Evangelismo pessoal: Que bicho é esse? Se come assado ou guisado?

Nasci na Assembleia de Deus. Verdade que eram outros tempos. Lá se vão 45 anos. A partir dos 13, 14 anos evangelizava todo domingo. Naquele tempo nossa Convenção não tinha um trabalho específico para a juventude em todas as igrejas, somente a Sede e algumas outras. Saíamos com a chamada Campanha Evangelizadora, entre velhos e mulheres. Todos num mesmo grupo. Cumprindo o Ide. Não havia treinamento, cursos de evangelismo pessoal, o voluntariado pautava as ações, mas seus efeitos são conhecidos.

Nossa igreja em Bonfim I tinha um corneta que ecoava nas manhãs de domingo. Pregávamos com outros que hoje são jovens conosco. Hoje não é mais possível. Durante a semana íamos aos chamados cultos relâmpago, das 18:00h às 19:00h. Eram tempos maravilhosos. Assim como hoje, alguns jovens não iam. Acontece. Mas a maioria de nós estava presente. Ninguém ficou doente, nem com problema na coluna, nem desorientado, pelo contrário, muitos daquele grupo hoje são pastores, dirigentes de Círculo de Oração, líderes dos mais variados na igreja. Tínhamos tempo para namorar, passear, tomar um sorvete com os amigos, pescar, caçar, tomar um banho de rio, ir à praia, enfim, tudo que um jovem evangélico pode fazer na vida. E ainda sobrava tempo para fazer a obra do Senhor. Hoje o jovem não tem mais tempo pra nada.

A Assembleia de Deus nasceu e cresceu evangelizando. E isto num tempo que tudo era mais difícil. Não havia rádios, nem TVs, nem internet, nenhuma das facilidades modernas. Mas nossos pioneiros estavam sempre dispostos levar a palavra de Deus aonde quer que se encontrasse alguém. Hoje podemos evangelizar no Facebook, no Twitter, no e-mail, nos blogs. Mas, sem generalizar, não queremos. É triste.

Era tradição, por exemplo, nos aniversários de órgãos evangelizadores, realizarmos cruzadas e outros trabalhos evangelísticos. Esta tradição se perdeu. Se já não atraímos tantas pessoas às praças, se o clima não ajuda, se há qualquer dificuldade pontual, podemos fazer uma evangelização em massa com nossos perfis. Mas quantos querem? Há muitos que tem vergonha até de dizer e parecer crentes na grande rede! Custa-me entender, portanto, como um orgão evangelístico aniversaria e NENHUMA ação evangelística é proposta durante o período.

Eu gostaria, sinceramente, de estar errado ou enganado. Lutei, quando pastor em determinada área, para que todos os orgãos evangelísticos ao aniversariar trouxessem uma ação neste sentido. Aliás, insisti até com os orgãos de louvor. E muita gente ficou chateada comigo, por isso… Nos bancos de seminário nós aprendemos, na matéria Administração Eclesiástica, que uma das quatro funções da Igreja é a kerigmática, que tem a ver com a proclamação do Evangelho. Se não anunciamos que nos resta? Ficar entre quatro paredes enquanto o Diabo faz suas vítimas nas ruas? Parece conveniente, aliás, suspeito ser essa a premissa de muitos crentes.

Não ignorem o dia em que alguém lhe perguntar: O que é evangelismo pessoal? Ou ter que recorrer ao Google para encontrar a definição. As fotos amarrotadas vão tentar explicar para uma nova geração evangélica que não vê oportunidades o que aconteceu. Eu previa isso há muitos anos, quando secretário geral do orgão de jovens de nossa Convenção, alertava aqui e acolá. Chegou o dia, pasmem!, em que numa determinada reunião um candidato a missionário desdenhou do evangelismo pessoal! Se há algo que denuncia o espírito do nosso tempo é a indiferença com o método bíblico deixado por Cristo, seguido, aliás, pela Igreja Primitiva.

