Sou pregador pentecostal. Com certeza não dos grandes mestres da retórica da igreja. Minha prédica é simples e suficiente, consigo me expressar e comunicar o Evangelho de Cristo com objetividade. Preciso melhorar muito e sempre. Gosto de sermões, me esforço para tê-los sempre à mão, sou amante da boa homilética. Gosto de pregações cheias de unção e que produzem efeito no ouvinte, penso que isso é bíblico e salutar. Mas fico enfastiado ao ouvir sugestionamento psicológico.
Há, é verdade, um amplo espectro de exemplares neste quesito:
- Os que estimulam a que sacolejemos o irmão ao lado;
- Os que se passam por coitadinhos, mendigando atenção;
- Os que despejam várias informações científicas e outras nem tanto para que a plateia perceba que está diante de um grande conhecedor;
- Os que apelam para as línguas originais;
- Os que contam uma história triste para criar empatia;
- Os que contam um testemunho mirabolante, muitas vezes até mentiroso;
- Os que apelam para o imaginário coletivo: anjos, vitórias, raios, luzes;
- Os que usam muitas frases de autoajuda;
- Os que prometem muitas bençãos;
- Os que prometem muitos castigos e por aí vai.
Outro tipo interessante é aquele que não se conforma com as ovelhas na relva. A igreja até está atenta, prestando atenção ao que está sendo dito, mas ele não vê braços sendo erguidos, gente gritando: Aleluia!, todos muito calados. Aí começa o festival: “Se você está entendendo, dê um glória!”, “Se você está feliz, erga suas mãos e glorifique!”, “Grite na presença do Senhor!”, “Levante-se!”, “Grite!”. É complicado entender.
Nada nos leva a crer que as pregações do ministério de Jesus eram tão efusivas. Elas despertavam muito mais impacto pelo próprio conteúdo. Ou quando milagres ocorriam. Aqui estão duas boas pistas para compreender o fenômeno. Na ausência de conteúdo ou milagres verdadeiros os pregadores sugestionam os ouvintes. É um recurso perigoso. Já há até muitos memes nas redes sociais evangélicas sobre isso.
Gostaria, do degrau mais baixo da pirâmide imaginária da pregação, alertar aos nobres usuários desta prática que os senhores e senhoras não estão lidando com qualquer coisa, mas com a Noiva. Qualquer um de nós ficaria irritado se alguém prometeu um prato de comida a um desconhecido e ao invés disso lhe der um pirulito, por que negaríamos boa comida à igreja do Senhor? E que na ausência de preparo, conteúdo ou espiritualidade possamos nos calar. Para usar a mesma metáfora da cozinha, não vamos lá preparar qualquer coisa, só porque não há nada para comer. Precisamos de um mínimo de bom senso e preparo.
Pra finalizar, repita em voz alta: Quem alegra a Igreja é o Espírito Santo! Pregue a Palavra e deixe tudo o mais nas mãos de Deus.