Prezados 200 leitores, como fazemos há cinco anos, trazemos para sua análise a lista de coisas que não mudou em 2017 no mundo evangélico. Quem já acompanha o blog há algum tempo perceberá que não há muita novidade. Ao final de 2016, escrevia: “Em 2016, infelizmente, não há nada que possamos tirar de 2015. E eu poderia já deixar agendado para 31/12/2017!”.
Este é um pequeno registro das oportunidades perdidas e lacunas não ocupadas, muitas vezes de maneira intencional e desleixada. Nossa intenção não é focar numa denominação, numa cidade, Estado ou região, mas trazer um panorama nacional. O viés é assembleiano porque é nesta denominação que militamos na causa do Mestre. Obviamente, não podemos relatar tudo e há muita coisa nas entrelinhas para o leitor arguto. Vamos lá?
1) Continua o problema com a bajulação.
Os bajuladores estão por toda parte, mercadejam seus adjetivos e os estendem a quem possa dar algo em troca. A bajulação é um perigo previsto pelo sábio Salomão. Em Provérbios 26:28 ele alerta: “A língua falsa odeia aos que ela fere, e a boca lisonjeira provoca a ruína”. Essa é a essência da bajulação: embrutece as decisões, mina a criatividade e cega a liderança para os verdadeiros problemas.
No âmbito da eleição para a presidência da CGADB, por exemplo, um dos candidatos foi comparado ao próprio Jesus (obviamente o candidato não tem culpa de ser bajulado dessa maneira):
Porém, o ápice da bajulação no mundo eclesiástico se deu no aniversário do próprio Pr. José Wellington Júnior, presidente da CGADB. Ele foi visitado por ninguém menos que o Bispo Samuel Ferreira, da AD Madureira, dissidência da entidade que o aniversariante preside. No mesmo contexto a fundação da CADB, também dissidência presidida pelo Pr. Samuel Câmara. Assista ao que o tal Bispo Samuel falou:
Quem entende do riscado sabe que Ló verdadeiro já tinha ido há muito tempo…
2) O desfoque do que é missão. A Igreja não faz missão, ela é a missão! Construir uma igreja, evangelizar aos domingos, manter uma vida irrepreensível, custear missões transnacionais, ensinar a Palavra, orar, jejuar são aspectos de uma mesma missão, um tão importante quanto o outro! Infelizmente, o tema mais uma vez se consolidou apenas como chamariz para melhorar a arrecadação.
Façamos um pequeno teste: Poste no seu Facebook uma imagem qualquer de meninos esquálidos na África e a relacione a Missões. Você receberá N curtidas, comentários, etc, a depender da visibilidade do seu perfil. Agora poste uma imagem sobre as necessidades de Missões em nossas cidades, no Sertão brasileiro, bem perto de nós. Pouca ou nenhuma atenção receberá. Muitos entendem perfeitamente a necessidade da África, mas não estão nem aí para o que se passa bem perto de si mesmos.
Há hoje no Brasil mais de 100 etnias. São pessoas de países onde não se pode pregar o Evangelho. Mas estão aqui bem perto. Desde os haitianos e seu creoule até os coreanos e refugiados árabes. Poucas igrejas brasileiras tem se interessado em estudar suas línguas e costumes e atuar efetivamente nos grupos anunciando a Cristo.
3) Resiste a teimosia em pregar sobre o Novo Testamento. Houve até quem sugerisse, nas comemorações dos 500 anos da Reforma, extirpar o Velho Testamento da Bíblia. Obviamente, a ideia não pegou. Mas há um trabalho silencioso neste sentido, visto que dos 52 domingos de um ano, em pelo menos 45 teremos pregações sobre o NT. Minha teoria particular é que dá muito mais trabalho pregar em Jeremias ou Isaías. Mas há grandes tesouros no Velho Testamento, o problema é que exige muito mais do minerador para expor suas boas pérolas. Como preguicite aguda é a doença principal dos pregadores fica difícil alterar o panorama.
4) A intensa repetição de hinos nos cultos se manteve. Os orgãos se sucedem mas o hinário continua o mesmo. E a ladainha monocórdica também! “Além do rio azul” tem 26 anos de estrada e ainda é repetido à exaustão! Não mudou também a tendência de ressaltar uma ou outra voz, pondo-lhe um microfone adiante. É grupo ou pessoa? Ainda não chegamos a um consenso. Nada contra os solos, tudo contra os solistas que se apropriam do microfone contra nossos ouvidos, contra o grupo do qual faz parte. É uma exibição patética de egoísmo aplaudida por muitos maestros!