Almas tem, está faltando pescador! Ninguém venha me dizer que o método está ultrapassado, que é isso ou aquilo. Falta criatividade e ação! Os Testemunhas de Jeová mantém o maior e melhor portal da internet cristã (e não estou julgando sua ortodoxia), enquanto não arreda pé do evangelismo pessoal, não só aos domingos. Crianças, adolescentes, adultos e idosos saem todos juntos a falar de suas verdades. Até os espíritas estão em nossos sinais de trânsito arrecadando dinheiro e alimentos e espalhando suas crenças. Os católicos estão realizando concentrações! Diversos outros grupos evangélicos estão utilizando as mais diferentes estratégias evangelísticas. Enquanto nosso pioneirismo se perdeu nas brumas do tempo…

Tristes tempos!

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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12 Comentários

  1. Miriam Oliveira disse:

    É verdade tudo que o sr colocou, eu tive um dirigente de campanha que ele tinha um projeto de colocar um carrinho c auto falante e o pastor não se interesso, a verdade é que todos dizem ser adepto de missões, mas vc não vê apoio nenhum já tenho 9 anos de campanha e sou testemunha, se vc tiver alguma opinião piorou é que eles não acatam, certa vez eu era secretária e eu disse era bom que no discipulado já fosse encaminhado para a campanha após a formatura mas o pastor não concordou enquanto vc ver por aí tantas campanhas mirradas que não tem ceifeiros, eu particularmente hoje estou na idade no condor e Deus sabe e me conhece evangelizo no trabalho com muito prazer inclusivo Deus salvou uma alma para honra e glória fora outras que saíram chorando de lá carente de uma palavra, o evangelismo não deve só se ater aos domingos e sim a cada minuto da nossa vida.

  2. Alexandre Tokiwa disse:

    É verdade pastor. …eu dou muitas palestras de missões por aí, e o que acontece é que os crentes de hoje em dia não sabem nem pelo menos o conceito de missões, em contrapartida são muito bons em cantar “eu quisera ir ao campo missionário” e recitar a Grande comissão. …muito lindo isso, porém só teoria e prática (???????????).

  3. GENIVALDO disse:

    O tempo passou e tudo caiu no esquecimento. Sem esquecer que cada pastor tem a sua responsabilidade na condução da igreja para dedicar-se a evangelização, creio que as megas igrejas tem atraído para dentro de si e fomentando isto de tal maneira que os crentes entendam que estão pagando para que outros façam o seu trabalho.

  4. Williane Pereira da Costa disse:

    Pastor, concordo muito com o senhor. Cada vez que um(a) irmão(a) fosse louvar um hino sobre missão, e tivesse o prazer de praticar, sem dúvidas tudo seria muito diferente, porque isso acontece muito e em todas as igrejas. Louvo a Deus pela sua vida, pois os jovens de Desterro tinha um pastor que incentivava muito, e até com a gente saía ao campo plantando a semente nos corações.

  5. Dalardier,

    Saiba, também tenho recordações do tempo em que era mais jovem e, aos finais de semana, saía em grupo para evangelizar pelas ruas do bairro. Recordo com saudosismo, mas – não digo que seja seu caso – não me deixo prender por essas lembranças boas.
    Naquela época, como você disse com pertinência, não havia as facilidades da tecnologia da comunicação que existe hoje, e Jesus Cristo salvava vidas através do trabalho corpo a corpo.

    Aos 50 anos, a minha disposição para falar de Cristo continua a mesma, mas o meu corpo não corresponde da mesma maneira que tinha 17, então, oro e peço a Deus oportunidades adequadas para minha condição física em que estou agora; e as ocasiões favoráveis surgem diante de mim. O pedinte de rua, que leva um alimento e ouve sobre o Salvador; , o segurança do hospital, que até veio ao meu perfil do Facebook; a doutora do hospital, que até trocou número de telefone com minha esposa… E assim a minha vida segue.

    Quanto aos outros irmãos e irmãs, que segundo meus olhos não estão ocupados fazendo evangelização, por experiência própria, aprendi que minha visão é limitada e faz com que meu coração me engane. Eu aprendi com o erro Elias. O profeta estava acossado, talvez até deprimido por causa da perseguição religiosa produzida por Acabe, Jezabel e adoradores de Baal, e orou a Deus: “só sobrou eu aqui, os outros se curvaram a Baal”. A resposta divina foi uma reprimenda e o aviso do fim de seu ministério.

