Era uma vez João, líder de uma pequena quantidade de igrejas na Ásia. Ele se via às voltas com um problema. Sua igreja não crescia no ritmo apropriado, ou seja, não tanto quanto as demais igrejas da região, nem atraía a atenção da coordenação de igrejas da capital. As reuniões promovidas naquele orgão eram balanceadas por quem pudesse apresentar mais votos. Isso! Votos eram dados por pessoas, quanto mais pessoas, mais… votos! Elementar meu caro!
João relutava com o modelo. Ele aprendera que é Deus quem dá pastores a seu rebanho. Porém, suas propostas ficavam sempre em desvantagem. Não alcançavam os… votos! Que fazer? Anualmente, João consagrava seus pastores, passava neste intento algumas semanas em jejum e oração juntos com os responsáveis pelas igrejas que comandava, chegava até a perder alguns quilos. Sua intenção era estar alinhado com a vontade divina. Só que nos últimos anos havia cada vez menos pessoas as quais Deus revelava seus nomes a João e seus ajudadores. E isso o inquietava profundamente. Ele vivia espremido entre a necessidade da obra e não sair da direção divina.
Seu amigo Siló apresentava listas cada vez mais crescentes de pastores na coordenação. Coincidência ou não, suas propostas sempre alcançavam êxito. João percebia como a deferência ao nome de Siló era crescente. Mais gente, mais pompa, mais espaço e… mais poder! A gota d’água é que pessoas em que João prestava atenção em suas igrejas começavam a migrar para a igreja de Siló, diziam entre si que por lá as coisas fluíam. Um eufemismo para consagrações mais rápidas. As coisas não podiam continuar assim.
Que fez João? Parou de orar e jejuar tanto, em primeiro lugar. Fez um curso de estratégia pastoral e liberação de potencial profético. Mudou a dialética um pouco. Que há de ser tanta Bíblia. Irmã Rosinha até lhe havia segredado: “Gosto muito do senhor, mas é muita Bíblia nos sermões. As pessoas querem algo mais prático e tangível. Uma mensagem que lhes fale da realidade palpável!”. Pouco a pouco o perfil das igrejas de João começou a mudar.
Ele começou a indicar muitos novos convertidos para posições importantes. Passou a prestar menos atenção às qualidades éticas e espirituais dos indicados, isto estava eliminando muitos candidatos. Para que ninguém se bandeasse para as igrejas de Siló, prometeu que faria consagrações de pastores cada vez maiores. Com a finalidade de mostrar seu compromisso com a nova realidade, impôs uma cota a seus subordinados. Eles deveriam indicar muitos nomes para consagração da próxima vez, antes da reunião na coordenação!
João começou a perceber um outro efeito colateral. Em virtude das mudanças que ele implementou, passou a ser criticado por alguns dos pastores mais sábios e antigos. Começaram, inclusive, a questionar sua liderança, suas decisões, etc. Para alguns deles ele havia perdido a mão. João percebeu que angariava apoio daqueles neófitos e ávidos por cargos, pois não se lhe opunham visando suas consagrações mais tarde. Alguns até ofereciam ajuda em dinheiro para construções e equipamentos, caros presentes e bajulavam João e sua família.
A região de João entrou pomposa na reunião marcada pela coordenação na capital. Daquela vez seria diferente. E foi. João foi chamado a sentar nos primeiros lugares e foi mencionado constantemente. Havia encontrado a fórmula da fantástica fábrica de pastores. Eles pareciam agora uma linha de produção. Até o paletó, a gravata e os sapatos eram de uma mesma cor, tais quais vasos produzidos na mesma fornada. João queria passar a imagem de unidade e comando.
Porém, enquanto seu ministério se tornava maior, caía sua qualidade, perdia seu sabor, se tornava menos brilhante e espiritual. O azeite de seu castiçal havia se acabado, enquanto esteve preocupado com pompa, poder e reconhecimento. João agora era famoso, produzia réplicas em escala industrial, mas Deus já não era com ele!