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Eram línguas de homens? Parte 2

Línguas estranhas

Línguas estranhas

Nobres 60 leitores, a primeira postagem sobre as línguas de Atos 2 rendeu alguns comentários. Pretendo falar sobre eles agora. Não esgota o assunto, mas dá alguma massa crítica.

Iniciemos com o jogo com as palavras gregas. Já trouxemos um outro artigo aqui no qual o autor pensava estar fazendo um grande serviço ao cessacionismo, na verdade era o contrário. É que em Marcos 16:17 Jesus prometeu que seus discípulos falariam em novas línguas. Leiamos esta última frase em grego:

glôssais lalêssussin kainais Marcos 16:17 em grego

 

De fato, neós se refere a algo novo no sentido de nunca visto, já kainós é algo novo segundo uma linha de raciocínio temporal. Uma nova garrafa numa linha de produção seria kainós e não néos. Porém, essa constatação, por si só, não define a questão. Primeiro, kainós em relação a línguas estranhas só ocorre aqui. Segundo, o termo ocorre em contextos que desfavorecem tal interpretação. É o caso de Mateus 13:52. Nova criatura em II Coríntios 5:17 é kainós!

Seguindo em frente, uma boa regra da hermenêutica é a comparação entre ocorrências de termos correlatos. Eu selecionei os versículos nos quais ocorre a palavra língua com significado afeito ao assunto em pauta. Eis aí:

  1. Marcos 16:17, novas línguas
  2. Atos 2:3: E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo
  3. Atos 2:4: e começaram a falar noutras línguas
  4. Atos 2:11: todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus
  5. Atos 10:46: Porque os ouviam falar línguas
  6. Atos 19:6: e falavam línguas, e profetizavam
  7. I Corintios 12:10: e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas
  8. I Corintios 12:28: variedades de línguas
  9. I Corintios 12:30: Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?
  10. I Corintios 13:1: AINDA que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos
  11. I Corintios 13:8: havendo línguas, cessarão
  12. I Corintios 14:5: E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação
  13. I Corintios 14:6: E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria?
  14. I Corintios 14:18: Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos
  15. I Corintios 14:22: De sorte que as línguas são um sinal
  16. I Corintios 14:23: Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?
  17. Corintios 14:39: Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas.

Fica claro nos vários contextos citados (e vocês poderão ler com mais calma as referências) que as línguas faladas pelos discípulos, ao menos inicialmente (já pontuamos como, para fins de impacto, depois foram usados para interpretá-las nas próprias línguas dos visitantes), não são línguas de homens.

Outro detalhe que alguns intérpretes esquecem é que as línguas sempre ocorrem, a partir de Atos 2, em contextos correlatos com os demais dons. O que dizer de algo maravilhoso como I Corintios 14:6? “E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina?”

Por que tais intérpretes cismaram com as línguas? Por causa dos excessos? Ora, ora, quantas falsas interpretações surgiram no estudo bíblico e ninguém abandonou a Bíblia? Não esquecerei a tentativa forçada de relativizar os dons como manifestações de habilidades dos crentes na Igreja.

Já falamos em outra ocasião que um cessacionista pode até defender sua tese, só não pode fechar os olhos para a necessidade das pessoas. Duvido que numa igreja que não crê na atualidade dos dons não haja alguém doente precisando de cura, manifestação de profecia para conforto ou exortação, operação de maravilhas para solução de problemas humanamente impossíveis!

O que acontece nessas igrejas é acomodação com as coisas do Espírito Santo. Contrariando, aliás, recomendação do próprio Paulo em I Coríntios 12:31: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente”. Detalhe: no contexto desta passagem ele incentivava a interpretação das línguas. Ele se referia ao privilégio do ouvinte da profecia, ao contrário do dom de línguas que priorizava quem fala. A coisa é tal que se pegássemos os capítulos 12 e 13 de Coríntios, e esquecêssemos todo o Novo Testamento, e os estudássemos adequadamente jamais seríamos cessacionistas.

Outro argumento contrário bastante utilizado é que Paulo recomenda que o falar em línguas seja acompanhado de interpretação. Está escrito em I Coríntios 14:27,28: “E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus”. Mas há três questões aqui: Primeiro, no mesmo capítulo Paulo exorta: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas (I Corintios 14:39)”. Segundo, o contexto da passagem era a desordem no culto em Corinto. Todos queriam falar em línguas e atrapalhavam o culto, como acontece em algumas reuniões pentecostais. Terceiro, como os dons são uma recomendação para todos os salvos, porque os tais críticos não buscam interpretar? Dão de ombros apenas? Será que os meninos não andam falando somente em línguas por que está em falta adultos estudiosos para interpretá-las? É um caso a se pensar.

E ninguém venha forçar a barra dizendo que a moderna pregação é a profecia. Lá em Jerusalém, na mesma Igreja Primitiva, havia pregação e profecia! O próprio Paulo era um orador e também profetizava! Ele mesmo tratou de diferenciar uma coisa da outra em I Corintios 14:6, versículo citado acima.

Leia aqui a primeira parte do artigo.

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