    Digo isso, porém, vendo que hoje o Senhor ainda trabalha pelo método de 30 anos atrás e também por meio dos recursos modernos que temos acesso. Observo, aqui na minha região, que o Espírito move a juventude para evangelizar! Tenho o prazer de ver jovens trazendo colegas de escola à igreja, sem que precise ser motivados pelo pastor ou pais. Glórias a Deus!

    Abraço.

    E.A.G.
    http://belverede.blogspot.com.br

  6. Miqueas Cipriano disse:

    Graça e Paz!
    É impressionante como o tempo vai passando e, pouco a pouco vamos mudando e o que fazia-mos já não faz mais sentido. Hoje temos mais ferramentas que ontem, porém, infelizmente não temos a mesma disponibilidade. O que vou descrever agora passa paralelo a postagem, que é a disputa por território e não por almas. Em cada esquina surge uma bodega com nome de Igreja, e os autênticos “Evangelistas” sumiram nas aguas do diluvio da conformidade, restou alguns poucos da família de Noé que ainda evangelizam.

  7. Heury Borba disse:

    Esta é uma triste realidade de nosso tempo!
    Não dá nem pra contestar, embora ainda existam uns poucos remanescentes que continuam a proclamar as Boas Novas, porém se comparados com a grande massa que hoje se dizem crentes assembleianos, passam quase desapercebidos nos fazendo as vezes a quase generalizar. Triste é ver em alguns lugares órgãos de evangelismo que não evangelizam, onde o foco é a oração, semestrais e aniversários. Precisamos voltar à nossa principal Missão que é pregar o Evangelho.

  8. Edinaldo Bernardino disse:

    Verdade pastor, apesar de não ter vivido no seu tempo, ainda em minha humilde congregação onde me converti alcancei o que poderia chamar de remanescente que se doava em prol do evangelismo. É lamentável que parte de nossos líderes atuais de fato parecem estar conformados com a situação. Peço a Deus que possamos mesmo com a realidade vivida neste dias, que possamos ser evangelistas, ainda que individuais, mas não genhamos perder a oportunidade de cumprir esse ide que nos está proposto.

  9. Dílson souza disse:

    Evangelizei por muito tempo na minha infância, adolescência e juventude. Hoje as 40 anos me sinto se fato parado, não evangelizo mais. Muita coisa mudou e com o passar do tempo algo vai acontecendo com a gente que vai nos acomodando. Preciso voltar a fazer o que sempre fiz e amava fazer: O evangelismo porta à porta.

  10. Carlos Maciel disse:

    Gostei muito do seu post. Gostaria de receber atualizações, pois eu estou procurando por criar texto profissional. Parabéns

  11. Maria Aparecida disse:

    Infelizmente não vimos mais um preparo a esses que até querem e se esforçam para saírem aos domingos e até uma oportunidade que tem de discutir sobre o evangelismo,como está realmente difícil saímos para evangelizar e vimos situações que não podemos fazer nada a esses que são um caos no campo, ao aceitar o evangelho eles são colocados logo a cargos e sem mesmo saber o que é o verdadeiro evangelho fazem da forma mas fácil e esse fácil está se tornado difícil. Precisa-se de um preparo maior para pegar no arado não é de todo jeito.

  12. Claudio disse:

    Muito bom o artigo meu pastor ❕ quero ater-se ao meu setor onde alguns anos aqui não e agora no atual presente não temos tido apoio para mudanças e novas metodologias ❕ a resposta e sempre a mesma não não não ❕ as campanhas aqui estão se acabando algumas nem mais existe na prática ❕ pontos de pregação se fecharam ❕ a igreja não se envolve os obreiros e direção local não dão a mínima ❕ a correria e preocupações e pra quando e festa para sair bem na foto para mostrar ao alto clero ❕ quando passar a festa o órgão oficial de evangelização da igreja volta a ter 20 crentes e nos domingos sai 8 ou 10 ❕