Impressões sobre o livro de Atos – Parte 1
Prezados, convidamos as igrejas de nossa área a ler o livro de Atos conosco, durante o mês de setembro. Paralelamente, estamos fazendo as leituras oficiais no livro, tanto aos domingos quanto na semana. Este também tem sido o assunto da doutrina e estamos fazendo perguntas e premiando os que as acertarem na EBD e na doutrina. Os dez mais bem colocados ganharão automaticamente uma caixa de chocolate e a lição do trimestre seguinte.
Gostaria de compartilhar algumas impressões em poucas linhas, pois o tempo é curto. Me considero um pensador, dos mais fraquinhos, diga-se. Gosto de fazer links com realidades opostas, raciocínios históricos, contemplações. Porém, não abro mão do aqui e agora. Sonho e busco realizar dentro das possibilidades. Aos quatorze anos tinha lido a Bíblia toda, ao longo dos anos li mais uma vez. Livros isolados, como Daniel e as cartas paulinas, dezenas de vezes. Atos, porém, exceto aquelas duas vezes, apenas trechos. É um livro singular. E vai de encontro a tudo quanto muita gente ensina. Vamos dividir em tópicos para auxiliar nossos dez leitores…
Governo da igreja
Sabemos como esse assunto é o calcanhar de Aquiles das administrações eclesiásticas do nosso tempo (eu nem o abordei em nossas doutrinas para não criar celeumas). Ao contrário do que se ensina, prevalece na Igreja de Atos o tom congregacional. Sob direção dos apóstolos os discípulos já iniciam decidindo, por voto comum, quem seria o sucessor de Judas. Não custa lembrar que o primeiro grupo tinha sido escolhido pelo próprio Jesus! Em seguida, os primeiros sete diáconos? Escolhei entre vós, homens de boa reputação…, diz o protagonista Pedro (Atos 6).
Coincidentemente, estou lendo o Mensageiro da Paz, da primeira quinzena de novembro de 1959. Lá se vão cinquenta e cinco anos… Nele o douto Pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos escreve:
Então, tudo aquilo que muitas pessoas no Brasil pensam como divino e biblicamente apoiável rui diante desta constatação. O padrão bíblico de governo da Igreja cristã é congregacional nos moldes batistas. Aqui e acolá nota-se a influência do Espírito Santo sobre determinadas decisões. Mas tais se apoiam num período de oração e jejum. No mais, ao contrário do judaísmo, a Igreja é democrática. É com o tempo que a feição muda e o papado se instala, arvorando-se em poder e dinheiro, como disse o escritor acima.
Humildade e comunhão
Outro matiz do quadro pintado em Atos é a humildade e a comunhão na Igreja. Todos tinham tudo comum! Que contradição temos hoje, quando não conseguimos concordar sequer em relação à cor ou modelo da farda de um orgão! Aliás, os próprios orgãos se tornaram fontes constante de discórdia em relação a si mesmos dentro das congregações. Querem ter a prevalência no tempo dos cultos, no espaço do templo, nas apresentações, etc. Pouco do que acontece no espaço dedicado a eles se assemelha à Igreja Primitiva.
Ninguém se preocupa com ninguém. Vivemos uma fase aguda de egoísmo e dissimulação. Não apenas em relação a dinheiro, mas a tudo o mais. Se fosse aplicada a regra de Ananias e Safira, sobrariam poucos crentes vivos!
Missões
Ao contrário do padrão disseminado em nossas congregações (falo de forma generalizada Brasil afora) a Igreja Primitiva não faz missão, ela é a missão. Cada crente é um missionário e tem consciência plena de que não há tempo a perder. Quando estourou a perseguição em Jerusalém (Atos 8) os dispersos iam por toda parte pregando a Palavra de Deus!
Ao contrário, porém, consolidou-se entre nós a figura incrível do preletor de evangelismo pessoal que não evangeliza. Do missionário que só prega no Exterior. Do pregador que só prega no microfone. Da ojeriza à evangelização casa a casa. Da aversão à pregação corpo a corpo. A exceção vai para… as Testemunhas de Jeová!
Simonia
A história de Elimas é um soco no estômago (Atos 8:19ss). A simonia na Igreja Primitiva é um mal a ser arrancado. Hoje é um bem a ser cultuado. Quem não leu as declarações do coordenador do GMUH sobre pregadores bêbados e cachês exagerados? Qual grande pastor já não foi achacado por um grupo, cantor ou pregador, para abrir espaço em sua Igreja em troca de grande soma de dinheiro? E quantos não cederam à tentação? Aqueles suados dízimos e ofertas que poderiam ser gastos em ação social, reforma e construção de congregações são desviados para engordar o caixa de pregadores e cantores inescrupulosos. Que diferença de Filipe pregando ao desconhecido e solitário eunuco (Atos 8:27)!?
Poder e milagres
Havia poder na Igreja em Atos. Milagres, prodígios e grandes maravilhas eram operados pelos apóstolos, a ponto de ser crer que somente a sombra de Pedro podia curar alguém sob o poder de Deus. Hoje damos de ombros diante da necessidade das pessoas. Há, de fato, necessidade de curas e outros milagres entre nós, mas a apatia espiritual é gritante. Pastores abrem mão da Bíblia diante de filmes, do Facebook, do lazer e das novelas. Tudo é motivo para NÃO estar na Igreja. Nos abandonamos à ausência de poder.
Recebo muitas pessoas fazendo queixas de outras. Outras fazendo queixa de Deus. Nunca encontrei ninguém que me comunicasse: Pastor, entrei num caminho de jejum e oração até que Deus use minhas mãos para curar ou que eu pregue mais efetivamente e coisas do gênero.
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