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O que ocorreu na Páscoa!?

Jesus o Cordeiro da Páscoa

É incrível, mas há muitos crentes que não sabem o que é Páscoa! Muitos são criados na Igreja e acostumados com temas mais simples nem se dão conta do que se comemora na chamada Sexta Feira Santa. É uma das festas mais importantes de Israel e, ao mesmo tempo, um dos acontecimentos mais impactantes para a Igreja, pois ela simboliza a morte de Cristo na cruz. Mas, não podemos avançar no assunto sem antes mergulhar um pouco na história de Israel.

O Êxodo

Por que Israel chegou ao Egito? Curiosamente, muitos crentes não conhecem esta história. José, o penúltimo filho de Jacó, foi usado por Deus para acomodar seu povo na nação mais desenvolvida de sua época. Anos depois do sonho de Faraó se cumprir, os irmãos de José, que o haviam vendido para uma caravana de midianitas, se vêem diante do segundo mandatário mais poderoso daquele País. Após idas e vindas José se revela a seus irmãos e causa uma reviravolta na história. O livro do Gênesis termina com o estabelecimento de Jacó e seus filhos no Egito e a morte de José. E aí tudo se complicou para os israelitas. O tempo minimizou a história do patriarca e levantou-se um Faraó (título que significa casa grande) que não o conhecia.

Israel no Egito

Os israelitas moravam na região conhecida como Gósen, no delta do Nilo, conforme imagem acima, e experimentavam relativa prosperidade, quando todos os estrangeiros foram requisitados como escravos para as opulentas construções faraônicas (para um melhor detalhamento da história do Egito clique aqui). Até que Deus decidiu intervir e resgatar seu povo, humilhando Faraó, seus deuses e seu povo.

Após quatrocentos e trinta anos (Êxodo 12:40) os judeus finalmente saíram do Egito e se dirigiram à Terra Prometida, Canaã, que Deus havia prometido a Abraão,Isaque e Jacó. Porém, no dia exato da saída, Deus deu a seu povo a ordenança de uma festa: a Páscoa. O termo hebraico para Páscoa é:

Pêssach

lê-se, pêssá. E significa passar por cima. É um eco da ordem de Deus: E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem (Êxodo 12:7). Para que o anjo da morte não matasse o primogênito daquela casa. Ao ver o sangue (na verdade a obediência do dono da casa) o anjo passava sobre a mesma e ia adiante.

Sangue nos umbrais das portas

O calendário e as festas…

O calendário judaico difere do nosso, pois é regido de acordo com as fases da Lua. Geralmente, os meses iniciam na metade dos nossos, ou seja, entre 13 e 15 do mês do nosso calendário. Além disso, existem dois calendários: o civil e o religioso. O calendário religioso inicia com Nisan e o civil com Tishrei:

Calendário Judaico

O último mês é inserido para balancear a diferença com o calendário solar a cada dois ou três anos. Hoje o calendário é bem diferente com uma série de regras a serem seguidas.

A Páscoa abria o calendário de celebrações, em Nisan, conforme temos abaixo:

Calendário das Festas Judaicas

Festas Judaicas

A Festa dos Pães Ázimos (Hag Matzá, no hebraico) ocorre depois da Páscoa, embora o texto do v. 7 de Lucas a coloque antes. Confira em Levítico 23:5,6: “No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a páscoa do Senhor. E aos quinze dias deste mês é a festa dos pães ázimos do Senhor; sete dias comereis pães ázimos”. Antes de prosseguir, lembremos que Israel é a única nação do mundo que recebeu suas datas comemorativas antes que elas ocorressem!

A Páscoa, propriamente dita, começava no décimo dia (Êxodo 12:3). Neste as famílias adquiriam um cordeiro e observavam por três dias para saber se estava sem defeitos e sem mácula (Êxodo 12:1-6). Podemos imaginar a preocupação dos israelitas com este pormenor. Para as crianças era uma novidade e tanto, um animal de estimação para brincar!

No dia da festa, ao cair da tarde, o pai reunia a família e narrava o livramento de Deus, quando tirou seu povo do Egito. Em seguida, ele matava o cordeiro ou cabrito, para que alimentasse a todos. Diante da objeção de um pequenino o pai poderia indagar: “É este cordeiro ou nós!?”. Imprimindo na alma da criança uma marca indelével de substituição vicária. A partir do 15º dia e por sete dias se dava a Festa dos Pães Asmos, ou Hag Matzá!.

A Última Ceia

Por 32 anos Jesus fora um espectador da festa. Era apenas partícipe junto aos seus discípulos. Porém, nesta Última Ceia ele envia dois de seus discípulos para preparar o Cenáculo e então a encabeça. No momento da cerimônia, Ele afirma: “Desejei muito comer convosco esta Páscoa…”. Mas, espere, que Páscoa?

Primeiro, a mesa. Não era costume dos judeus sentar-se em cadeiras. Eles reclinavam-se (a palavra grega aqui é anakeimai) sobre almofadas e ali comiam pegando a comida com as mãos previamente lavadas. No tempo de Jesus, durante uma refeição, as pessoas limpavam os dedos do molho da carne no miolo do pão e daí jogavam aos cachorrinhos. Por isso a siro-fenícia…

Lembremos que em Êxodo 12, Deus tinha ordenado que os israelitas comessem o cordeiro ou cabrito, assado, não guisado, com pães ázimos e ervas amargas. Com o tempo (não tenho informações de quando) é que o vinho foi acrescentado. No tempo de Jesus era comum três pães e quatro cálices, por influência de Hilel, um dos grandes mestres do Judaísmo. Somente o pão do meio era partido, porém, e apenas uma das metades era dividida entre os presentes e a outra ficava intacta. Contudo, o pão não era fofinho como o conhecemos, pois não tinha fermento, parecia mais um beiju ou uma bolacha. Ressalte-se que ainda hoje é este o pão que os judeus usam!

