Outra óbvia lição do caso Feliciano é que nossos colegas pastores, sem generalização, mas em sua grande maioria, não são capazes de nos defender, nem mesmo separando a pessoa do intento ou do posicionamento. A vergonhosa atuação da Rede FALE no caso prova que a omissão e o adesismo é o melhor que podem fazer. Que condenem as atitudes de Marco Feliciano é plausível, mas deixá-lo queimando em fogo brando sem assumir uma posição é absurdo. Isso ocorre por algumas razões.
Em primeiro lugar, o povo evangélico não é politizado. É um povo político, mas não foi ensinado a votar em propostas, apoiar posicionamentos. As candidaturas evangélicas são postas e, quase ninguém, questiona. Não se separa o que é democracia do que é teocracia dentro das igrejas. Uma coisa é a autoridade pastoral, teocrática por natureza, outra coisa é o pastor no exercício desta autoridade impor o nome de um apaniguado, exigindo que se vote neste ou naquele nome, sem maiores justificativas. É como se o pastor decidisse gastar o dinheiro (um vão item humano) da congregação como bem entendesse, só porque ele seria um enviado divino.
No livro Os votos de Deus: evangélicos, política e eleições no Brasil, Editora Massangana, esta temática é discutida com riqueza de detalhes. No exercício democrático algumas pessoas podem divergir da escolha. Mormente pastores e líderes deitam um olhar teocrático sobre o assunto e os descontentes são tratados como rebeldes. Não são raras as histórias de pastores retirados de campos, de pessoas suspensas de atividades e até preteridas posteriormente, por não apoiarem candidaturas oficiais. Outrora, havia até disciplinas quando os ânimos se exaltavam!
Esta ausência de politização também afeta o ministério. Em conversa com determinado pastor, que auxilia várias congregações de nossa Convenção, ouvi o seguinte comentário: Quem não apoiar o candidato X, após sua eleição não vai poder cobrar nada. Retruquei: Mas o candidato X, se eleito, não vai governar para os que o elegeram apenas, mas para todos os eleitores da cidade. Este mesmo raciocínio se segue às várias esferas da polis. O que dizer de candidatos que são eleitos por seus projetos assistencialistas? Por vezes, para ocupar um cargo legislativo. E o candidato vereador que promete calçar ruas e resolver problemas que só competem ao prefeito? E ele ainda encontra espaço no púlpito para defender a ideia!?
Aliás, por falar em púlpito é clara a transgressão da Lei, da ética e da lógica. O que se entende por democracia é a garantia da igualdade de opiniões. Se abro o púlpito a um candidato e não a outro, em igualdade de condições, jogo os princípios democráticos no lixo! Isso quando não se parte para a crítica aberta e abjeta aos demais candidatos.
Não se enganem, se Marco Feliciano fosse um operador de milagres e fizesse prodígios e maravilhas em nome de Deus, as Assembleias de Deus teriam orgulho de dizer que ele era um pastor da denominação, mesmo em sua condição marginal, pois que emancipado e independente das Convenções formais. Não me orgulho de ter dito isto, mas se a censura fosse implantada no Brasil, alguns dos primeiros a apóia-la seriam alguns pastores que não compreendem o valor da liberdade de expressão.
Muitos membros ficariam surpresos ao saberem que seus pastores não estão informados sobre o PL 122/2006, boa parte sabe vagamente o que pretende e ainda outros não seriam capazes de redigir 30 linhas coerentes sobre o assunto. A maioria da liderança, por exemplo, está indiferente à orquestração política com apoios dos ditos movimentos sociais, querendo usurpar nosso direito de decidir o que é bom ou desejável para nós. Talvez, por isso, seja tão fácil vir a nossos púlpitos, despejar promessas e salamaleques e só voltar na próxima eleição. Aos candidatos interessa uma igreja ignorante e apática a tais temas. E a alguns pastores também!
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