Liderança em tempos de coronavírus!
Sou o menor dos menores. Mas me senti compelido a escrever para as lideranças em tempo de coronavírus. Reflita comigo sobre esta inquietante situação!
Amados, sou o menor dos menores, mas me atrevi a escrever algumas linhas sobre essa pandemia terrível e sua correlação com a liderança evangélica brasileira. Decidi enumerar esse pensamentos, ainda que não haja uma hierarquia. Reflita comigo:
1) Respeite às determinações das autoridades!
As ordens governamentais surgem no sentido de cancelamento de grandes reuniões. Somos dados a abraços, apertos de mão calorosos, gostamos de conversas mais próximas. Tudo isso contribuiu para uma palavra chave: RISCO! O coronavírus é altamente transmissível por vias respiratórias, contato físico e superfícies contaminadas. Espirros, secreções, levar o dedo à boca, coçar os olhos e outros toques tão característicos aos brasileiros são meios de transmissão. E isso abrange praticamente tudo num templo.
Maçanetas, corrimões, banheiros, assentos, capas de hinários e Bíblias, microfones são, infelizmente, repositórios de bactérias e vírus. Isso se complica por vários outros fatores: 1) Nem todos são higiênicos o suficiente; 2) Recebemos pessoas em grande número; 3) Recebemos pessoas sãs e doentes; 4) Temos desde pequenos templos a grandes aglomerações e 5) Interagimos com várias pessoas num mesmo culto! Tudo isso potencializa as formas de contágio.
Além da suspensão inevitável dos cultos, os cuidados com essas áreas vulneráveis deve ser redobrado.
2) Informe-se sobre a doença!
Informação é fundamental sobre o COVID-19. Diversos estudos dão conta de que se em Wuhan, na província de Hubei, China, tivessem tratado adequadamente os primeiros infectados a epidemia teria sido contida. Entretanto, as autoridades decidiram ignorar os alertas e permitir que as pessoas continuassem a consumir o morcego, principal vetor da doença, originada a partir de uma mutação do coronavírus[1], que é um vírus relativamente comum entre nós.
O oftalmologista Li Wenliang, de 34 anos, foi infectado pelo novo vírus enquanto atendia pacientes na cidade chinesa que é o epicentro da crise. Foi silenciado e acabou falecendo em decorrência do contágio. Daí pessoas que saíam da região passaram a infectar outros através da China e depois turistas em visita ao País espalharam o vírus pelo mundo. Sem essa informação inicial o que seria uma doença local comprometeu a saúde e a economia mundial.
Pastores devem se informar para não sucumbir à maré de informações. Especialmente, as fakenews. Em tempos de redes sociais, teorias de conspiração, contextualizações bíblicas equivocadas, tratamentos malucos, informações sem fontes confiáveis e outros problemas se alastram. Faço parte de alguns grupos de líderes nacionais e o que vemos ser compartilhado como se verdade fosse nos estarrece. Dá a impressão que são adolescentes competindo pra saber quem posta a maior bobagem.
Importante frisar que as próprias informações mudam à medida que as diretrizes se adequam aos novos dados. O Dr. Dráuzio Varela, conhecido médico brasileiro, retirou, recentemente, de seu canal no Youtube um vídeo sobre o coronavírus de 30/01/2020. Na ocasião ele dizia, assim como o presidente Bolsonaro já disse, que era uma pequena gripe e que o número de infectados seria ínfimo. Com a epidemia tomando ares de pandemia, o experiente profissional de medicina alterou seu prognóstico. Em 26/01/2020, neste vídeo, ele afirma que o risco de contágio no Brasil era zero! Neste momento que escrevo se contam 25 mortos e mais de 1.500 casos confirmados.
A ordem, portanto, é manter-se informado e não apenas informar-se!
3) Conscientize seus membros
De posse de informações confiáveis a liderança deve esclarecer seus membros. Nenhum pastor sério quer seus membros doentes ou mortos. É preciso repassar links e textos nos portais das igrejas e nas páginas oficiais, se possível com opinião de especialistas, para que todos sejam conscientizados. Crie mecanismos que permitam que essas informações sejam repassadas de forma que se tenha segurança de que o maior número de pessoas esteja sabendo. Hoje a mídia de massa ajuda exponencialmente o trabalho pastoral neste sentido. Basta querer.
Conscientize seus membros sobre o cumprimento das medidas governamentais. Compartilhe gráficos como esse aí abaixo, que mostra a importância do isolamento social para conter a pandemia. Infelizmente, ainda é o melhor e mais amplo remédio.
As lideranças podem, também, conscientizar seus membros da oportunidade de crescimento pessoal, espiritual e profissional via aprendizado EaD. Diversos sites estão disponibilizando cursos gratuitamente. Tendo um computador, notebook ou até mesmo um celular, tais cursos podem ser realizados e vão incrementar o currículo.