Consolidou-se também a repetição de frases e palavras em hinos. Até bons intérpretes abusam do recurso:
A música evangélica brasileira teve grandes golpes em 2017. Primeiro, uma mocinha bem comportada para a maioria foi gravada neurótica por drogas. Outro mocinho descoberto num grande programa de auditório foi flagrado ridicularizando línguas estranhas e por último um grande ícone bateu bombo numa roda macumba. A coisa ficou complicada. Isso sem falar nos escândalos miúdos, com protagonistas não tão conhecidos.
5) Não conseguimos nos libertar da mitomania. A tendência de elevar nomes, de endeusar conceitos. A briga, por exemplo, entre calvinistas e arminianos ganhou lances homéricos. Certos pastores foram defendidos nas grandes redes por seus seguidores ao melhor estilo corintiano. Não o time de futebol, mas aquele do “Eu sou de Paulo” x “Eu sou de Apolo”. Por falar em time, cresceram as torcidas teológicas organizadas. Ai de quem tocar em Augustus Nicodemus! Vai queimar no mármore do inferno! As páginas “da Zueira” se multiplicaram!
Por falar em mitomania, transpareceu como nunca a estatura de muitos líderes evangélicos. Com raras exceções, estamos perdidos. Constato com tristeza que nosso legado está comprometido, a menos que algo seja feito muito rapidamente. Porém, se levarmos em conta que liderança não é algo que se faz do dia pra noite não há alternativas otimistas.
Um destaque especial vai para a insistência dos grupos reformados em privatizar os 500 anos da Reforma Protestante, em outubro. Se não fossem ignorados não teríamos tão grandes e boas comemorações por todos os lados nas demais igrejas.
6) Tivemos um ano de galardões recebidos. Sim, estourou por todos os lados a tendência ao exibicionismo barato. Alguns casos são bons exemplos de atuação institucional, noutros foi tudo canalizado para o nome de uma liderança e Jesus ficou numa nota de rodapé. Mas as pessoas comuns não fizeram por menos. Deu uma oferta? Vai pro Facebook! Deu um pão a um faminto? Timeline! Visitou um doente? Foto sorrindo já! Tais atitudes se chocam diretamente com o ensino de Jesus. Os galardões celestes foram poupados, porque já se recebeu na Terra o que só receberíamos na eternidade.
6) A tentação megalomaníaca não diminuiu. Quanto maior, melhor: templos, orgãos, eventos. Tudo e todos do mesmo jeito Brasil afora. Se, por exemplo, a quantidade de decisões por Cristo fosse proporcional à de fotos de eventos postadas neste espaço virtual, o Brasil todo já seria evangélico! Os chamados centenários não se fizeram de rogados e todo mundo fez questão de divulgar suas comemorações. Ao vivo, a cores, em telões, muitos telões.
9) A miopia bíblica continuou a crescer no mundo evangélico. Portar, até portamos, já ler, estudar e meditar é outra história. Houve grandes lançamentos em 2017, mas falta apetite para formar massa crítica. Livros massudos de colocaram nos ringues teológicos, a CGADB lançou nossa esperada Confissão de Fé (que muitas lideranças compraram ou ganharam e muitos, infelizmente, não leram). Nada mudou a apatia do brasileiro para a leitura. Não à toa o Facebook chegou a 102 milhões de usuários ativos em nosso País.
Por falar em Facebook, maior que a miopia bíblica só a das grandes igrejas e ministérios para as redes sociais. Em plena era digital e com o uso massivo de tecnologia o orçamento é cem, mil vezes maior para a mídia convencional, que dá quase traço de audiência em qualquer segmento. Uma grande igreja, pasmem, lança vídeos semanais de estudos para a EBD e bloqueia os comentários no Youtube, outras não estão nem aí para a oportunidade. Praticamente não há vídeos institucionais em datas importantes produzidos por grandes igrejas brasileiras ou eles não dão audiência sensível. Um vídeo mórmon, ao contrário, sobre o Natal já vai em seis milhões de visualizações:
10) A fome e a ânsia por poder, cargos e espaços permaneceu estável, nas alturas, no mundo evangélico. Dos mais elevados orgãos às minúsculas células todos querem ser e aparecer. Isso citando ao pé da letra: “Convém que Ele cresça e eu diminua…” É brincadeira? Todos buscam projeção, de preferência pisando nos irmãos. João Batista é mera peça de retórica. Meses antes das Escolas Bíblicas de Obreiros assembleianas temos aspirantes que chegam cedo, bajulam ao microfone, afetam espiritualidade. Passada a consagração/separação desaparecem dos cultos e passam a falar mal do pastor se não colocados nos cargos desejados.
