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O que não mudou no mundo evangélico em 2016?

Monotonia no mundo evangélico

Já se tornou tradição postar uma lista de coisas que não mudou em cada ano. Foi assim em 2013, 2014, 2015 e agora.

Em 2016, infelizmente, não há nada que possamos tirar de 2015. E eu poderia já deixar agendado para 31/12/2017! Para nossa tristeza não mudou (apenas acrescentando alguns retoques):

Bajulação

1) A impressão de que os pastores adoram pessoas que os bajulem e se comprazem em estar cercados do maior número possível de aduladores! Com o Facebook a coisa se adensou. O que tem de líderes adulando seu superior… A meritocracia tem descido a níveis críticos… É o episódio do homem “sim”. Aquele que só assente sem nenhum raciocínio crítico, por medo, omissão, dependência ou ignorância. Postei aqui em Bajulação é de Deus? Como é dos posts recordistas de acesso do blog, tudo indica que outros numerosos irmãos tem a mesma percepção que eu. Os bajuladores estão por toda parte, com a diferença que muitas vezes também são idiotas. Como disse Nelson Jobim, eles perderam a modéstia, antigamente, chegavam e ficavam quietos.

Deturpando missões

2) O desfoque do que é missão. A Igreja não faz missão, ela é a missão! Construir uma igreja, evangelizar aos domingos, manter uma vida irrepreensível, custear missões transnacionais, ensinar a Palavra, orar, jejuar são aspectos de uma mesma missão, um tão importante quanto o outro! Infelizmente, o tema se consolidou apenas como chamariz para melhorar a arrecadação. Na ausência de dízimos e ofertas ou na conversão destes em contribuições missionárias disfarçadas. Quantos não se especializaram em palestras missionárias enquanto não evangelizam um vizinho ou amigo? Nunca se desejou tanto ir à missão, desde que sejam cumpridos alguns requisitos: sombra e água fresca, são os dois primeiros itens. Bom salário, o terceiro. Missão assim é muito fácil.

3) Permanece a teimosia em pregar sobre a mulher do fluxo de sangue. De 52 possibilidades de pregações ouvidas aos domingos, 20 são sobre o assunto diretamente e 20 são citações relacionadas. Por que se gosta tanto da história é um mistério que persiste há décadas… Se somarmos os outros cultos, aí a coisa fica crítica! Alguns expositores adoam falar dos detalhes. Dizer, por exemplo, que na época não havia absorvente, que a mulher deixava um rastro de sangue enquanto caminhava ou que era conhecida por sua anemia… Coisas dispensáveis, e até vergonhosas, enfim! A falta de criatividade na pregação permanece!

4) Resiste a teimosia em pregar sobre o Novo Testamento. Novamente dos 52 domingos de um ano, em 45 teremos pregações sobre esta parte da Bíblia. Não sabemos o porquê! Minha teoria particular é que dá muito mais trabalho pregar em Jeremias ou Isaías. Mas há grandes tesouros no Velho Testamento, o problema é que exige muito mais do minerador para expor suas boas pérolas. Preguicite aguda é a doença principal dos pregadores. Com o Control + C/Control + V se adensou;

Repertório repetido!

5) A intensa repetição de hinos nos eventos se consolidou. Os orgãos se sucedem mas os hinos continuam os mesmos. E a ladainha monocórdica também! “Além do rio azul” tem 25 anos de estrada, sem que muitos que o ouvem pensem no Céu, nem no que fazer para lá chegar! Não mudou também a tendência de ressaltar um ou outra voz, pondo-lhe um microfone adiante. É grupo ou pessoa? Ainda não chegamos a um consenso. Nada contra os solos, tudo contra os solistas que se apropriam do microfone contra nossos ouvidos, contra o grupo do qual faz parte. É uma exibição patética de egoísmo!

Templos cheios de pessoas, mas vazios de Deus

6) A teimosia em confundir quantidade com qualidade se consolidou. Exposição midiática com representatividade espiritual. Tais aparições só obscurecem o senhorio de Cristo sobre a vida da Igreja. Há momentos vergonhosos em 2016. A bola da vez até balançou pelas dívidas em 2016, mas atravessou são e salvo, é o apóstolo Agenor Duque com sua esquisitice gospel e seu apetite por dízimos. Mas se as tomadas cenográficas mostram muita gente, está serto! Olha este culto cheio de pessoas, mas vazio de Deus e de sua Palavra! Em muitos lugares sobra gente e falta espiritualidade.

