Mais mulheres como chefe de famílias: a Igreja está preparada para esta realidade?
Mais mulheres estão assumindo o posto de chefe da família. Quais as causas e reflexos disso para a Igreja? Que tem sido feito a respeito?
Reportagem do Valor Econômico[1] dá conta que nove milhões de mulheres passaram a comandar famílias nos últimos sete anos. Elas se juntam a outros milhões de lares, a maioria sem maridos, nos quais a mulher é a provedora e, consequentemente, chefe da família. Mas será que a Igreja está atenta a esta mudança? As lideranças estão discutindo o que fazer a respeito? Qual a realidade concreta e seu impacto no dia a dia eclesiástico?
O IBGE já havia percebido a tendência levantada pela reportagem[2]. E em release de 2013, registrou (grifo nosso): “Nos últimos dez anos, a chefia feminina na família aumentou cerca de 35%, de 22,9%, em 1995, para 30,6% em 2005. O crescimento foi maior em Santa Catarina (64,1%) e Mato Grosso (58,8%). A chefia feminina é mais expressiva entre as idosas (27,5%), reflexo da maior expectativa de vida das mulheres e da maior presença delas em domicílios unipessoais (com um só morador)”
O mesmo IBGE detectou que na Região Metropolitana do Recife/PE[3] que abrange 15 municípios, o percentual de lares em que a mulher é reconhecida pelos membros de uma família como a mantenedora ultrapassou a mesma referência para os homens, a partir de 2014.
O fenômeno acompanha a profissionalização feminina. Elas são parte cada vez mais importante da economia. Cada vez mais mulheres estão se inserindo no mercado de trabalho ou se preparando para nele entrar. E já são maioria em diversos cursos superiores.
Qual o impacto disso na Igreja?
Há algumas questões que a Igreja como um todo precisa encarar:
- Mais mulheres estão fazendo as vezes de pai. É uma verdadeira ginástica de vida. Além de se desdobrar nas tarefas peculiares às mulheres, estão cobrindo o vácuo deixado pela paternidade masculina. Não poucas mulheres estão frustradas e despejam esta frustração em seus filhos. Além de aumentarem o esforço para dar contas à sociedade que a cerca. Numa família comum ambos os pais podem ser culpados pelo desencaminhamento de um filho, quando só há mãe toda culpa recai sobre ela!
- Mais mulheres estão precisando trabalhar para sustentar suas famílias. Mesmo com o auxílio governamental e a pensão alimentícia (com percentual sobre o salário do ex-marido sujeito aos humores dos juízes) muitas mulheres precisam complementar a renda trabalhando fora de casa, muitas vezes em horários extenuantes e distante da residência, como é praxe nas grandes cidades. Com a insuficiência de creches o jeito é deixar os filhos trancados, sob os cuidados de um vizinho ou um parente. As pesquisas tem detectado que mais avós cuidam dos netos enquanto as mães trabalham! Infelizmente, muitas dessas mulheres ao cuidar de suas famílias antes do rompimento do relacionamento, não tiveram tempo para a profissionalização e estão em posições inferiores no mercado de trabalho;
- Mais mulheres enfrentam o reflexo de uma criação entregue a si própria. A psicologia cristalizou os complexos de Édipo, no qual os filhos se espelham na mãe, e Electra, onde as filhas se espelham no pai. São referenciais fundamentais para o desenvolvimento psíquico dos filhos. Com a ausência do pai este referencial encontra um déficit difícil de ser suprido. O resultado é uma disfuncionalidade latente que pode acarretar consequências terríveis. O quadro se agrava com o trabalho fora de casa, problema imposto a muitas mães. Neste contexto elas não criam seus filhos, eles se criam! Não obstante, elas próprias passam a conviver com as dificuldades. Não poucas se culpam quando algo dá errado, proporcionando aumento dos casos de depressão e ansiedade, entre outros problemas semelhantes;
- Mais mulheres enfrentam problemas psíquicos. Mencionamos há pouco a depressão e a ansiedade. Não poucas pesquisas apontam que a mulher é mais susceptível que o homem a doenças desta natureza. A composição hormonal natural favorece tal susceptibilidade. Tudo se agrava com o divórcio e as dificuldades inerentes ao processo;
- Mais mulheres carregam o estigma de um novo casamento ou solidão. O homem solteiro num novo relacionamento tem muito mais aceitação na sociedade como um todo do que a mulher. Na Igreja, infelizmente, não é diferente. Ele também tem mais aceitação quando enumera os defeitos da mulher no rompimento. Não é uma questão de igualdade. Todos sabem que, de partida, a mulher já é culpada pela maioria quando um relacionamento acaba. Não importa quão desprezível e insano o ex-marido seja. Quando ela decide partir para um novo relacionamento as coisas complicam ainda mais. Os filhos, quando mais crescidos, se opõem, não aceitam de bom grado um novo integrante no lar. Não poucas optam pela solidão ou relacionamentos esporádicos, o que traz inúmeros reflexos negativos.
Como as lideranças tem reagido?
Infelizmente, há poucas iniciativas dignas de nota. Temos ministérios para missões, casais, solteiros, jovens, crianças, mas quase nada para divorciadas, mães que precisam trabalhar e coisas afins. O suporte psicológico é deficiente nas maioria das igrejas, tanto para as mulheres quanto para os filhos que se encontram nas situações elencadas acima.
Nas igrejas pentecostais se tende a encarar o problema sob a perspectiva do fogo, ou seja, o Espírito Santo resolve tudo. Desde falta de comida a desejos sexuais. A História depõe contra esta postura. Não à toa muitas iniciativas foram criadas como os ministérios mencionados no parágrafo anterior. Se o fogo pentecostal resolve tudo, por que temos um ministério específico para os jovens? Para as crianças? Para Missões? A realidade é que não temos ou não despertamos as habilidades adequadas ao enfrentamento do problema descrito neste post. Ou não queremos envidar os esforços humanos e financeiros necessários a isto.
Concluindo… Enquanto não há soluções encaminhadas a solução possível é orar. Pelas mulheres em primeiro lugar, pelos filhos, por um novo relacionamento, por saúde mental e sabedoria para lidar com o problema. Que ele existe e está na ordem do dia, não tenham dúvidas.
[1] Valor Econômico
[2] IBGE
[3] IBGE
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