Não confunda tautologia com teologia!
Nem tudo que ouvimos na Igreja podemos reputar à teologia. Muitas frases ditas são apenas tautologia. Vamos analisar esse fenômeno?
Em muitos púlpitos é comum hoje em dia um fenômeno que se repete nas redes sociais. Não sabemos ao certo de quem foi transplantado para o outro. Talvez exemplificando o leitor possa compreender melhor e fazer as associações necessárias.
Antes, porém, precisamos definir o que é tautologia. Socorro-me do Michaellis, popular dicionário da língua portuguesa. Ele leciona (expandi as siglas para melhor entendimento e exemplifiquei):
TAUTOLOGIA, substantivo feminino, usado em três áreas do conhecimento:
- Gramática – Forma de linguagem que consiste em usar palavras diferentes ou repetidas numa outra ordem para expressar a mesma ideia ou pensamento. Ex: Deus é bom em todo tempo, em todo tempo Deus é bom.
- Retórica – Expressão que, embora use termos diferentes, repete os mesmos conceitos ou ideias já emitidos, sem aclarar ou aprofundar seu entendimento. Ex: A teologia, para ser teologia, tem que ser antes de tudo teológica!
- Lógica – Proposição que se mantém sempre verdadeira, uma vez que o atributo é uma repetição do sujeito. Ex: A água é molhada.
A tautologia é um pleonasmo vicioso usado, por vezes, como falso sinal de humildade ou para criar alguma familiaridade com o público ouvinte ou, ainda, para exalar ares de superioridade intelectual ou espiritual. Ex: “Quando Deus quer, quer!”. Preste atenção que, a rigor, a tautologia encerra uma verdade. Esse não é o problema.
Qual o problema?
Há vários problemas no uso da tautologia em teologia ou no exagero do seu uso na Igreja. Em primeiro lugar, quem usa muita tautologia tende a dar ares de profundidade ao que não tem profundidade alguma. É mero mergulho em pires! Pregadores e líderes usam as tautologias para, de modo seletivo, ilustrar um conceito teológico sem preocupação com suas implicações.
É o caso da famosa frase: “Deus é bom em todo tempo, em todo tempo Deus é bom”. Geralmente, quem a expressa só a aplica aos bons momentos da vida. Recebeu uma vitória? Olha aí como Deus é bom! Quem fala não se pergunta: A quem perdeu um ente querido Deus continuou bom? Deus continua bom quando coisas ruins acontecem aos seus servos? Deus continua bom quando fico desempregado? Ou quando adoeço?
Um outro problema é que como a tautologia não se preocupa em aprofundar o entendimento as pessoas numa hora passam a usá-la nos contextos mais absurdos possíveis (quando veem um “inimigo” se dar mal, por exemplo, exclamam sua frase “teológica” preferida, mas fora de contexto), noutra a associam a um versículo bíblico, que não tem nenhuma correlação com o que ocorreu. Uma área em que ocorrem ambos os casos com frequência é nos hinos antropocêntricos (que exaltam o homem) que cantamos.
Um terceiro problema é que com uso abundante de tautologia muitos pregadores se especializam nela e saem vomitando frases de efeito ao microfone, apreendidas de contextos totalmente aleatórios. Com alguma sagacidade é possível até alinhar várias tautologias num sermão e despejá-las com ares de sapiência. Infelizmente, boa parte da Igreja não costuma ser muito bereana ao ouvir os enlatados da vida…
A boa notícia é que grande parte de nossos irmãos tem estudado e lido cada vez mais, principalmente os jovens. A EBD também tem contribuído para termos uma teologia mais sólida. A tendência é que tais artifícios sejam expostos e, não raro, ridicularizados. Por estas e outras razões vamos usar mais teologia e menos tautologia!? Quem diz amém?
Leia mais em:
PEREZ, Luana Castro Alves. “O que é tautologia?“; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/o-que-tautologia.htm. Acesso em 03 de setembro de 2021.
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