O pastorado e a violência contra a mulher!
Infelizmente, os casos de violência dentro de lares evangélicos aumentam a cada dia. Como pastores devem lidar com o problema?
Prezados, vocês sabem que nunca nos furtamos aos temas mais áridos do dia-a-dia evangélico. Não será diferente dessa vez. Toda violência na Igreja é reprovável e não tem respaldo bíblico. Deveria ser tratada com rigor pelos estatutos das igrejas Brasil afora e ensejar punições severas, além de prontamente denunciadas à autoridades competentes. Além da lei ser muito dura, e não queremos abordar o aspecto jurídico do assunto, temos a lei áurea: a Palavra de Deus.
Infelizmente, há casos bem documentados de violência contra a mulher apoiada com a omissão de pastores e líderes. E isso é grave, muito grave! Casos dessa natureza tem ocorrido em muitos lugares, com alguma frequência. Geralmente, há um aconselhamento de gabinete, a mulher assume uma postura passiva, por dependência econômica ou psicológica, disfarça os machucados com uma maquiagem ou uma roupa mais comprida e de gola mais alta e vai passando.
Alguns desses casos se repetem há anos sem que uma atitude seja tomada por parte das lideranças eclesiásticas. Não estamos mais na Idade Média, quando as mulheres eram relegadas a segundo plano. Elas tem vez e voz. Não é preciso ser feminista para reconhecer a igualdade de direitos prevista, aliás, na própria Bíblia. Em Cristo somos todos um, não há mulher, nem homem, já dizia Paulo, escrevendo aos gálatas (Gl 3:28). O que não há na Bíblia é a igualdade de gênero, Deus os fez: homem e mulher (Gn 1:27)!
Minha posição pessoal é que o agressor seja punido, com disciplina nos casos leves. E, além disso, denunciado às autoridades nos casos mais graves. Não importa que cargo ocupe na hierarquia. Infelizmente, é corriqueiro nas delegacias de polícia a retirada das denúncias. As mulheres prestam queixas, é lavrado um boletim de ocorrência, mas ao longo dos dias a denúncia enfraquece. Muitas delas retiram e desfazem completamente o que dizem. Mas, por coerência moral, aquele que primeiro teve acesso ao problema que gerou a ocorrência deve pressionar para que haja um desfecho efetivo.
Há mais de uma década luto para que nossa igreja tenha um Curso de Noivado. Na minha vivência pastoral percebi que o problema da violência no casamento é estrutural e devemos atacá-lo o quanto antes. Não adianta recitar umas poucas e mal balbuciadas palavras na hora da cerimônia, uma vez que o histórico de agressões perpassou o namoro e o noivado. Não vai mudar na maioria dos casos, não é uma panaceia, mas é uma oportunidade de um alerta mais incisivo, que dê tempo a alguma reflexão.
Outra providência muito boa seria treinar os pastores e suas esposas para reconhecer a violência. A mulher agredida emite alguns sinais da agressão que, se identificados, poderiam até mesmo salvar vidas. Infelizmente, os tais sinais são ignorados até que o casamento acaba ou há uma tragédia. Uma vez identificada a violência e se uma mulher estiver machucada, com sinais evidentes pelo corpo, por exemplo, é o caso de acionar também as autoridades competentes.
Tenho ouvido falar de pastores que no aconselhamento pastoral a casais destratam a esposa diante do marido, dando razão a quem não tem, pelo simples fato de ela ser a parte mais frágil da relação. É uma lástima e uma falha grave, pela qual, penso eu, Deus os trará a juízo. Afinal, o Senhor não tolera a injustiça e a violência no casamento.
Finalizo abordando dois outros tópicos, que são desdobramentos do assunto. O primeiro é a agressão sexual. Muitos maridos pensam que detêm a posse do corpo da mulher e não é verdade. A Bíblia ensina que a mulher não tem autoridade sobre o próprio corpo e vice-versa, mas o objetivo é um relacionamento de amor e satisfação sexual sadia entre ambos (1 Co 7:1-5). Se esse relacionamento descamba para a agressão não é amor, pois o amor não agride!
O outro aspecto é a agressão aos filhos. Muitos maridos os usam como escudo porque não podem/devem bater na mulher. Os psicólogos debatem todas essas nuances comportamentais de verdadeiros psicopatas do lar. Mas nós, pastores, podemos identificar esse problema e punir severamente o agressor. Em muitos casos não basta só aconselhar e mandar pra casa, onde a violência já espera a vítima.
Oremos pelas inúmeras famílias desestruturadas que hoje em dia lotam nossas igrejas. Mães sem marido, se virando pra cuidar dos filhos sozinhas. Casais com histórico de agressão, antes da conversão. Famílias disfuncionais oriundas de relacionamentos destroçados, para os quais não há respostas simples, nem fáceis.
Que haja paz e harmonia nos lares! Menos violência e mais amor. E que os casos não sejam jogados pra debaixo do tapete e, solenemente, ignorados.
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