A Igreja e a crítica na internet
Infelizmente, as igrejas tem perdido a guerra da comunicação. Nos acostumamos a falar para plateias a partir do púlpito. As críticas estão se ampliando e temos que procurar nos adequar para não piorar as coisas.
Prezados 100 leitores, vocês sabem o que penso sobre críticas em geral. O blog já se ocupou do assunto inúmeras vezes. A premissa é democrática. O artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso IV, registra: É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Então, toda crítica é bem vinda e possível. O problema é quando a crítica é infundada ou personalista, evidenciando perseguição ao ponto de vista alheio, ainda que feita num perfil identificável através dos dados pessoais. Aliás, este tipo comportamental não é recente. Quem não lembra dos judeus perseguindo Paulo, onde quer que fosse, para lhe denegrir a imagem e a mensagem? Esse post procura se debruçar rapidamente, porém, sobre as críticas na internet feitas contra as igrejas de forma geral.
Já disse em outras ocasiões, que participo de redes sociais desde 1992. Eram os antigos BBS (Bulletin Board System), cujas mensagens eram em texto, não se podia postar imagens e não tinham esse charme e interação toda que as grandes redes sociais hoje possuem. Depois veio o MSN, o Orkut e o resto é história. A igreja sempre esteve na berlinda. Lembro de episódios memoráveis. O que aconteceu é que a densidade de participantes cresceu com o advento da computação de massa e o universo mobile.
Hoje qualquer um tem acesso à web e quer dar sua opinião. As estatísticas oficiais dão conta que temos mais celulares que habitantes. Em março de 2015 eram 283,5 milhões de linhas ativas[1]. Obviamente, aí se contam as inúmeras pessoas que, assim como eu, possuem dois ou mais chips. Mesmo por esse critério é muita gente. A maioria dessas linhas se referem a smartphones que são potenciais computadores. E, de fato, são mais potentes do que estações de trabalho da geração passada.
Crescendo a base de usuários tudo o mais tende a crescer. A velocidade, a disponibilidade, a interação, os recursos audiovisuais e as críticas. Governos, empresas, organizações sociais, igrejas vão todos para a mesma vala comum. Infelizmente, boa parte destas críticas é fundada. E já escrevemos sobre como algumas empresas se especializaram em recolhê-las e analisá-las, fazendo de uma situação adversa um trampolim para a inovação.
As igrejas, que são o objeto deste post, cresceram praticando a comunicação de mão única. O pastor é o emissor e a audiência o receptor. Do púlpito emana a mensagem do representante divino e, praticamente, ninguém se opõe, a não ser em conversas particulares. É um modelo histórico. Alie-se a isto a histórica dificuldade com transparência nas transações, sejam financeiras, decisórias, posturais e até teológicas. Aspectos questionáveis desta interação foram se acumulando. O homem é o único ser vivo do mundo que pode mudar para outra casa, outra escola, outra igreja, por pura insatisfação. Um gato enxotado volta sempre à mesma casa. Jamais veremos um cachorro com as malas nas costas indo embora, insatisfeito com a casa aonde vive. Mesmo famélico, vai ao açougue mendigar os restos e volta abanando o rabo para seu pobre dono.
Portanto, já há alguns anos uma geração informada, inconformada e informatizada, ainda que em grande proporção idiotizada (que o diga o espírito de manada), deseja expor sua opinião, abrindo uma via onde não havia. É claro que os problemas surgiriam. Porém, é o tipo irreversível de ocorrência. Não há muito o que fazer, senão aprender a conviver com a variável. Para fazer frente a esta “nova” situação igrejas precisam reinventar seu modus operandi.
Todos nós devemos estar a par dessa nova realidade. Ela traz oportunidades e riscos enormes. Confesso que me sinto assustado quando uma frase minha postada no Facebook alcança 200 likes em questão de minutos. Nunca preguei para uma igreja com mais de duas mil pessoas, mas este pequeno blog recebeu, em 2016, 157.000 visitantes únicos. Não sei se você é bom de contas, mas este número quer dizer que eu interagi de alguma forma com 430 pessoas diferentes. A cada dia! E se contarmos os visitantes recorrentes aí as coisas se tornam alarmantes.
Mas não passei incólume às críticas. Desde aqueles que não entendem o que escrevo, quanto àqueles que discordam do que penso. Conheço pessoas que visitam meu blog ou perfil somente para se inteirar do que escrevo. Não posso impedi-las, nem impedir seu juízo de valor sobre mim. Sou uma pessoa passível de questionamento. Como pastor, e mesmo não dependendo financeiramente da igreja da qual faço parte desde que nasci, sou uma pessoa pública e não posso fugir do escrutínio generalizado.
Há, por outro lado, um contingente jovem que nasceu na era da sociedade da informação. As pesquisas estão disponíveis para eles de maneira impensável há 10 anos. Procuram se informar, ainda que em pitadas como é característico hoje em dia (lideranças pinçam pitadas em Bíblias de estudo, que dirá a membresia?). Mas há grupos bons, de estudo mais aprofundado, que estão questionando determinadas práticas e até discordando substancialmente de outras. Usos e costumes, por exemplo, é um dos flancos que está sob ataque no momento.
Mesmo não sendo desejável viver em função das críticas, a liderança de todos os níveis precisa estar atenta aos questionamentos. E há uma notícia pior: Precisamos estar preparados para o seu aumento! Eu lembro que anos atrás uma criança de três ou quatro anos, cujos pais recebiam uma visita em casa, ficava escondida por trás de uma porta ou algo assim. Hoje se apresentam, conversam, perguntam. É um processo irreversível.
Igrejas há no Brasil e fora dele que estão implementado ações bem sucedidas. Como observador da cena evangélica, estou razoavelmente informado a respeito. Em muitas delas há canais diretos, com adequado feedback. Noutras há todo um staff cuidando da comunicação para que o ruído seja o mínimo possível. E é imprescindível intensificar a transparência. Sem ela se amplia a famosa rádio patrão. Para o bem ou mal, feliz ou infelizmente, não podemos mais ser democráticos apenas na arrecadação!
Leia também Por que não gostamos das críticas? e Os homens sim e os homens não
[1] https://www.tecmundo.com.br/anatel/80433-brasil-tem-283-5-milhoes-linhas-celular-ativas.htm
A internet é uma ferramenta muito útil, porém tem sido utilizada por muitos como um veículo para se propagar o mal. Seja perseguindo, difamando ou expondo pessoas, tudo por conta de ideologias e crenças diferentes, em muitos casos. O respeito tem deixado de permear as relações dando lugar as ‘guerras declaradas’.