Não sou especialista em Billy Graham. Me confesso fraco em biografias de grandes homens de Deus. O que sei são frases e eventos repassados em livros que os citam e informações advindas da grande rede em que se tornou nosso mundo. Há, porém, alguns detalhes cuja observação não exige serendipidade. As lições são grandiloquentes. Quem dera quiséssemos aprender com elas.
1) Um grande evangelista
Cumprindo a ordem paulina: “Faze a obra de um evangelista…” (II Timóteo 4:5c), Billy Graham pregou, segundo informes, em 185 dos 195 países existentes no mundo (a ONU reconhece 193, mas faltam na lista Vietnã e Vaticano[1]). É muita coisa. E onde não pregou diretamente ou visitou, alcançou pelas grandes mídias. Seu memorial estima em 215 milhões as pessoas diretamente alcançadas por suas pregações. Curiosamente, ele mesmo foi levado a Cristo por um amigo de 15 anos.
Evangelizar é uma tarefa indispensável e inadiável da Igreja. Hoje ainda há inúmeros países que não contam com uma igreja, seja por oposição estatal, crescimento do Islamismo ou outras razões. Aqui mesmo no Brasil há ainda milhares de povoados, aldeias e igarapés que não possuem uma só igreja evangélica.
Nosso tempo é pródigo em líderes, mas em sua maioria é gente que quer mandar, exercer o poder, governar sobre a Noiva. De Billy Graham aprendemos que presidir sobre a Igreja é uma tarefa secundária. Precisamos evangelizar!
Por outro lado, era um homem pródigo. Escreveu 34 livros. Que produção intelectual!? Influenciou dois séculos, três gerações e cinco continentes, pregando em países fechados ao Evangelho como a China. Mesmo nesse nível intelectual sua mensagem era simples, objetiva e direta. Sem as excrescências que povoam a realidade das pregações evangélicas do nosso País!
2) Um pregador interdenominacional
A última cruzada do batista Billy Graham em Nova Iorque, em 2005, foi apoiada por 1.400 igrejas regionais de 82 denominações diferentes[2]. Que pregador brasileiro, por mais preparado que seja pode pregar para mais de dez denominações diferentes? Isso se dá por puro bairrismo. As lideranças entendem, erroneamente, que estarão semeando no campo alheio. Mas isso não é bíblico. O campo é o reino. O que investimos na pregação, o fazemos no reino! O mais incrível é que neste mar morrem gregos (reformados) e troianos (pentecostais).
E não se trata de ecumenismo ou coisa parecida. Não precisamos nos juntar às seitas e heresias de nosso tempo para pregar a Palavra. A dramática realidade brasileira é que dois ministérios de uma mesma denominação, num mesmo Estado, são incapazes de se reunir para pregar sob o mesmo teto. Não se convidam para festas, não se dão as mãos! É um comportamento sectário e isolacionista.
O resultado do trabalho de Billy Graham é que milhares de assembleianos em toda parte do mundo se decidiram por Cristo. O superintendente geral da AD americana reconheceu isso[5]. Billy bem que poderia tê-los direcionado para sua denominação, mas não o fez. E não o fez simplesmente porque seu alvo é Cristo! Apesar de sua ortodoxia ele sabia que denominações são secundárias.
3) Um líder com atuação entre os políticos, mas sem envolvimento político ou ideológico
Nada menos que 13 presidentes americanos ouviram os conselhos de Billy Graham. Isso é um feito notável e denota o elevado nível de confiança naquele homem de Deus, 55 anos seguidos mencionado no Gallup como um homem a ser admirado. Mormente pastores são convidados para conchavos, beija-mãos e salamaleques de apoio a determinado líder político. E nesses encontros quase nunca se fala a verdade. Graham, por exemplo, se recusou a pregar por 20 anos na África do Sul, enquanto durou o regime de segregação racial[4].
Dia desses li uma reportagem em que determinado líder estava reunido com o governador de determinado Estado para lhe pregar o Evangelho. Apareceu de Bíblia em punho, etc. E todos realmente informados do que estava acontecendo sabiam a verdadeira motivação da reunião. Ao que consta Billy Graham nunca conseguiu uma sinecura para que seu filho ou filha nela trabalhassem em troca dos conselhos que dava.