7) A teimosia em cantar hinos antropocêntricos permaneceu. Há vinte e tantos anos meu professor de música dizia que massageiam nosso ego. Não conseguimos superar o afago… Os cantores de tais hinos passaram a ser tomados como pensadores e teólogos, aí desgringolou de vez!

 

8) A tentação megalomaníaca não esmaeceu. Quanto maior, melhor: templos, orgãos, eventos. Tudo e todos do mesmo jeito Brasil afora. Se, por exemplo, a quantidade de decisões por Cristo fosse proporcional à de fotos de eventos postadas neste espaço virtual, o Brasil todo já seria evangélico! O que dizer do eventismo do sétimo dia? Agora não temos mais cultos, mas eventos. Conheço igrejas que os tem toda semana, para alimentar programas televisivos e home pages. Quando o carrossel parar… O que brecou alguns projetos megalomaníacos foi a crise que chegou com força e as críticas nas redes sociais;

Fizemos aqui uma boa crítica aos grandes templos, que está entre os dez posts mais acessados do blog. A Igreja precisa crescer e acomodar seus membros, mas a megalomania pede mais, é preciso esmagar a concorrência com elefantes brancos que custam uma fortuna em sua manutenção. Depois é preciso promover grandes eventos para ocupá-los. E tudo isso à custa de dízimos e ofertas, enquanto lugares há no Brasil, que os crentes não tem sequer onde sentar. E quem não tem um grande templo para chamar de seu, gostaria de construí-lo!

9) A miopia bíblica cresceu no mundo evangélico. Portar, até portamos, já ler, estudar e meditar é outra história. Houve grandes lançamentos em 2016, mas falta apetite para formar massa crítica. Como já dissemos aqui no ano passado e no retrasado, é a Bíblia do Obreiro Aprovado, para obreiros reprovados em teologia. A Bíblia da mulher que ora, para as mulheres que não oram, só falam da vida alheia, com o perdão da generalização. Bíblia do Jovem, que passa o dia no Facebook e não está nem aí para ler a Palavra de Deus. Bíblia de Estudo de estudiosos que falam obviedades, copiando e colando descaradamente estudos de colegas e textos da internet. A Bíblia com a numeração Strong, para os que não sabem nem hebraico, nem grego. A Bíblia das Mulheres Diante do Trono, para mulheres que não estão distante do… trono! á fizemos, inclusive, uma grande crítica a tais lançamentos.

10) A fome e a ânsia por poder, cargos e espaços permaneceu no mundo evangélico. Dos mais elevados orgãos às minúsculas células todos querem ser e aparecer. Isso citando ao pé da letra: “Convém que Ele cresça e eu diminua…” É brincadeira? Todos buscam projeção, de preferência pisando nos irmãos. João Batista é mera peça de retórica. Meses antes das Escolas Bíblicas de Obreiros assembleianas temos aspirantes que chegam cedo, bajulam ao microfone, afetam espiritualidade. Passada a consagração/separação desaparecem dos cultos e passam a falar mal do pastor se não colocados nos cargos desejados.

Em 2016 se consolidou a antecipação da eleição para a CGADB, que só ocorrerá este ano. Ao invés de pensar ações para a denominação seus líderes maiores estão engajados em manter o cajado com uma família, que governa a entidade há quase 30 anos. Todo mundo só pensa nisso. Nas outras denominações do mundo evangélico não é muito diferente. O jogo só é um pouco mais dissimulado.

11) A teimosia departamental vai de vento em popa. Surgiu uma necessidade se cria um departamento. Ninguém pensa: é possível separar um grupo dentro do orgão para fazer este trabalho, que, por vezes, é o mesmo trabalho só que de forma mais aprimorada. Por outro lado, um conjunto quer cantar melhor? Cria-se um grupo de louvor dentro dele! Ao invés de aprimorar o grupo todo. Aí vem superintendente, supervisor, mestre, contra-mestre, secretária, tesoureira, caixa, aniversário, despesas, espaços em cultos (que já são exíguos) para cada novo departamento;

12) A falta de aplicação do que aprende na EBD e nas EBOs. O estudo flui, o aprendizado está por toda parte. Já colocar em prática… O que tem de vídeo no YouTube ensinando sobre a Bíblia não se conta. As pessoas os assistem, até vibram com eles, mas desistem de colocar as premissas em prática. Se a liderança e o povão cumprisse 10% do que vai nos Congressos e afins a Igreja já seria outra! Aquela humildade, por exemplo, pregada nas Escolas Bíblicas não condiz com a arrogância exercida no dia a dia de muitas igrejas. As apostilas se multiplicaram, virou moda criar slides, já que os datashows estão mais populares. A questão é praticar o que se ensina! Gráficos bonitos que não funcionam na ortopraxia da Igreja não servem!