Como já sabem a eleição para a CGADB ocorreu e a família que detinha o cargo há trinta anos ganhou mais uma. Decorridos 176 dias, desde 03/07/2017, dia da posse adiada por problemas com a Justiça, nada digno de registro ocorreu e as propostas do candidato estão em banho maria. Terrível para uma denominação com demandas do século passado.
11) A falta de aplicação do que se aprende na EBD e nas EBOs continua de vento em popa. O estudo flui, o aprendizado está por toda parte. Já colocar em prática… O que tem de vídeo no YouTube ensinando sobre a Bíblia não se conta. As pessoas os assistem, até vibram com eles, mas desistem de colocar as premissas em prática. Se a liderança e o povão cumprisse 10% do que vai nos Congressos e afins a Igreja já seria outra! Aquela humildade, por exemplo, pregada nas Escolas Bíblicas não condiz com a arrogância exercida no dia a dia de muitas igrejas. As apostilas se multiplicaram, virou moda criar slides, já que os datashows estão mais populares. A questão é praticar o que se ensina! Gráficos bonitos que não funcionam na ortopraxia da Igreja não servem!
12) A teimosia de pregadores em usar chavões e frases de efeito resistiu a 2017 no mundo evangélico. Toque no seu irmão, diga para ele isso ou aquilo, grite para estourar os ouvidos do Diabo, urre perante seu Deus e vai por aí afora. O que dizer dos que imitam outros pregadores? Uma lástima! O caldo entorna com “Olha o anjo aí do teu lado”, “a benção está caindo”, “pão quente do Céu”… Este último nada tem de pão, nem de quente, muito menos do Céu! Continua a moda de dizer “É forte!”, para cultos vazios de Deus e cheios de meninice!
13) O desleixo com o Sertão brasileiro. Milhões de pessoas que habitam o semi-árido nordestino continuam à espera de uma estratégia de evangelização eficiente. Uma região relativamente fácil de alcançar, se houvesse boa vontade e desejo sincero. Aqui em Pernambuco 1 em cada 5 pessoas são evangélicas, falta muito para cumprir o Ide.
14) Continua a teimosia em confundir usos e costumes com doutrinas bíblicas. E até justificar certas opções distorcendo textos bíblicos. Não queremos diminuir a importância dos costumes, porém, esquecer da doutrina na sociedade do conhecimento é fatal! O púlpito, via de regra, anda sem alimento sólido e de qualidade para a Igreja.
15) A teimosia em confundir movimento com avivamento. A turma até sacoleja e faz uns gestos irreconhecíveis. No fim, não sobra nada e vai todo mundo pra casa. O verdadeiro avivamento traz compromisso com a Obra de Deus. Avivamento que não leva as pessoas para a evangelização, por exemplo, é mero fogo de palha! Vigilhões, conferências proféticas, via de regra, são cultos onde há de tudo, menos avivamento. Permanece a mania de manipular estatísticas para inflar o número de batismos no Espírito Santo.
16) A teimosia em receitar fórmulas para o agir de Deus. Quer um novo emprego? Siga tais e tais passos. Um novo relacionamento? Siga os sete passos. Resultaram em retumbante fracasso. Deus não trabalha no timing do homem! Muitos terminaram o ano sem receber nada ou quase nada!
17) A associação cada vez maior com a política secular. Aliás, tem Câmara de Vereadores perdendo para algumas igrejas. Estouraram vários casos ao longo de 2017 que não deixaram dúvidas sobre essa constatação. A Lava Jato capturou diversos pastores com o nome nas listas de propinas. As justificativas, um capítulo à parte. O nepotismo, o fisiologismo, o patrimonialismo, a prioridade oligárquica, a manutenção do status quo, floresceram e criaram raízes mais ainda no ano que se finda.
18) O Diabo continua na berlinda. Suspeitamos que Deus tenha menos espaço nas prédicas. Ora é culpado pela queda vertiginosas nos dízimos, ora quer tirar aquele programa de um televangelista famoso da TV. Enquanto a ideologia de gênero aprontava nas escolas, no Parlamento o Diabo recebia pancadas. Os suicídios de pastores vieram à tona e novamente o Tinhoso foi o responsável. Até quando Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel o Diabo levou a culpa.
Que Deus tenha misericórdia de nós! E que tenhamos um 2018 diferente.