Anos atrás a Convenção da qual participo queria comprar uma rádio. Não duvido que ainda queira, é o desejo de onze em cada dez igrejas. Foram feitas reuniões para levantamento dos fundos, etc e tal. Porém, outra Convenção se antecipou e comprou a mesma. Era um negócio em torno de dois milhões de reais, fora folha de pagamento, encargos trabalhistas, investimentos em equipamentos, e muito, muito mais. Conversando dia desses com o presidente, ponderei: Não disse nada na ocasião para não ser faccioso, mas era um péssimo negócio. Não pelos eventuais problemas no que diz respeito aos entraves burocráticos e legais, fato que não assustou à Convenção compradora, mas por uma trempe de fatores.
Em primeiro lugar, as rádios evangélicas não dão dinheiro. Aliás, nenhum programa evangélico, em rádio ou TV se pagam somente por seus anúncios e audiência. O Pr. Silas Malafaia pode até chegar perto, mas a conta não fecha. Se fossem viver, exclusivamente, dos anúncios todos apresentadores e seus programas estariam falidos. E se levarmos em conta investimento e depreciação a conta ia de vez para o buraco. Em suma, estritamente falando da programação evangélica, não há retorno em mídia de TV ou rádio. O que há para mantê-los no ar é o investimento maciço das ofertas e dízimos. Há quem justifique a prática, falando na vitrine que uma programação desta natureza oferece, mas eu tenho dúvidas sobre tal precedência sobre outras necessidades. Mais adiante, entenderão por quê.
Por falar nisso, leio notícias hoje de que mesmo com o investimento da IURD nas madrugadas da Record, a emissora terá um prejuízo de 100 milhões. Ano passado tinha sido de redondos 60 milhões. Ou seja, nem as ofertas salvam a programação televisiva!?
A outra ponta é que, via de regra, os programas televisivos evangélicos são chatos e não traduzem a efervescência da igreja. As pessoas não gostam de ouvir um culto via televisão, a menos que não possam assisti-lo ao vivo. Ou seja, mesmo com o comodismo da sala, aonde se pode ficar, teoricamente, à vontade, prefere-se estar num banco duro no templo. Aliás, como se assiste a tais programas em casa renderia um grande post, que agora não tenho tempo, quem sabe depois… Mas… estava falando da chatice dos programas. Por vezes, se resumem a recortes sem sequência. A palavra é do pastor-mor da denominação, que, às vezes, não tem o traquejo com a câmera. Depois vem as cantorias, porque boa parte passa longe de louvor propriamente dito. Os cenários são sofríveis, até porque um de primeira qualidade é inacessível à maioria das igrejas.
Já encontrei irmãos que se conectam no programa, apenas, no exato momento da pregação. Porque querem pular o cansativo devocional de muitas igrejas, aonde grupos e grupos se sucedem, com solos sofríveis e hinos sem conexão de assunto e tema. Quando isto acontece na igreja não há opção. Na sala a saída é o zapping*! Que não me crucifiquem, é uma crítica construtiva.
De resto, o eixo principal da TV e do rádio tem pouco a ver com um culto. Programa televisivo é espetáculo, teatro, cor, atração estética. Já pensaram num culto de oração transmitido do início ao fim? Há opções? Sim. O foco exaustivo nos milagres, como faz o Valdemiro Santiago, a ênfase no escândalo, estilo Datena, amplamente utilizado pelo Silas Malafaia. Coisas, enfim, que nos afastam cada vez mais do que seja um culto. Já imaginaram duas ou três semanas com um culto de doutrina do Silas Malafaia falando do Pr. José Wellington? Na TV isto é possível, mas não no culto. Debates? São interessantes, mas cansativos. Seria preciso um apresentador cacifado como o Azambuja ou a Marília Gabriela. O que se faz, não raro, são temas herméticos, sem participação externa, condiciona-se o rumo e somente os interessados no tema, naquele exato momento, formam a audiência. Pífio. Se fosse apenas poucos minutos poderia cativá-la, mas o compromisso seria quase impossível. Ao culto não interessa o dinamismo em primeiro lugar, mas a espontaneidade. Temos um verdadeiro dilema para harmonizá-lo com a mídia.
Um fator crítico adicional é que dado o alto valor do espaço televisivo fica impossível ocupá-lo para muitas igrejas. Resultado: horários difíceis de acompanhar. E não muitos horários disponíveis nas emissoras. O que sobra rivaliza com a programação formal, muito mais atraente para a maioria dos mortais. Ainda teremos de somar ao caldo os valores da mídia secular, antagônicos às igrejas, todas elas. Dentro do status quo midiático não há ética, nem princípios, nem balizas. A mídia gerencia um circo de horrores, que tende para a audiência. Tanto direciona para o que é mal, como ele lhe faz o bem de aumentar o caixa. A igreja, ao menos teoricamente, não prioriza valores humanos, nem está interessada em faturar. É um conflito certeiro!
No próximo post, vamos abordar as alternativas e algumas tendências da atualidade.
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