995 a.C., 15 de nisã
15/nisã | 06:45h | Via luz, muita luz, não sentia seu corpo. Percebeu, estava morto… Assim partem o corajoso e o covarde. O que aproveitou a vida e o que desprezou os próximos. O que no afã de satisfazer o ego embotou os sentimentos e os que tiveram a sensibilidade de um poeta. O poderoso e o sábio. Às vezes, não dá pra ser as duas coisas ao mesmo tempo. Urias não percebeu que já havia morrido há muito… |
15/nisã | 06:30h | A flecha certeira obstruía o bombeamento de sangue. Arfara por alguns minutos. A visão turvava, via os demais como sombras passarem. Agora cada detalhe fazia sentido e prendia a atenção. A mão estendida pedindo ajuda, mas não havia médicos à disposição. Lembrou da mulher e de como deveria ter estado ao seu lado da última vez. Perdera a noção de prioridade em troca da morte, como sucede a tantos guerreiros. |
15/nisã | 06:05 | Primeiros minutos… Oh! Não. Tentou desviar, a seta vinha em sua direção. De repente, a dor, rasgando o peito. Entrara em sua ilharga. Como não pusera o escudo à frente? Tanta experiência e aquele descuido banal!? Auto-confiança!? Quantas vezes já não vira outros soldados tombando de maneira miserável? |
15/nisã | 06:00h | A batalha era uma surpresa contra a cidade fortificada. Durante toda a noite, o exército havia se preparado. O comandante recebera a carta, contendo ordens expressas do rei: Ponham este homem à frente!. Ao que tudo indica ele não era a ponta de lança da operação de guerra, mas um comandante na retaguarda. Entretanto, provara seu valor para galgar aquele posto. Não era novidade ir à frente, não questionara seus superiores, não pressentira a armadilha. |
14/nisã | 12:00 | Termina o almoço. Urias está ansioso para voltar à batalha. O rei o chama, entrega-lhe uma carta e pede para repassá-la a Joabe. Urias está feliz pela confiança, esquecera o presente, sua mulher, os seus. Não percebia que a guerra era um evento, sua casa era a vida. |
14/nisã | 06:00 | Os comandantes do palácio repassam a ordem enfática: “Almocem e sairão em seguida para o campo de batalha. Lutarão amanhã logo cedo. Quem quiser ir para casa rever sua esposa e filhos, vá logo!”. Urias não foi como no dia anterior. Sua vida estava embebida na batalha. Lutar era seu alvo, tornara-se avesso às banalidades. |
13/nisã | 10:00 | Davi emenda: “Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei”. Urias fica feliz de poder voltar à guerra. O mundo da paz não lhe interessa. Ao invés de ir para casa e voltar no dia seguinte, prefere ficar por ali, gabando-se dos seus feitos. |
13/nisã | 10:00 | Urias deita à porta do palácio, como se alguma batalha tivesse de ser travada ali. O rei o chama novamente. Urias se intriga. O que finalmente quer o rei? Davi repreende-o: “Não vens tu duma jornada? Por que não desceste à tua casa?” Urias retruca: “A arca, e Israel, e Judá ficaram em tendas; e Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados no campo; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber, e para me deitar com minha mulher? Pela tua vida, e pela vida da tua alma, não farei tal coisa”. Davi percebe que Urias menospreza seu relacionamento em detrimento do objetivo. Pouco a pouco Urias tornara-se um radical. |
13/nisã | 08:00 | Chega a Jerusalém. Vai direto para o palácio. Banha-se no alojamento, apresenta-se ao rei. Ele divaga: “Como vai Joabe? Como vai a guerra?” Urias detalha com ímpeto cada investida. Davi vê sangue em seus olhos, conhece bem este sentimento. Por fim, pergunta: “Já desceste à tua casa, para ver tua mulher?” Urias dá de ombros. Davi lhe dá um presente e despede-o, recomendando mais atenção aos seus. |
12/nisã | 12:00 | Almoça e parte rumo à Jerusalém. as flores crescem no campo, mas ele nem teve tempo de notar, tal a expectativa. Coisas pequenas não podem trair a atenção de um grande guerreiro. |
12/nisã | 10:00 | Urias recebe o chamado de Joabe. Surpreende-se, mas não questiona. Ao chegar na tenda do comandante, ouve: “O rei deseja ver-te!” Ora, pensou, deve ser alguma comenda. Deixe-me ver por qual das últimas vitórias a receberia? O coração grávido de louvores. Para um soldado ser glorificado por seus pares é a suprema honra. |