13) A teimosia de pregadores em usar chavões e frases de efeito resistiu no mundo evangélico. Toque no seu irmão, diga para ele isso ou aquilo, grite para estourar os ouvidos do Diabo, urre perante seu Deus e vai por aí afora. O que dizer dos que imitam outros pregadores? Uma lástima! O caldo entorna com “Olha o anjo aí do teu lado”, “a benção está caindo”, “pão quente do Céu”… Este último nada tem de pão, nem de quente, muito menos do Céu! A moda é dizer “É forte!”, para cultos vazios de Deus e cheios de meninice!

14) A teimosia em afetar poder se consolidou. Uns gritam, outros imitam línguas, outros pulam. O que dizer do vídeo abaixo? Poder não tem a ver com gestualização, nem com olhos esbugalhados, socos ao vento. Poder tem a ver com unção e graça visando resultados práticos para o reino de Deus! Se almas, por exemplo, não se convertem, temos que reavaliar que poder é esse!

15) O desleixo com o Sertão brasileiro. Milhões de pessoas habitam o semi-árido nordestino. Uma região relativamente fácil de alcançar, se houvesse boa vontade e desejo sincero. Salvo as raras e honrosas exceções, continuamos só tendo olhos para o exterior… Em Pernambuco são 49% das cidades com menos de 10% de evangélicos, na Paraíba 73%. O problema se repete por todo Nordeste. São muitas pessoas para serem ignoradas, mas são invisíveis para o mundo evangélico!

Cidades com menos de 10% de evangélicos

16) A teimosia em confundir usos e costumes com doutrinas bíblicas. E até justificar certas opções distorcendo textos bíblicos. Não queremos diminuir a importância dos costumes, porém, esquecer da doutrina na sociedade do conhecimento é fatal! Diversas igrejas foram sacudidas por profetadas de carapuça sobre tais usos e costumes e muitas se abriu espaço a partir do púlpito. Neste mesmo púlpito falta alimento sólido e de qualidade para a Igreja. Por falar em profetadas o Rio Mar continua de pé, segundo alguns profetas ia cair até a virada do ano;

17) A teimosia em confundir movimento com avivamento. A turma até sacoleja e faz uns gestos irreconhecíveis. No fim, não sobra nada e vai todo mundo pra casa. O verdadeiro avivamento traz compromisso com a Obra de Deus. Avivamento que não leva as pessoas para a evangelização, por exemplo, é mero fogo de palha! Vigilhões, conferências proféticas, via de regra, são cultos onde há de tudo, menos avivamento. Permanece a mania de manipular estatísticas para inflar o número de batismos no Espírito Santo.

18) A teimosia em receitar fórmulas para o agir de Deus. Quer um novo emprego? Siga tais e tais passos. Um novo relacionamento? Siga os sete passos. Resultaram em retumbante fracasso. Deus não trabalha no timing do homem!

19) A associação cada vez maior com a política secular. Aliás, tem Câmara de Vereadores perdendo para algumas igrejas. Estouraram vários casos ao longo de 2016 que não deixaram dúvidas sobre essa constatação. A apropriação indébita, a locupletação, o nepotismo, o apadrinhamento, o fisiologismo, a prioridade oligárquica, a manutenção do status quo, floresceram e criaram raízes no ano que se finda. Virou mania empregar parentes em cargos comissionados, com a promessa de fornecimentos de votos cativos. Houve até cobrança de votos de vereador em igrejas!

20) A falta de transparência com o dinheiro alheio. Os pastores, com o perdão da generalização, esquecem que gerem recursos públicos e que devem prestar contas ao maior número possível de um grupo seguro dentro da Igreja. Infelizmente, corremos o risco de assaltos e por isso é desaconselhável a exposição desenfreada de cifras. Entretanto, não podemos ter caixas pretas em nossas administrações financeiras. Curiosamente, ao serem pilhados com a boca na botija, muitos ungidos fogem pela tangente. Boa parte deles adotam as características das manias de perseguição.

21) A tentativa de terceirizar as culpas. É o Diabo, são os neo-pentecostais, é o PL 122/2006, são alguns movimentos sociais, são as esquerdas, é o partido tal, é Jean Willys. Na maioria esmagadora de nossas dificuldades nós fomos os primeiros empecilhos para crescer e se organizar. Por capricho pessoal, omissão, leniência ou miopia, nós fomos os culpados. Que Deus nos ajude a ver a dimensão de suas possibilidades em nós em 2017!

Que Deus tenha misericórdia de nós!

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