Que tal estimular seus membros a (re)lerem a Bíblia? Bons livros? Louvar em casa? São atividades interessantes para o tempo de sobra que teremos.
4) Use as mídias a seu favor
Os leitores assíduos do blog estão inteirados do quanto temos insistido para que as igrejas se insiram na economia digital. Infelizmente, temos pouco protagonismo ou relevância nesse aspecto. Falo pela Assembleia de Deus brasileira. Poucos canais de Youtube tem audiência que justifique o tamanho de nossa membresia nacional. Ainda se investe 10 ou 20 vezes mais em TV e rádio do que em portais de internet. Geralmente, se entrega tal tarefa a um membro interessado, ao invés de uma equipe de especialistas.
Como não é hora de chorar o leite derramado, pastores e líderes devem usar a crise a seu favor. Quem não tem perfil no Facebook, crie! São 90 a 100 milhões de assinantes no momento. Crie seu perfil no Instagram, Youtube, criem grupos no WhatsApp e Telegram. E se essa sopinha de letras lhe parece estranha, informe-se! Estamos dentro de uma revolução digital e as igrejas já perderam muito tempo no formato analógico de comunicação!
Crie um blog ou insira um no seu portal em que seus membros possam obter regularmente uma palavra pastoral. Seja uma reflexão bíblica, um estudo, um devocional. Que tal um vídeo diário sobre uma passagem da Bíblia? Um estudo sequenciado de um livro? Com a quarentena haverá tempo de sobra para tudo isto. Um bom benchmark (exemplo de caso para se espelhar) é o Facebook do pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes[2], que posta textão e desafia os cânones do marketing digital. Com regularidade suas postagens são curtidas e compartilhadas aos milhares, mesmo sabendo que sua igreja é relativamente pequena. Há algo a aprender com o que ele faz!
Por oportuno, tenho acompanhado pastores de todo o Brasil com suas lives (transmissões ao vivo). Tenho visto alguns problemas e gostaria de relatá-los, fazendo as devidas considerações:
- Muitos pastores fazendo vídeos como se estivessem em seu púlpito. A comunicação via redes sociais muda todos os paradigmas. É preciso mais dinâmica, concisão e objetividade;
- Muitos pastores afetando espiritualidade. Falando em línguas, profetizando, etc. Nada contra a efusão espiritual, mas costuma não repercutir muito bem especialmente se a superficialidade ficar evidente. O público é mais atento e perspicaz e estamos falando pra todo mundo e não apenas para o público evangélico. Neste sentido lembre da orientação paulina em I Coríntios 14:19;
- Transmissões com aspecto de rádio: hino agora, depois palavra, depois hino, e daí por diante, parecem não funcionar muito bem com cultos. O internauta cansa rápido e sai de cena em um toque de tela ou clique de mouse;
- Considere alterar a liturgia a partir das redes sociais. A não ser em casos bem específicos, transmissões ao vivo costumam cansar rapidamente. Diminua a duração ou seus ouvintes irão embora;
- Acompanhe as medições de audiência. Elas indicam o que está dando certo e o que está errado. Habitue-se, ou encarregue alguém, a acompanhar o andamento de transmissões ao vivo. Analise por que e quando sua audiência entra ou sai;
- Nas redes qualidade fala mais alto que quantidade. Prepare-se, portanto, e seja claro, profundo e objetivo. Transmissões ao vivo não prescindem de oração. Antes de fazê-las procure orar e ler a Palavra com antecedência;
- Faça vídeos periódicos para seus membros e sempre nos horários mais adequados (das 13:00 às 22:00h). Sei da exaustão de muitos com esses novos desafios, mas há sempre uma grande quantidade de pessoas navegando e curtindo as publicações.
Por fim, interaja de fato com seus membros. Responda aos comentários. Retorne contatos. Esclareça. Console, ore! Que tal abrir um canal para que você ou outro líder possa atender on-line, em períodos pré-estabelecidos, seus membros?
4) Cuidado com a espiritualização da crise!
Tenho ouvido, lido e visto muita bobagem. “É um castigo pelo Carnaval!” dizem alguns. Outros: “Veio da China, país comunista que, recentemente, destruiu várias igrejas!”. Ainda outro: “Chegaram os tempos de tribulação!”. Tudo isso pode ser levado em conta, mas com a devida proporção (evidentemente, como pré-tribulacionista presumo que não passaremos pela Grande Tribulação).
Analise comigo: Alguém fez algo errado no Carnaval e nós, eu e você que somos evangélicos, estamos pagando por isso? A Coreia do Norte, nação que persegue cristãos mais que a China, não devia estar sofrendo pesadamente por conta do vírus? E os países islâmicos onde não é possível portar uma Bíblia como estão atravessando a pandemia?
