Intrigante…
Ontem, domingo, foi o encerramento da EBO, aqui em Maurilândia do Sul, SC. Como já virou tradição, vários obreiros foram consagrados. Os presbíteros já haviam sido escolhidos dias antes. Foram apresentados e a igreja orou por eles. Os evangelistas, idem. Mas, de repente, o pastor presidente foi ao microfone e disse algo, mais ou menos, assim:
– Prezados, estamos caminhando para o encerramento de nossa festa. Hoje, olho para nosso púlpito e vejo o resultado de anos de lutas e vitórias. Crescemos, não apenas numericamente, mas qualitativamente. Crescemos socialmente também. Basta-nos observar a grande quantidade de obreiros profissionais de nível superior, empresários, médicos, advogados, etc. Há muito por fazer, muito trabalho nos aguarda. Esta semana recarregamos as baterias para novos embates. Mas ainda há algo que gostaria de fazer hoje…
A igreja calada, somente ouvindo a colocação…
– Quebrando a sequência esperada, queremos indicar o irmão João Braga para o pastorado. Gostaria que ele se aproximasse com sua esposa, para que pudéssemos orar por eles.
O irmão João Braga se aproxima. Porém, acena, indicando que deseja falar alguma coisa. O pastor não entende. Então, ele cochicha algo aos seus ouvidos. O pastor informa à igreja:
– Antes da oração, o irmão João deseja dizer algo para nós.
O evangelista João se aproxima do microfone, a igreja está atônita para ouvir o que tem a dizer.
– Prezados, paz do Senhor.
– Améééém!
– Quero agradecer ao meu prezado pastor Venâncio Ayres a oportunidade e a indicação. Procurarei ser sucinto. Sei que meu gesto vai parecer estranho nesse momento, mas eu rejeito a indicação. Gostaria de dizer o porquê.
Ouve-se um sussurro. A igreja atônita… João continua.
– Eu não estou preparado para um cargo desta magnitude. Tenho 45 anos, mas falta o peso e a envergadura ministerial para alcançar um degrau a mais. Não me interpretem mal, por favor. Vou lhes dar alguns exemplos. Leio a Bíblia e vejo os apóstolos cheios de dons espirituais. Quantos eu tenho? Não sei. Algumas vezes profetizo, nada mais. Interpretação? Ouço as línguas, mas não tenho condições de interpretá-las. Quase sempre aonde estou não há o tipo de edificação descrito por Paulo. Sinto-me impotente.
A audiência tem calafrios…
– Sobre quem impus as mãos e foi curado, de imediato? Não conheço ninguém. Vez ou outra, quando oro por alguém enfermo, dias depois esta pessoa até agradece na igreja, e só. Vejam quantos pregadores tivemos durante esta semana. Boa parte deles tem uma prédica que eu não tenho. É maravilhoso saber que há quem se aprofunde desta maneira na Bíblia, mas minha corda é curta, e eu não alcanço a água, apenas molho o balde! Infelizmente, não me vejo enquadrado em algumas das passagens bíblicas sobre o ministério.
As bocas, abertas em admiração, seguem as palavras…
– Prodígios? Quais foram feitos por meu intermédio? Estou longe do padrão bíblico para cargos assim. Nem demônios, eu nunca expulsei de imediato. O que direi nas próximas reuniões de pastores? Não tenho sabedoria suficiente para estar entre honrosas menções de nossa Convenção. Quero fazer coisas, mas não me sinto preparado para elas. Gostaria, por exemplo, de dizer a este rapaz que vai saindo agora do culto, pela porta da esquerda, que ele não precisa orar mais por sua mãe, Deus a guardou para Si.
Um telefone celular toca. É o rapaz que se aproxima da porta. Ele atende e desaba em lágrimas, informando às pessoas mais próximas:
– Minha mãe faleceu agora. Meu pai me disse que ela foi embora, sorrindo.
João desce do púlpito, com o microfone sem fio, e continua:
– Gostaria de impor as mãos sobre as pessoas e elas serem batizadas no Espírito Santo, como Pedro ou Paulo faziam. Mas já tentei isto inúmeras vezes e nada aconteceu. Seria como fazer assim – diz, colocando a mão sobre a cabeça de uma moça, no primeiro banco, e olhando para o povo – mas é preciso que aconteça o previsto nos cânones apostólicos.
Ele dá as costas, a menina começa a chorar e falar em línguas.
– Não quero ser mais um pastor, somente para ostentar um crachá ou receber uma benemerência adhoc. Quero ser usado poderosamente. Se não posso ser usado, não obstante sua direção, meu presidente, não quero o cargo. Por minhas qualidades, nem sei como cheguei até o cargo que ocupo hoje…
A igreja começa a chorar. João prossegue:
– Sou seu amigo, meu pastor, mas talvez as emoções aflorem um pouco mais nesta indicação. Gostaria de estar à altura dela, mas não estou. Tenho orado tão pouco. Jejuado tão pouco. Não alcancei o nível de santidade que a Palavra preconiza. Não tenho, por exemplo, visões com regularidade. Por vezes, até mesmo a Bíblia me parece fechada. Eu até tento, mas não consigo.
As pessoas no púlpito, atrás de João, experimentam um quebrantamento inédito. O pastor Venâncio fica ali ao lado, chorando convulsivamente.
– O que dizer do magnetismo que outros líderes exercem sobre a Igreja aonde trabalham? Tenho poucos amigos nas congregações. Boa parte das pessoas me olha à distância. Sou meio antiquado. Gosto mais dos cultos de doutrina do que dos dominicais. Não sei sugestionar pessoas. Aliás, o que sei? Só tenho consciência da minha incompetência. Não, não quero. Por favor, me compreendam.
E desceu, do púlpito.
Uma só palavra e até nodestinizada: EITA!
isso é fato ou é uma ilustração !!! é impressionante ou como dirim alguns: impactante
apz, meu querido.
feliz com seu retorno.
quero confidenciar que escrevi um post inspirado (?) em seu afastamento da blogosfera:
http://wallysou.com/2012/04/21/como-medir-relevancia-influencia-blog-internet/
(caso não considere conveniente, não precisa publicar, pode apagar).
sucesso.
Abs, apz.
Wallace.
Com sinceridade, estou aquém do João Braga.
Que o Senhor tenha misericórdia de mim!!!