A lição desta semana trata da oposição sofrida por Zorobabel, na reconstrução do Templo. Os que conhecem a a Bíblia sabem quanto sofrimento os remanescentes passaram para reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo, que fora queimado por Nabucodonosor anos antes. Foram dias de desconsolo, necessidades e avanços, até que tudo foi concluído. Sugiro a (re)leitura do livro de Neemias a todos os leitores.
Porém, há uma grande e conveniente confusão quando se usa o episódio para comparar a algo corriqueiro na Administração Eclesiástica. Falo especialmente pela Assembleia de Deus, cujo modelo é episcopal e não congregacional – mas ambos os modelos vão no mesmo caminho. É que aqueles que ponderam, sugerem, divergem de uma determinada visão, por vezes, distorcida da realidade ou, simplesmente, desejam estar melhor inteirados para opinar, são tomados por Sambalates, Tobias ou samaritanos.
Muitas igrejas se acostumaram à uma administração quase divina, centralizada nos altos escalões, inquestionável e tida como sempre correta. Até que a realidade se impõe e as consequências desastrosas aparecem, porque como humanos os líderes também erram. Não é raro, por exemplo, o casuísmo de algumas decisões, feitas sob medida para favorecer a liderança ou influenciadas por interessados que gravitam ao redor do topo. Oportunismo, nepotismo, simbiose política, simonia, falta de senso de oportunidade são alguns dos outros problemas que trazem uma pecha imediata sobre aqueles que questionarem tais práticas.
Com o advento das redes sociais muitas dessas falhas e até os pecados de sacristia que ficavam restritos a determinadas regiões do País, agora se tornam de conhecimento generalizado. E eles revelam uma similaridade comprometedora. As escaramuças do poder eclesiástico são muito parecidas e visam, via de regra, preservar o status quo, trazer blindagem aos erros e azeitar a engrenagem que esmaga a discordância. Em suma, o alvo é o meu reino e não o reino de Deus! E ai de quem se opuser.
Na ausência de uma desculpa razoável para decisões atrabiliárias, desconexas e injustas atribuem o burburinho aos Sambalates da congregação. Pura distração na maiorias da vezes. Não apoiou o candidato oficial, discordou da aplicação de determinada verba ou até de uma interpretação bíblica forçada, ponderou sobre uma indicação descabida, expôs uma opinião, com certeza é um Tobias, querendo atrapalhar a obra. Só não fica claro muitas vezes a obra de quem?
Já analisamos aqui o episódio dos homens não (link abaixo). Na ocasião foi demonstrado como inúmeras grandes empresas americanas faliram, pelo simples fato de que seus executivos nunca ouviam não! As coisas sempre iam bem, de vento em popa, até que veio a falência. Como líderes devemos valorizar a oposição, aqueles que nos dizem um não sincero e respeitoso e que discordam de forma argumentativa e razoável.
Felizmente, um público esclarecido está cada vez mais atento e a margem de manobra tem diminuído significativamente. Às lideranças se impõe serem cada vez mais transparentes, objetivas e sinceras nas decisões, sob pena de ficarem desmoralizadas. É o que está acontecendo em larga escala, pastores antes tidos como referenciais para seus membros, enfrentam a realidade dos fatos e o estoque de desculpas se esvazia.
Na própria história, narrada nos livros de Neemias e Esdras, vemos questionamentos sendo levantados por Neemias, Esdras e Zorobabel, diante de reis poderosos como Ciro e Artaxerxes. São reivindicações legítimas e bem embasadas. No capítulo 2 de Neemias, o servo do Senhor impressiona propositalmente o rei para que a obra avance em Jerusalém. De forma, que percebemos a diferença entre oposição e posição ou opinião. Oposição é quando se tenta atrapalhar uma decisão de outrem, sem qualquer razão. Opinião é quando demonstramos nossa posição sobre determinado assunto.
Em 90% dos casos nem é Sambalate, muito menos Tobias, e os samaritanos passaram longe. É puro inchaço carnal da liderança.
Leia também: Os homens sim x Os homens não!