Prezados 400 leitores, queremos agradecer a boa audiência de nosso blog na tentativa de ajudar nossos nobres professores e alunos a ensinar a Palavra de Deus. Temos uma boa quantidade de acessos neste tópico, mas mais do que agradecer queremos ajudá-lo cada vez mais. Compartilhe, comente, critique. Sobretudo ore por nós e sigamos.
Iremos desgrudar um pouquinho dos pontos e subpontos da lição, evitando repeti-los. Eles são suficientemente claros e profundos para o entendimento do tema da lição. Iremos abordar alguns aspectos mais importantes e deixar a tarefa de detalhar com os professores em classe.
A lição deste domingo volta a contrastar um personagem importante do Velho Testamento com o Senhor Jesus Cristo: Melquiseque. A biografia dele é pequena. O nome, propriamente dito, ocorre somente duas vezes no Velho Testamento e oito no Novo. No VT temos Gênesis 14:18: “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era ele sacerdote do Deus Altíssimo”. E Salmos 110:4: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque”.
Salém, era a precursora da atual Jerusalém, conforme conta Flávio Josefo, historiador judeu. A palavra Salém é da mesma raiz que shalom, paz em hebraico. Inclusive Jerusalém significa habitação segura ou de paz! Foi Davi quem tomou Salém das mãos dos jebuseus (II Samuel 5:6ss) por volta do ano 1.000 a.C.. Até aquele momento os benjamitas haviam permitido aos jebuseus ali habitar.
O nome Melquisedeque, por sua vez, significa em hebraico: Meu rei é justiça. É a junção de melek [rei] + pronome possessivo + tsedeq [justiça]. Em hebraico o verbo ser é subentendido. Assim se eu quisesse dizer: Eu sou rei, falaria: Ani melekh. Uma construção semelhante é Abimeleque: Meu pai (Abh) + pronome possessivo + melek = Meu pai é rei. A língua grega, desde a Septuaginta ou LXX, optou por apenas transliterar a grafia do nome:
Mas lembramos que o sigma [s] nunca é pronunciado como z. Então a pronúncia em grego é Melquissedeq. No NT o nome ocorre em Hebreus 5:6, 10; 6:20; 7:1,10,11,15 e 17.
Como Melquisedeque surge na história bíblica?
De partida, sugerimos ao professor ler os capítulos 13 e 14* de Gênesis para se inteirar dos fatos que cercam o surgimento de Melquisedeque na história bíblica. Em resumo, como os rebanhos de Abrão e seu sobrinho Ló haviam crescido, eram constantes os choques entre seus pastores na disputa por pastos para os animais. Abrão prevendo um problema maior chamou a Ló e pediu para que decidisse onde iria, afim de separar os rebanhos. O tio tinha a preferência, mas optou por favorecer seu sobrinho. Ló escolheu as verdejantes campinas do Jordão, nas proximidades de Sodoma e Gomorra (Gênesis 13:10,11). Abrão seguiu em direção oposta como haviam acertado.
E, então, Ló foi apanhado no meio de uma guerra regional. Quatro reis lutaram contra cinco e os venceram. Sodoma e Gomorra foram invadidas e Ló levado cativo. Abrão, ao saber da história, arregimenta um pequeno exército de 318 homens, dentre os nascidos em sua casa e vai libertar seu sobrinho. Ele vence a guerra, resgata os escravos e rejeita os despojos. Ia retornando quando encontra com Melquisedeque. Este o abençoa e recebe das mãos de Abrão os dízimos dos despojos (Gênesis 14:19,20). Detalhe: como dissemos há pouco Abrão não ficou com os despojos, mas o texto dá a entender que deu a Melquisedeque o dízimo de tudo!
Don Richardson[1] argumenta que isso era razoável uma vez que Abraão era o representante da revelação especial de Deus através do povo judeu, enquanto Melquisedeque era o representante da revelação geral de Deus a todos os povos. O texto de Gênesis 14:19,20 diz que Melquisedeque era rei e sacerdote. E abençoou Abraão em nome do Deus Altíssimo (El Eliyon). Observe que esta é a primeira ocorrência deste título em relação a Deus e que aquela região a esta altura era extremamente idólatra e desviada da verdade. Mas o Senhor tinha resguardado um remanescente que o elevara acima de todos os demais deuses.
A lição deu alguns detalhes sobre Melquisedeque, falando rapidamente em como ele surge ou desaparece na História. Somente a título de reforço do personagem e dos caminhos insondáveis da revelação divina em meios aos povos antigos, queremos vivamente recomendar a leitura do livro O Fator Melquisedeque, da Edições Vida Nova. Este livro narra fatos surpreendentes sobre povos diversos do mundo e seu conhecimento primário do Deus único e verdadeiro. Aliás, o próprio Abraão, que foi deslocado para Harã e ali chamado por Deus (ele não foi chamado em Ur!) é uma prova desse conhecimento generalizado.
Os objetivos da lição
- Explicar o aspecto tipológico de Melquisedeque – Retornam aqui os conceitos de que falamos lições atrás. Tipo é um evento ou personagem que prenuncia o surgimento ou cumprimento de algo mais adiante. Geralmente se encontra no Velho Testamento. Antítipo é o cumprimento do tipo e geralmente se encontra no Novo Testamento;
- Destacar a natureza do sacerdócio de Cristo – O autor aos Hebreus tenta descolar da mente judaica os conceitos aprendidos e apreendidos no tempo da Lei. É que muitos deles achavam tanta superioridade na Lei mosaica que não admitiam a Cristo ou o relativizavam. Teriam que reaprender sua importância;
- Expor os atributos do sacerdócio de Cristo – Ao mostrar em contraste os detalhes do sacerdócio de Cristo em relação a Melquisedeque, o escritor estaria enfatizando sua superioridade!