Claro, claro. Billy Graham tinha suas próprias convicções políticas. Todos nós as temos. Os EUA é um país fortemente polarizado entre democratas e republicanos. Isso não o impediu de transitar como a garça em meio à lama, sem que ninguém tivesse o que dele dizer. Aqui no Brasil, quando menos esperamos, estouram os escândalos de pastores beneficiados com ofertas de origem suspeita. Isso pra falar do mais ético dos favores.
4) Um evangelista antenado com as novas mídias
Como se diz no jargão popular: “Que é que tá pegando?” É rádio? É TV? É satélite? É internet? Billy Graham não se fazia de rogado. Preencheu todos os espaços aproveitando todas as oportunidades possíveis. Aqui no Brasil temos grandes ministérios assembleianos, só pra ficar nos exemplos caseiros, com ínfima penetração onde os ouvintes do Evangelho estão.
Citamos aqui no blog o caso do vídeo mórmon de Natal que alcançou mais cinco milhões de visualizações (agora está em mais de 7 milhões), enquanto a AD não conseguiu sequer lançar um… vídeo no Youtube comemorando a data! E diversas grandes igrejas estão investindo pesado nas mídias que ninguém quer ver.
Billy Graham teve o mérito de enxergar novos formatos de evangelização. Em uma de suas ações evangelísticas mais ousadas treinou multiplicadores que convidassem pessoas a assistir de suas casas à pregação transmitida via satélite, alcançando milhões de uma só vez. Segundo o Pr. Geremias do Couto, que coordenou o projeto no Brasil, mais de 300.000 lares abrigaram vizinhos para ouvir a pregação e outros milhares se entregaram a Cristo. Pasmem os senhores não temos UM só programa de TV ou rádio de audiência razoável entre as grandes denominações evangélicas brasileiras. Quem mais chega perto disso é o Pr. Silas Malafaia. Pode-se argumentar que a mídia (TV) é cara, mas como já dissemos: por que não temos presença na internet, que é quase gratuita?
5) Um evangelista com forte atuação social
Não basta evangelizar, precisamos de uma atuação holística. Do Vietnam a Bangladesh, da Amazônia ao Quênia a entidade Samaritan’s Purse[3], criada e mantida pelo filho de Billy Graham, Franklin, atua nas comunidades mais carentes. Com escritórios distribuídos pelo mundo e uma rede de atuação estratégica leva água, alimentos, equipamentos, médicos, profissionais das mais diversas áreas, muitas vezes fretando navios ou aviões dado o volume de ajuda que movimenta. Não há nada parecido no Brasil criado e mantido por evangélicos.
Por falar em Franklin Graham, o filho de Billy Graham, ele não foi alçado ao posto senão depois de anos de demonstração de seu valor como salvo e líder. Por algum tempo era um crente rebelde (a CPAD tem um livro sobre o assunto), mas se entregou ao Senhor Jesus e foi verdadeiramente transformado. Ao contrário de muitos filhos, parentes e aderentes, alçados ao posto exclusivamente por seu parentesco, Franklin é hoje o presidente do ministério por ter as marcas de um grande líder.
Conclusão
Faltam espaço para exaltar as qualidades de Billy Graham, o que importa é o peso de glória de seu trabalho. Agora descansa e nada mais pode fazer. Os que estamos vivos, façamos a obra do Senhor e corrijamos os rumos enquanto é tempo. Quiçá possamos ser honrados como o soldado que o Senhor guardou!
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[1] https://mundoestranho.abril.com.br/geografia/quantos-paises-existem-atualmente
[2] https://www.usatoday.com/story/news/nation/2018/02/21/billy-graham-americas-pastor-has-died/858017001/
[3] https://www.samaritanspurse.org/
[4] https://memorial.billygraham.org/official-obituary/
[5] https://penews.org/news/ag-leaders-fondly-remember-america-s-pastor