Então, cuidado com a tentativa de espiritualizar a questão a tal ponto de fugir dos parâmetros da Palavra de Deus. Ele está irado com o que se faz no mundo. Trará toda atitude perversa a juízo, mas as proporções devem ser guardadas. A AIDS, por exemplo, ainda é a doença que infecta mais pessoas no Brasil[3] e em 2019 morreram duas pessoas a cada dia de gripe H1N1[4]. É inevitável concluir que este mundo está condenado e sendo castigado por seus pecados. Não vai ser o COVID-19 o selo da besta!
A se espiritualizar nessa medida seríamos obrigados a concluir que a Igreja, com o fechamento dos templos, a seca de ofertas que se seguirá e a redução da pompa de templos, etc, está sendo castigada por Deus? É um raciocínio que serve a qualquer pretexto! Portanto, leiamos mais a Palavra de Deus, oremos mais e aguardemos as respostas dos Céus.
5) Adeque-se aos novos desafios econômicos
Infelizmente, a redução de ofertas será catastrófica. Num primeiro momento, com comércio e serviços fechados todos tenderão a segurar suas receitas. O dinheiro que, eventualmente, alguém tenha guardado será sacado a conta gotas. Isto significa que poucos estarão dispostos a contribuir a médio e longo prazo e os caixas eclesiásticos estarão vazios rapidamente.
Se o fechamento, imposto a várias atividades econômicas, para ampliar o distanciamento social e evitar a propagação do coronavírus, perdurar, aí chegamos a um quadro em que as reservas se acabam e as pessoas passarão a não ter dinheiro pra nada. Então, as torneiras secarão de vez. Até lá estimule os membros a ofertarem depositando ou transferindo para as contas da Igreja. É o mínimo e o mais prático a se fazer. Quem sabe mais adiante teremos de ensinar aos membros como ofertar sem salva?
Uma variável problemática são os sucessivos e recentes escândalos envolvendo salários pastorais e problemas afins amplamente noticiados nas redes sociais. Isto fará com que os membros repensem sua liberalidade. A transparência praticada outrora fará toda a diferença.
Em qualquer cenário a ordem é contenção. Os eventos foram suspensos e o mercado de conferencistas já sente o drama. De Norte a Sul as reuniões pastorais orientam pelo estancamento de gastos, suspensão de reformas e construções e supressão de despesas regulares. Não se admire se igrejas em salões alugados forem fechadas, pastores forem demitidos e/ou tiverem a ajuda de custo suspensa. É uma possibilidade generalizada em todo o País.
Evidentemente, estamos imaginando que o problema continue por duas ou mais semanas. Porque se durar dois ou três meses, nem de longe podemos imaginar as dificuldades que se seguirão.
6) Não perca mão da interação!
Em tempos de isolamento imposto pelas medidas necessárias mantenha-se em contato com seus membros. Nunca uma mensagem pelo WhatsApp fez tanta diferença, um telefonema, um e-mail (sim ainda existe e-mail!), qualquer coisa, enfim, que sinalize que o pastor está lembrado dos seus membros.
E estas mensagens tanto podem ser das mais variadas formas, quanto na maior frequência possível. Mas não a ponto de cansar o interlocutor. Objetividade e clareza são elementos fundamentais nesse tempo. Um cadastro de membros atualizado será fundamental!
7) Não perca a esperança e guarde as lições!
Toda essa pandemia vai passar. Foi assim com a gripe espanhola, a peste negra, a gripe aviária, etc. Dadas as facilidades de locomoção de nosso tempo os riscos são imediatos, globais e exponenciais. Mas Deus está no controle absoluto de tudo. Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor (Romanos 14:8).
Esperamos que em poucos dias a situação se normalize. Isso pode acontecer de maneira rápida ou lenta. Não sabemos. Devemos orar para que seja o mais rápido possível. Deus ouvirá nossa oração, terá compaixão de nós e fará sua vontade.
O que não podemos esquecer são as lições dessa pandemia. Como a vida é breve e imprevisível? Há seis meses nenhum de nós poderia prever que estaríamos com templos fechados, sem qualquer perseguição! Como a riqueza se vai tão rápido? O turismo acabou de repente, mesmo com o verão! Como os paradigmas mudaram tão rapidamente? Os grandes shoppings estão fechados e Jesus não voltou ainda! Espetáculos, jogos, viagens tudo cancelado e adiado indefinidamente! As lições são imensas e incríveis. Aprendamos com tão grave crise!
Sobretudo, ponhamos a nossa confiança em Deus!
[2] https://www.facebook.com/hernandesdiaslopes
[2] https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/03/09/aids-e-maior-causa-de-morte-de-mulheres-em-idade-reprodutiva-diz-agencia.htm
[3] https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus-preocupa-mas-gripes-como-h1n1-mataram-duas-pessoas-por-dia-no-pais-em-2019-24222429
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