Antes de prosseguir sugiro ao professor fazer uma breve análise com os alunos das prerrogativas do sacerdote diante do povo. Ele não era aquele que apenas queimava incenso ou fazia sacrifícios. Ao fazê-lo se tornava um mediador entre Deus e os homens, ainda que como diz o escritor aos Hebreus tivesse que mediar para si mesmo. É importante intuir que haviam vários desses sacerdotes ao longo do livro de Gênesis e dos primórdios da humanidade, até que se instituísse o sacerdócio levítico. Ouçamos Barclay[2]: “A palavra latina para sacerdote é pontifex que significa construtor de pontes: o sacerdote é um homem cuja função consiste em estender uma ponte entre os homens e Deus. De que maneira? Por meio do sistema sacrificial.”
Por que o sacerdócio de Cristo é imutável, perfeito e eterno?
Devemos nos ater à superioridade do sacerdócio de Cristo, mesmo quando tomado por si só, sem qualquer contraste. Falamos dias atrás sobre a eficácia de sua mordomia:
- É algo que se opôs frontalmente ao sacerdócio levítico repetido, lembrem!, dia após dia e uma vez por ano no Santo dos Santos. Podemos divagar em quanto esmero os sacerdotes do AT empenhavam para que sua participação fosse marcante. É próprio da natureza humana e até mesmo certas tradições eram repassadas aos demais postulantes. Cristo de nada disso precisou, pois oficiou de uma vez por todas. Portanto, é imutável porque não pode ser melhorado;
- É perfeito porque não precisa ser repetido. E é tão perfeito que foi aceito por Deus não no tabernáculo dos homens, mas no Céu (Hebreus 9:11). É perfeito porque o sacerdote oficia e se oferece como sacrifício. É perfeito porque o sacerdote vive para sempre!
- É eterno porque válido pelos séculos dos séculos. Aqueles que haviam partido no VT, mas foram justificados pela fé tiveram seus pecados cobertos apenas, afinal eram impossível que o sangue de touros e bodes pudesse perdoar pecados. Vindo, porém, Cristo seus pecados foram apagados e se tornou efetivo para toda a humanidade daí por diante.
Como entender a mudança de Lei entre os sacerdotes?
O autor aos Hebreus fala da mudança das ordens sacerdotais. Precisamos relembrar a esta altura do comentário que diversos outros sacerdotes existiram antes dos filhos de Levi. Esta tarefa cabia prioritariamente ao chefe da família que erguia altares e oferecia sacrifícios por sua casa. É o caso de Jó (Jó 1:5), Noé (Gênesis 8:20), Abraão (Gênesis 13:4), Isaque (Gênesis 26:25) e Jacó (Gênesis 28:18) entre outros. A primeira mudança dessa prioridade veio quando Deus separou a Arão e seus filhos para serem sacerdotes. Ninguém de outra descendência poderia oficiar e foi proibido aos filhos de Israel fazer qualquer réplica do tabernáculo e de seus equipamentos. No tempo de Esdras e Neemias, inclusive, houve alguns sacerdotes que não puderam provar sua ascendência e não puderam oficiar no templo reconstruído (Esdras 2:61,62; Neemias 7:63,64).
Então, do tempo em que haviam sacerdotes em profusão, de qualquer família que quisesse oferecer seu próprio sacrifício até o estabelecimento do tabernáculo houve uma primeira mudança de ordem sacerdotal. Do sacerdócio levítico ao sacerdócio de Cristo houve uma segunda mudança de ordem e daí por diante não muda jamais, pois como vimos anteriormente, o sacrifício é perfeito e imutável. Então, se pudéssemos resumir teríamos: a primeira mudança dos patriarcas à Lei, a segunda da Lei à Graça.
Melquisedeque era um anjo?
É uma leviandade afirmar isso, mas já houve quem tentasse. O texto de Gênesis 14 nos informa que ele era rei de Salém, uma região nas proximidades de Jerusalém. Fosse anjo não haveria de aceitar o dízimo de Abraão. Lembrando que o dízimo naquele contexto era dado em animais, colheitas e coisas semelhantes. Não havia moedas para facilitar as transações como as temos hoje.
Melquisedeque era Jesus?
Essa é outra leviandade. Gosto sempre de comparar o contexto da história de Abraão x Melquisedeque com Moisés x Jetro. A Bíblia afirma que este último também era sacerdote de Deus em Midiã (do contrário não ofereceria sacrifícios com Israel em Êxodo 18:12). Foi ele que acolheu Moisés e ainda lhe fez ser seu genro. E ainda deu valiosas colaborações para a administração do povo. Seria Jetro Jesus? Não! Assim como Melquisedeque um dos inúmeros reis com revelações provenientes dos filhos e netos de Noé. Só isso!
Conclusão
Concluímos crendo que algumas informações valiosas e inéditas para alguns foram repassadas. Faço votos de que os professores possam juntar outros subsídios e providenciar um esqueleto de aula maravilhoso para seus alunos.
Acesse o vídeo com comentários do subsídio no Facebook aqui. Ou assista abaixo no Youtube!
Leia também Deus chamou Abraão em Ur dos Caldeus ou em Harã?
* Desnecessário recomendar a leitura do próprio capítulo 7 de Hebreus
[1] O Fator Melquisedeque – Richardson, Don – Edições Vida Nova
[2] Comentário ao Novo Testamento, Hebreus – Barclay, William, CLIE