Na primeira parte do post sobre este assunto, lançamos as bases para entender as dificuldades de inserção das igrejas no mundo das comunicações. Nesta segunda parte, vamos falar um pouco sobre o público alvo e algumas tendências da atualidade.
Não podemos esquecer que, por oportunidade e ordem, o público preferencial da mídia evangélica é o jovem e a criança. Em seguida, virão as senhoras nos lares. Em último, os senhores, à noite. Não à toa, as manhãs são tradicionalmente reservadas pelas grandes emissoras para programas infantis, as tardes para jovens e adolescentes e a noite para o público adulto. É uma tendência que tem se amenizado nos últimos anos, mas ainda está em plena vigência. Infelizmente, não temos prestado muita atenção a este detalhe. Estamos devendo um bom programa televisivo visando a criançada, por exemplo. Por pura incompetência para criar trama, cenário e fazer acontecer. O mais curioso são as críticas históricas que fizemos e fazemos aos programas das grandes redes, sem oferecer qualquer contraponto. A exceção honrosa vai para a Rede Boas Novas, com os Vegetais, que, salvo engano, é transmitido das 09:00 às 10:00h. Mas não é um programa tupiniquim.
Boa parte das igrejas entende que o horário é puramente evangelístico. Na verdade, o espaço é curto. Mas, é preciso fazer alguma diferença…
Nos meus anos de juventude, a penetração da rádio evangélica era notável. Nove em cada dez jovens ouviam aqui, em Pernambuco, a Rádio Evangélica, a Maranata, entre outras. Em outras palavras eram bem assistidos. Os anos passaram, e os novos jovens foram do rádio ao Facebook sem escalas. E dificilmente alguém os tirará de lá. Jovens e adolescentes, como sabemos, possuem comportamento de manada. O movimento só se adensa com a chegada dos adultos. Nada podemos fazer a não ser aprender a contornar a montanha para chegar ao mar!
Ressalve-se o espaço razoável para as rádios transmitidas pela Internet. Hoje qualquer um pode criar uma rádio on-line e transmitir uma programação, à mercê apenas da criatividade. Os blogs dispensam comentários. As páginas pessoais, idem. O que dizer, porém, da página das igrejas? Elas, efetivamente, transparecem a efervescência do dia-a-dia eclesiástico? Há o mesmo investimento de milhões, numa rádio sem audiência compatível com o capital, numa página de qualidade? Há efetiva inserção das igrejas nas redes sociais? Incrivelmente, a resposta é não! Se o orçamento anual das igrejas fosse aberto, veríamos uma intolerável soma de dinheiro indo parar no bolso das redes televisivas e na compra de espaço nas rádios, enquanto míseros centavos iriam para onde estão as pessoas. Não é contraditório?
O que motivou a escrever estas linhas foi o seguinte fato. Me hospedei no Hotel San Marco, na Bahia, no último final de semana. Estava à trabalho em Salvador. Na noite de quinta, tempo livre para visitar uma congregação. Como não conhecia os lugares, e por conta do trânsito caótico para o centro, decidi acessar a Internet para descobrir alguma igreja próxima ao hotel. Acessei a página da Assembléia de Deus baiana, por inabilidade ou por ausência da informação não encontrei nenhum endereço, não obstante a certeza que existem congregações por ali. Não é diferente por aqui ou na maior parte do Brasil. Páginas desatualizadas, sem conteúdo atraente para jovens, adolescentes e, pasmem!, não evangélicos! Links que não levam a lugar algum, informações desencontradas, vídeos e imagens desatualizadas. Enfim, institucionalmente falando, o que de pior se pode esperar.
Voltemos ao primeiro post. Lá está escrito que uma Convenção assembleiana pernambucana de grande porte comprou um rádio, fazendo um investimento inicial, por baixo, de dois milhões de reais. Depois vem manutenção, folha, investimento em equipamentos, etc, etc. A outra grande convenção só não fez o mesmo, porque não pode se antecipar. Se hoje o Governo Federal dissesse assim: Estão abertas as inscrições para as igrejas que quiserem uma rádio, a maioria das médias e grandes igrejas do País se inscreveria. Dinheiro não os assombraria. A mesma coisa se pode afirmar dos programas televisivos. Todas as convenções fazem investimentos altíssimos em programas pouco assistidos, não apenas por seu conteúdo, mas porque as pessoas não estão mais na TV! Em outras palavras, não há audiência compatível com o investimento! Pois bem, esta mesma grande convenção mantém uma página absurdamente desatualizada. Há links, na página principal, de um ano atrás! A maioria não leva a lugar algum. Como podemos entender isso?
Mas, atenção, pastores! A previsão da audiência na TV e no rádio é piorar. Li em algum lugar esse ano (esqueci de anotar o link), que as grandes cervejarias amargaram prejuízo, salvo engano, de R$ 20 milhões, investindo na transmissão do Carnaval na TV. Os carnavalescos estavam na rua, no Twitter e no Facebook! Ao invés de estarem sentados num sofá, os caras estão enviando flashes das festas. É a vida full time! Aonde estão os jovens e adolescentes nesta manhã? Na Internet, ora! Comentando os trolls do momento, jogando conversa fora, ampliando a rede imaginária de amigos, enviando e recebendo e-mail. Aliás, estão todos, adultos, inclusive. Recentemente, numa reunião de trabalho perguntei, a dez ou doze superintendentes mais cinco ou seis responsáveis em nossa Convenção, quantos haviam assistido aos programas de nossa igreja naquela semana. Era uma quinta. Somente um levantou a mão. Perguntei quantos haviam acessado páginas de notícias e e-mail naquele dia. Somente um não o havia feito!
Certamente, alguns dos poucos leitores do blog dirão: Esse Daladier é pessimista! Não é isso, a crítica feita aqui é construtiva. Desejamos que os nobres pastores abram os olhos para aproveitar esta excelente oportunidade de evangelismo, de colocação institucional e de propagação do reino. Quer uma medida do gap* no qual estamos envolvidos? Qual página você conhece de igrejas, ministérios ou convenções cujo conteúdo está em inglês? Lembremos que os comportamentos descritos acima não são únicos do Brasil. Há milhões de jovens americanos, asiáticos, europeus visitando a grande rede. Que tal ampliarmos nosso horizonte utilizando a língua franca? Paulo faria isso!
No próximo post, focaremos algumas propostas.
* Em marketing, a grosso modo, é a distância entre o que uma organização é e o que deveria ser