O caminho sombrio para o suicídio de pastores

De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.

A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes é a depressão, associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.

DEPRESSÃO:

Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?

– A Bíblia menciona homens e mulheres fiéis que ficaram neste estado e que desejaram morrer — entre esses estão Rebeca, Jacó, Moisés e Jó. — Gn 2522; 37.35; Nm 11.13-15; Jó 14.13. Especialmente Elias (1 Reis 19.4)

– Elias teve um ministério de sucesso: previsão da seca; ressuscitou uma criança; enfrentou os profetas de Baal; etc.

– Tinha vigor físico – correu à frente do carro de Acabe (1 Reis 18.46) – ou seja, não tinha problemas físicos;

– Uma ameaça real – jurado de morte – fez perder o sentido da vida em um escalonamento (1 Reis 19.3 e 4):

  • Preocupação com a vida
  • Isolamento social
  • Desistência da vida

– O medo de perder a vida paradoxalmente o fez perder o sentido da vida

– Escalonamento de vitimização:

  • Ocorre em relacionamentos simétricos quando não há concordância sobre as posições de superioridade e sujeição na relação
  • Podem brigar pelo controle em suas posições (de superioridade ou sujeição) – existe pouco consenso em relação às posições e ambos acabam se sentindo vítimas
  • A escalação sacrificial se dá quando quem ganha perde

– Ameaças reais que se interpõe na vida cotidiana – podem ser o ‘gatilho’ para desencadear a falta de desejo pela vida:

  • falência financeira
  • término de um relacionamento amoroso – divórcio
  • perda do emprego
  • perda de uma pessoa amada, de um filho
  • fracasso profissional – injustiças
  • abandono social – falta de amigos

ESGOTAMENTO FÍSICO E EMOCIONAL:

Descanso e saúde:

– Trabalho e descanso marcam um ritmo vital

  • São atitudes complementárias
  • Uma iniciativa humana que se articula complementarmente através do “descanso” com a natureza própria da vida

– Quando o homem descansa, ele não interrompe sua tarefa vital, apenas a significa

  • Outorga um sentido – trabalha confiante que sua tarefa é um prolongamento de uma bondade que se afirma no próprio Deus
  • O trabalho do homem não se assegura em um rendimento transacional, mas em uma mutualidade originada na doação do tempo que cada um de nós recebe com um presente.

– Descansar é um comportamento que surge de estar existencialmente “confiado”:

  • Crer que cada um faz o que faz a partir de uma “boa vontade”, ou seja, da própria espontaneidade da vida
  • É deixar que a beleza da rosa o atravesse, enquanto se trabalha e criar com o martelo que labora os ritmos de descanso que o florescer da rosa convida
  • Descansar é imprescindível para uma vida saudável:
    • Descansar significa “ser capaz de distanciar-se daquilo que nos torna obsessivos”
    • Esta disposição está ligada à nossa corporalidade e é independente de nossa vontade – não pode ser fabricado, apenas chega a nós
    • O descanso é aquilo que nos faz dormir em paz
  • As manobras da sociedade de consumo:
    • A tentativa de descanso através da “prótese”: excesso de álcool, tranquilizantes, compulsões (do turismo merecido até a religião tóxica, passando por uma sexualidade de performance)
  • O descanso é como uma visita que realça a hospitalidade própria do amor, criando uma nova fecundidade onde o cansaço havia obscurecido a esperança
  • Em síntese: descansar é RE-VIVER!

FALTA DE AMIGOS:

  • Pastores têm poucos amigos, às vezes nenhum.
  • Em reuniões exclusivas para pastores, a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial.
  • Na conversa íntima dos consultórios, o sofrimento se revela.
  • Pastores contemporâneos são cobrados como – e muitos se sujeitam a ser – executivos que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições.
  • Há uma relação circular perversa de falso significado de sucesso: pastor e instituição se conluiam em uma rota autodestrutiva
  • A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas.
  • Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional.
Estratégias de poder
Poder SOBRE:
Estratégias de compaixão
Poder COM:
curar cuidar
expert ajudador
técnico interação
distância emocional envolvimento
unidirecional circular
razão imaginação
quando me sinto responsável

pelo outro “eu”

quando me sinto responsável

pelo outro “eu”

falo escuto
dirijo convido
coloco/retiro sintonizo
protejo animo
resgato compartilho
controlo relevo
interpreto sou sensível
eu me sinto eu me sinto
ansioso livre
cansado solto
temeroso alerta
obrigado corresponsável
eu estou comprometido com eu estou comprometido com
a solução relacionar alma com alma
respostas sentimentos
circunstâncias pessoas
estar bem ter compaixão
espero que a persona viva minhas expectativas confio que o processo me permita dançar com…

 

ALGUMAS ALTERNATIVAS:

Pastores:

  • Encontrar um amigo que o aceite como é, com suas bobagens e defeitos, com quem se possa “jogar conversa fora” e não se saiba explicar o porquê da amizade.
  • Encontrar um conselheiro ou terapeuta de confiança para abrir a alma.
  • Ter tempo para o SHABATT – fora do padrão compulsivo
  • Descobrir a importância do “descanso relacional”
  • Estar atento às relações de escalonamento sacrificial – especialmente com a instituição (representada por dirigentes/membros obsessivos)

Instituições:

  • Promover encontros de pastores que possuam caráter terapêutico/curador. Com facilitadores habilitados na condução de compartilhamento de emoções que afetam a vida pastoral;
  • Diminuir as pressões de resultados numéricos sobre a função pastoral.
  • Estar atenta a um padrão mínimo de orçamento-salário pastoral, para que ele e sua família não sofram privações.
  • Desmitificar pseudo-hierarquizações: papéis x poder, realçando a humanidade de todos e o pertencimento mútuo.

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Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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3 Comentários

  1. Ana Rejane disse:

    Triste realidade

  2. Alex Bento disse:

    Pastor Daladier, é muito proveitoso esse artigo, pois vejo isso em meu dia a dia. Sou pela graça de Jesus, diácono na obra do Senhor e vejo a preocupação nos olhos e no coração do meu pastor.
    Já venho comentando com alguns obreiros a necessidade de lhe dar melhores condições na liderança da obra, precisamos fazer mais, principalmente, na ajuda em oração e trabalho, para que se sinta mais seguro quanto aos rumos do ministério em si.
    Este artigo veio para proporcionar uma visão de que ele também precisa de nossos cuidados como seus auxiliares na obra.
    Muito obrigado por difundir este artigo.

  3. Miqueas Cipriano disse:

    Uma postagem de grande relevância. Depressão sempre foi um tabu entre nós e em se ratando de pastor, só mesmo a graça. Infelizmente se um Pastor admitir que tem depressão é rotulado por si mesmo e pelos demais colegas de posição eclesiástica como um fraco ou fracassado. Estar aí como exemplo o Padre Marcelo Rossi que após uma depressão passou a ser mal visto por muitos. Por enquanto, tiro o meu chapéu para algumas igrejas que oferecem a seus lideres uma ferias, momento para se estar a sóis com a família, longe dos israelitas de hoje que deixam os Moisés nervosos, a ponto de, num ataque de nervos, surrar a rocha.