. Investiríamos na qualidade teológica dos eventos promovidos pela CPAD, que, por vezes, deixam a desejar. Preletores preparados no currículo, mas fracos na exposição e no conteúdo. Eu já tive a oportunidade de me decepcionar com a expectativa em torno desses eventos. Mais de uma vez. O problema é que, via de regra, os preletores são escolhidos pela proximidade com o centro de poder, alijando os críticos mais competentes. Temos que acabar com esse ranço ultrapassado.
Eu estava, por exemplo, em Itapissuma/PE há alguns anos, quando um preletor assomou o púlpito. Este homem pregou por 45 minutos sobre a unção de Davi. Citou dezenas de versículos, a ponto de eu conferi-los pela minha incredulidade. Foram minutos de Bíblia e profundidade teológica. Detalhe: há inúmeros homens assim pelo Brasil que não tem oportunidade, nem apadrinhamento. Se formos incluir algumas mulheres bem preparadas que temos, alguém se eriça logo com a questão do ministério feminino, mas nenhum seminário, nenhuma EBD, abre mão de suas mulheres professoras!? Por mediocridade escolhemos o pior! O mais incrível é, por exemplo, disseminar via lições bíblicas palavras em grego e hebraico, quando nossos seminários, por vezes, não se aprofundam em tais matérias. Já há seminários que possuem uma grade curricular com exegese, sem ensinar as duas línguas padrão!
4) Despertamento de talentos no louvor e na produção literária. A CPAD, salvo raríssimas exceções, tem servido aos que gravitam em torno dela. Via de regra, para integrar o cast da editora é preciso um longo e heterodoxo caminho, quando a prioridade deveria ser a qualidade e o rigor teológico. No louvor se dá o mesmo. Por anos a Patmos Music lançou cantores convenientes para o eixo Sudeste, sendo que há inúmeros talentos Brasil afora! Não estou duvidando da qualidade de cantores e escritores que integram o quadro da editora, estou afirmando que há um Brasil de possibilidades. Tomemos, por exemplo, as lições bíblicas. São os mesmos comentaristas em 90% delas! Quantos Marcelos Santos ou Lídias existem Brasil afora? Dezenas, centenas, milhares? Lhes falta oportunidade!
O que fizeram com os concursos literários? Aonde estão os fomentos de talentos escritores? Por que os gêneros agraciados não mudam? Harry Porter vende milhões de exemplares no mundo e uma editora não percebe o filão? Tenham paciência!
5) Fazer as cobranças relativas ao uso do nome. Vou continuar batendo nessa tecla por quanto tempo for necessário. O corriqueiro hoje é uma pessoa qualquer abrir um ponto de pregação em casa e por um dístico: Assembleia de Deus dos Pés de Fogo. Faz só um adendozinho. Não pode ser assim. O nome Assembleia de Deus foi construído a ferro e fogo por nossos pioneiros. Não podemos, por omissão, deixar que qualquer um o aplique em qualquer lugar. Se o usuário não se dá por achado, esgotadas as gestões no campo pessoal, partamos para o acionamento jurídico. Conheço igrejas desse tipo que não tem sequer um CNPJ!
Outra atitude bem vinda seria a divulgação das Convenções filiadas à CGADB, através dos periódicos assembleianos ou com uma chamada para a página eletrônica da mesma, dando o máximo de destaque possível. Aqui, em Pernambuco, tem uma palhaçada promovida por determinadas pessoas dizendo que nossa Convenção COMADALPE não é filiada ao Belém, como se não fosse uma Convenção genuinamente assembleiana. Já tive a oportunidade de presenciar alguns irmãos incautos e inocentes mencionarem que seu líder outrora havia disseminado esta mentira. Por falar nesse assunto, seria muito bom que o presidente eleito instaurasse a prática de um obreiro da CGADB ser recebido, sem reservas, em qualquer Convenção filiada. No modus operandi atual o entendimento é que ou a carteira da CGADB está sendo dada a qualquer um (a juízo de uma pessoa ou outra) ou ela não vale nada, pois ao chegar em determinados lugares com sua carteira de ministro alguém corre o risco de ser menos bem recebido do que um não crente! Onde se viu isso? Ou então não precisamos da carteira? Se ela só vale em minha Convenção, quando eu viajar irei com uma carta!
6) Preparar a descentralização das eleições. É urgente, já passou da hora, dessas eleições serem feitas nas Convenções filiadas, num final de semana, por exemplo. O que acontece hoje é que quem pode ir à AGO vota e os demais são ministros de segunda categoria. Por conta do trabalho, da saúde, da extensão do deslocamento, os que não podem ir estão alijados das decisões. Das duas uma, ou se confia na seriedade das Convenções para realizar, com lisura, um processo desta natureza, ou desligamos aquelas nas quais não confiamos. O que não pode perdurar é esse alijamento!
A consequência disso é o total desinteresse dos que não podem ir à AGO, com o efeito adjacente da sub-representação. Agora mesmo 17.000 pessoas votaram por 50.000, decidindo o destino de 12 milhões!? Há alguma conveniência nisso ou já teria mudado. Pura sensatez concluir assim. Não pode passar despercebido que a maioria dos obreiros não é assalariada pela Igreja. Não podendo, portanto, ficar à disposição para esse tipo de deslocamento;
7) Administração financeira. Aqui é outros dos nós górdios, aliás, nem tão assim. Diz a lenda que o nó consistia de resolver um problema difícil com uma solução fácil. No caso em questão não há facilidade, mas falta boa vontade. De um lado temos a questão da administração propriamente dita, depois vem a prioridade, a transparência e a fiscalização. Conheço ministros de diversas Convenções Brasil afora. E a gritaria surda é a mesma. É uma fileira enorme de termos dos mais críticos aos mais leves, malversação e desvio dos recursos, utilização em proveito próprio, desperdício, falta de planejamento, ausência de orçamento, ostentação.
Se uma igreja foca grandes construções, mas não sustenta condignamente seus obreiros, ao menos aqueles responsáveis por igrejas, algo está errado. Afinal é aquele obreiro que mobiliza o carreamento de dízimos e ofertas para a tesouraria central. Que estas palavras não sejam tomadas apenas pelo lado racional, mas a realidade é que não é preciso muito para oferecer de maneira organizada e sensata tal sustento uma vez que nossas igrejas registram crescente arrecadação. Não é possível compreender que uma igreja possa financiar grandes eventos, sabendo que obreiros trabalhadores estão atravessando dificuldades e nada se faz por eles. Ou quando se sabe das dificuldades, mas se fique alheio à questão!
Algumas Convenções resolvem o problema da seguinte forma: quase não consagram ministros. Há um pequeno núcleo favorecido e os outros ficam a ver navios. Aliás, a figura do núcleo apanagiado financeiramente é predominante. Há obreiros que recebem um determinado valor e outros no mesmo patamar de responsabilidade e envolvimento que auferem a metade ou um terço. Porque não abanam o chapéu ou porque não têm um sobrenome famoso.
Eu não sei como é funcionamento da Convenção sob responsabilidade de nosso prezado presidente, neste quesito. Há 2.300 congregações lá, com frisou em entrevista ao Estadão, portanto, dinheiro não é problema. Espero que seja o modelo financeiro a ser seguido pelas demais Convenções.
Oportunamente, abordaremos outras questões. Estas são só para não termos que falar sobre a próxima eleição. Há problemas muitos maiores e mais importantes do que saber quem será indicado para o próximo pleito.
Artigo do Estadão: Eleição já, para não ter de trabalhar,