Matzá – Pão sem fermento

Quanto ao vinho, leiam este comentário do Blog Doutrinas Bíblicas[1]: Desde os tempos mais remotos, o vinho, o pão e outros alimentos são freqüentemente mencionados juntos (1 Samuel 16:20; Gênesis 14:18; Cantares 5:1; Isaías 22:13; 55:1). Sendo do uso comum, «o vinho e pão» representavam o sustento essencial do corpo; por exemplo; Melquisedeque deu «pão e vinho» a Abraão (Gênesis 14.18-20; Salmos 14.15). O vinho era parte integrante de banquetes (Ester 1:7; 5:6; 7:2,7,8), de festas de casamento (João 2:2,3,9,10; 4:46), de refeições (Gênesis 27:25; Eclesiastes 9:7), e de outras ocasiões festivas (1 Crônicas 12:39, 40; Jó 1:13,18).

Por que quatro cálices?

Cem anos antes de Cristo o rabino Hilel conquistou a admiração e a ira de seus pares. Ao lado de excelentes interpretações, outras nem tanto. No que diz respeito a Ceia, Hilel ensinava que houve quatro ações de Deus quando livrou o seu povo de Faraó: “E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se Deus da sua aliança com Abraão, com Isaque, e com Jacó; E viu Deus os filhos de Israel, e atentou Deus para a sua condição.” (Êxodo 2:24,25). A cada uma dessas ações Hilel atribuiu um cálice.

O primeiro cálice era chamado o cálice da santificação, o segundo do juízo, o terceiro da redenção e o quarto do louvor. O ministrante enchia o terceiro cálice um pouco mais e ao dá-lo aos participantes (o cálice era repassado entre todos) ele o entornava, fazendo com que esborrasse. Foi, provavelmente, neste momento que Jesus exclamou: “Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20).

Após o segundo cálice e ao término da cerimônia os participantes cantavam Salmos, iniciando com o 113.

Sua morte

Após a Última Ceia Jesus foi ao Getsêmane. Esta palavra significa prensa de azeite. Era um jardim de oliveiras, comum em Israel. Aqueles troncos retorcidos, que denunciavam a passagem do tempo, ouviram a oração mais angustiante da História. Dizia o mestre: “Passa de mim este cálice…”. Era a senha perfeita para imaginar que Jesus estava desistindo. Mas num rompante de submissão ele completou: “Todavia seja feita a tua vontade!”. E ainda naquela mesma noite a vontade soberana de Deus se cumpriu. Jesus foi preso e julgado perante Anás e Caifás, os mais proeminentes líderes judeus da época, e perante Pilatos e Herodes, os representantes romanos das leis humanas.

Condenado à crucificação, foi levado como ovelha muda até o matadouro, carregando sua própria cruz. Devido à exaustão causada pela pressão psicológica aliada aos sofrimentos físicos do espancamento e perda de sangue, foi ajudado em sua trajetória por Simão, Cirineu. Fixado na cruz, morreu após seis horas de sofrimento, entre dois ladrões. Não sem antes sofrer o escárnio dos líderes religiosos que gritavam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz.”. Ele não desceu. Por nós suportou uma morte terrível e odiosa.

Então, Páscoa não é chocolate, ovos, bacalhau, boa comida ou bebida. Aliás, a comida servida pelos judeus em suas mesas era uma amarga lembrança da estadia no Egito. Claro, claro, era um grito de liberdade. Até porque outras festas se seguiam e eram alegres comemorações da saída daquele lugar.

Para nós, evangélicos, é a comemoração da libertação do cativeiro do pecado. O alto preço, impagável para nós, foi pago por Cristo. A dívida foi quitada e tudo que podemos ou devemos fazer é aceitar por fé este sacrifício por eficiente ato unilateral de Deus. A páscoa nos lembra o perdão que substitui, Cristo é nosso propiciatório, aquele que nos permite acesso a Deus. Desde então não é mais necessário sacrifícios de qualquer natureza, foram todos cumpridos e abolidos por Cristo!

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53:5).

Uma Nova Aliança

Ouçamos Jonh MacArthur[2]:

Desse momento em diante, aquela última Páscoa se tornou a instituição da ordenação da Nova Aliança conhecida como a Ceia do Senhor. Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras (Mateus 26.26-30).

A Páscoa tinha sido observada em Israel desde a véspera da partida deles do Egito sob Moisés – quase mil e quinhentos anos antes de Cristo. Era o ritual mais antigo da antiga aliança. Precedeu a entrega da lei. Foi instituída antes de quaisquer das outras festas judaicas. Era mais antiga que o sacerdócio, o tabernáculo e o restante do sistema sacrificial mosaico.
Essa noite marcou o fim de todas essas cerimônias e a vinda da realidade que elas prenunciavam. Era a última Páscoa sancionada por Deus. A Antiga Aliança, junto com todos os elementos cerimoniais que pertenceram a ela, estava próxima do seu término com a introdução de uma Nova Aliança gloriosa que nunca se extinguiria.

E assim o capítulo da Última Ceia passou aos anais da história como um dos mais tocantes e profundos das Escrituras. A Igreja relembra tal acontecimento com regularidade, obedecendo à ordem de Jesus: Fazei isto até que eu venha! Enquanto a Igreja Católica comemora na Sexta Feira Santa.

[1] http://www.doutrinasbiblicas.com/vinhoceiapascal_t/vinhoceiapascal.htm

[2] MacArthur, Jonh, A morte de Jesus, Editora Cultura Cristã

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